terça-feira, 20 de setembro de 2011

"Melancholia", 2011, Lars Von Trier



Há um ‘Grande Plano’ para a vida na Terra?

Lars Von Trier, o iconoclasta.

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É o dia do casamento de Justine (Kirsten Dunst). Ela está noiva de um rapaz muito charmoso e devoto, tem uma carreira promissora e, aparentemente, uma bela família. Sua irmã, Claire (Charlotte Gainsbourg) junto a seu marido, John (Kiefer Sutherland) prepararam-lhe uma festa de arromba para comemorar as bodas tão esperadas.

Porém, há algo de estranho no ar.

Justine encontra-se completamente perturbada e angustiada. Entre uma dança e um brinde, Justine sente a necessidade de se retirar, de sentir o ar fresco e de refletir sob a luz das estrelas...

Justine está diante de uma decisão que marcará sua vida até o fim. Escolheu, portanto, o momento perfeito para uma intensa sessão de contemplação e desespero.

Claire, por outro lado, é uma mulher serena e tranquila. Casou-se com um homem brilhante que lhe deu um filho maravilhoso.

Ainda assim, algo também a desconcerta tremendamente.

Está nos jornais – Um planeta, de alcunha Melancholia, foi descoberto detrás do sol, escondido. Sua rota, segundo os cientistas, está apontando justamente para o 3o planeta do sistema solar. A previsão é a pior: Um choque inevitável, e assim, o fim dos tempos.

Justine passa a querer 'entender' tal catástrofe.

Claire quer somente correr dela.

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Lars Von Trier e os sentidos.

Melancholia dialoga com a percepção do homem.

A visão sobre si, sobre os outros e o mundo.

E, talvez, o futuro.

Lars Von Trier, o Existencialista?

O Político?

O Sátiro? Ou Sádico?

Dias atuais, dias esses de insegurança, medo e medidas desesperadas. Os tsunamis, o aquecimento global e ainda os eternos enriquecimentos ilícitos. Irã, Israel e a Palestina. A economia americana ‘going down the drain’ e, assim, 15% dos cidadãos americanos atingindo a linha da pobreza.

No Brasil, o preço da banana ultrapassa o valor praticado em Nova York..

É, de fato, o fim dos tempos.

O que estamos fazendo com nossas vidas......?

As protagonistas, então, exibem duas formas de existir: para-si, e para-os-outros.

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Justine & Claire tem algo em comum – Ambas teriam plena capacidade de usufruir de uma vida farta, empreendedora e feliz. Porém, enquanto Claire permanece alienada - fechada numa espécie de microcosmo, isolada do mundo, de costas para todos, numa vidinha à três, tacanha e quase primitiva, Justine resolve eclodir para o mundo, resolve conceber o Grande Plano, o sentido de sua vida, e assim sendo, o sentido da vida na terra.

Uma, luta desesperadamente para salvar seu filho; aquele que dará, supostamente, continuidade a uma espécie.

A outra questiona a própria continuidade em si.

Questiona o impacto dos outros sobre si e vice-versa.

O olhar dicotômico de Lars Von Trier: Estamos todos deprimidos? Deveríamos estar? Ou este quadro maníaco que se encontram todos, inclusive Claire, é a solução..?

A salvação...?

O deprimido não vê sentido em nada.

Melancholia é quase uma ópera - De fato, o planeta caminha para um lugar obscuro.

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Assim como Tarkovsky, Lars Von Trier, é alguém que parece ter nascido para expor minuciosamente algumas experiências restritas aos homens. De fato, é visto por alguns como um sádico, alguém que faz das cenas bizarras, dos momentos dolorosos, uma via de conexão entre ficção e realidade. O cinema de Lars Von Trier tem um propósito claro – quase que desenhar o suplício, o tormento e a angústia de seus personagens, necessariamente deixando alguns pontos, nunca discutidos, muito, muito claros. Os filmes servem apenas como forma de discutir teorias de várias áreas do conhecimento através da dor destes personagens.

Dançando no Escuro, Dogville & Anticristo dispensam explicações.

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Kirsten Dunst, contemplada com o prêmio de Melhor Atriz em Cannes, construiu uma personagem profundamente deprimida com louvor. Sua falta de conexão com o mundo impressiona. A apatia, a desmotivação e a sensação do ‘Nada’ (Sartriano) deram a Justine uma coerência filosófica indescritível...

Charlotte Gainsbourg foi menos exigida em Melancholia do que em Anticristo. Contudo, sua Claire, ao desconstruir o estado de alienação total, promove cenas dramáticas de uma delicadeza ímpar. O descobrimento da vida à beira da morte - lindo.

Lars Von Trier transformou um "filme-catástrofe" num drama enxuto e contudente.

Cada plano, cada atriz e cada momento são repletos de pensamentos, dúvidas, medos e arrependimentos. O ser humano em "pure flesh n bone".

Uma câmera próxima.

Um drama psicológico intenso e invasivo.

E um texto brilhante e mais que pontual. Em cada frase uma pancada...

Não há escapatória senão pensar no que foi feito.

Simplesmente, um protesto.


Fica dica.

Nota bene - Os primeiros 35 minutos do filme são inteiramente descartáveis.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

"A Origem do Planeta dos Macacos", 2011, Rupert Wyatt


Uma série de equívocos permeiam a execução de testes que buscam uma cura para o Mal de Alzheimer, e assim, macacos usados como cobaia, passam a desenvolver uma inteligência assombrosa que os levam a querer a liberdade e a independência…

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Não existe nada mais precioso que o tempo.

É ele o responsevel em glorificar personalidades, estabelecer espiritos de uma época e, claro, eternizar grandes filmes.


Há exatos 43 anos, diante de alguns homens à beira-mar, a imponente estátua da liberdade foi descoberta enterrada até o nariz, abatida e largada para o esquecimento. Tal espetáculo, concebido por Pierre Boule (tambem autor do festejado A Ponte do Rio Kwai) faz parte de uma das maiores histórias de ficção cientifica já carregadas para o cinema. Tomado por um suspense especial e satírica inteligencia, O Planeta dos Macacos marcou uma época: não só surpreendeu a todos com seu roteiro criativo e gran-finale retumbante, como estabeleceu um novo padrão de qualidade em maquiagem, figurino e trilha musical.

O filme original conta a história de uma tripulacão de astronautas que caem num planeta estranho e peculiar num futuro bem distante. Lá encontram uma sociedade onde macacos são inteligentes, desenvolveram uma linguagem e os seres humanos ali encontrados são tratados como bestas de um zoológico.

Dada sua preciosidade, em 2001, O Planeta dos Macacos foi registrado na Livraria do Congresso Americano, no National Film Registry como um filme culturalmente, historicamente e estéticamente significativo para a história dos EUA. Um filme com 89% de aprovação entre seus espectadores e listado como um dos 500 filmes mais importantes da história do cinema.

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O tempo foi, portanto, muito duro para alguns idealizadores.

Afinal, quais outros filmes de sci-fi espantaram seus espectadores de forma tão cativante?

Poucos. Muito poucos…


E por isso, em 2011, experimentaram realizar o prólogo desta esplendida história.


Quem não tem o sonho de fazer algo grandioso?


E o resultado? Medíocre, infelizmente.

Assim como a maioria dos “sequels”, os “prequels” (tão na moda hoje em dia) pecam justamente por não terem um roteiro à altura de seus antecessores, bem como um assunto sólido e bem esclarecido. Enquanto o original é uma amarga parábola sobre a conduta do homem e a evolução da ciencia, A Origem do Planeta dos Macacos resume toda a questão de forma modesta e superficial.

Em outras palavras: esperava-se um roteiro mirabolante.

Ao contrario, se vê uma sucessão de furos e situações duras de engolir. Durante a sessão é possível enxergar, no rosto dos espectadores, uma expressão de incredulidade diante de tal festival de absurdos…

Exemplo -

Quando que num laboratório de altíssimo padrão, uma macaca tratada com um tonificante neural, que nitidamente acentua sua agressividade, pode ser realocada para uma outra jaula apenas por dois homens – sendo um deles um gordinho bunda-mole e o outro um anão…

………………….?

Como pontos positivos sobram apenas as atuaçoes de James Franco, John Lithgow (excelente como sempre) e Andy Serkis que faz o macaco César, o primeiro a desenvolver a super-inteligencia. Os três cumprem bem os papeis mesmo diante de um roteiro tacanho. Assim como os efeitos especiais – São excepcionais e rendem belas cenas de ação.

Vale a pena apenas num daqueles dias chuvoso onde uma mórbida curiosidade pode reinar.


A dica não fica.

-> Trecho de uma entrevista com Andy Sarkis segue abaixo -

The great thing about the original film is that it was an upside down world where the humans were slaves and the apes were their overloads. You play the character that’s going to usher that world in, so how do you sort of keep the sympathy of the character whose destiny is subjugate every single person sitting in this tent?

AS: That’s a really good question and I think the thing is we’re playing him…you do see his journey from being, how he responds to brutalization and witnessing brutalization and bullying and all these shocking things because he’s brought up as an innocent. He’s quite innocent and you see his journey from innocence into moments of realizing that actually it can be a cruel world out there. And he has been brought up because Will, James Franco’s character and John Lithgow’s character, they’re incredibly humanitarian. He’s been brought up in a loved family. In a way you’ve got to forget that he’s a chimp, you treat him as a child whose been brought up in a loving environment then suddenly being subjected to brutalization and seeing, when they go to the Ape Sanctuary, it could be any institution which has bullying and mistreatment and some kind of person who is dominating and subjugating other people. So you will feel sympathy because you will see how this young mind is witnessing brutalization I guess.

sábado, 10 de setembro de 2011

"Amor à toda prova", 2011, John Requa & Glenn Ficarra


A comédia romântica mais sensata, própria e atraente dos últimos tempos e, certamente, desta temporada.

Uma brilhante interpretação sobre o que é o amor.

Cal (Steve Carrell) é um típico quarentão acomodado. Casou-se com sua 1a namorada e passou os últimos 25 anos enclausurado dentro de casa e sem grandes ambições. Não tem, portanto, a menor idéia de como seria uma vida mais divertida. Emily (Julianne Moore), não só acredita que sua vida está chata, parada e sem emoção como vê Cal como um senhor bunda-mole.

Emily decide, então, pedir o divórcio.

A noticia abala radicalmente a moral de seu filho, Robbie (Jonah Bobo). Pertinentemente, Robbie passa por um desafio amoroso e espelhava-se na suposta relação funcional de seus pais. Robbie, como todo moleque safado, só quer saber de Jessica (Analeih Tipton) a babá de sua irmã caçula. Porém, Jessica só quer saber de uma coisa: está completamente apaixonada por um homem que poderia ser seu pai – justamente, o simpático e letárgico papai de Robbie, Cal.

Cal, deprimido e rancoroso, passa a alcoolizar-se todos os dias num agitado bar da cidade. Eis que, coincidentemente, frequenta este mesmo lugar um formoso rapaz, Jacob (Ryan Gosling) a própria antítese de Cal. Jacob é, como os americanos gostam de dizer, um “Womanizer” – um homem que somente procura breves e várias relações sexuais e que tem ojeriza a relacionamentos. No brasil, o velho e bom “galinha”.

Numa agradável noite, Jacob, percebe entre um flerte e outro, a presença quase mórbida de Cal, e o chama para bater um papo. Por mais surreal e inusitado que pareça, não só Cal lhe dá ouvidos, como Jacob o convence de contratá-lo como seu “personal sexual-stylist”. Jacob promete, então, uma virada inesquecível na vida de Cal – irá transformá-lo num homem ativo, interessante, charmoso e conquistador. Garante que, após esta mudança, sua mulher irá correr para os seus braços novamente.


Contudo, erotizar todas as moças da cidade, inclusive a professora de literatura de Robbie, dia e noite, até ganhar confiança e sua hombridade de volta, não é exatamente o que Cal estava esperando acontecer nesta altura de sua vida...

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O que torna a história de Dan Fogelman tão fascinante?

Em primeiro lugar pela comicidade. Não há no texto uma piada fora do lugar, um momento desagradável ou constrangedor. Pelo contrário, o drama vivido por Cal, torna-se cada vez mais crível e envolvente onde o humor vem apenas para pontuar algum absurdo ou outro que a vida nos prega.

Aliás, o aspecto quase burlesco ou de "farsa" que o deixa realmente inteligente. Rir de temas dramáticos, coisas do cotidiano, situacóes e temas convencionais, e enfim, este olhar critico sobre o comportamento atual, é o que deixa a comédia verdadeiramente rica.

O filme dirigido por John Requa & Glenn Ficarra tem como mérito principal não dar lição de moral, nem induzir sentimentos ou frases alienadas daquelas a que estamos acostumados.

Ao contrário, conduz um simpático libelo a favor do que é realmente importante no que diz respeito a esse sentimento tão complicado.

A relação.

"A magnificência de um relacionamento sagrado se despedaça nos recifes dos conflitos egocêntricos triviais."

Emily não sabe dizer a Cal o que a deixa realmente viva. Na verdade nem ela sabe. Afinal, o que ela tanto procura num homem....?

Cal, ao perceber a facilidade que é “conquistar” uma mulher e levá-la para cama, nota que deixou de conquistar, todos os dias, a mulher mais importante de sua vida. Em que momento acabam as conquistas...?

Jacob vive uma eterna negação. De tão acostumado aos fáceis prazeres da carne, acabou deixando de lado alguns outros prazeres mais saborosos. “Conhecer" - ter perfeito conhecimento de alguem, dos méritos ou caráter de uma outra pessoa, é algo que o rapaz nunca viveu, e portanto, que não tem a mais pálida idéia do que seja.

Jessica e Robbie são perfeitamente saudáveis – jovens e apaixonados – aprenderão com a rejeição que amar tem percalços a serem superados.

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Steve Carrell entregou a melhor performance de sua carreira. Não só arrasa como comediante como surpreende em outra seara - pontua o texto com primor e exibe ali qualidades de um ator dramático de primeira linha.

Julianne Moore, como visto em The kids are all right, acerta mais uma vez. Deu o apoio perfeito a Carrell, conferindo a Emily esse estado inseguro e indeciso. O equilibrio entre o drama e a comédia acontece em torno de Julianne Moore, uma atriz madura, atraente e iluminada. Afinal, um casal delicioso de se ver. E uma história fantástica para se torcer...

E Ryan Gosling: ator cada vez mais seguro e espontâneo, que exibe um Don Juan muito divertido.

Conseguir reunir atores primorosos, um texto inteligente e impagável é algo raro.

Atingir tanto êxito ao dialogar sobre algo tão batido e elementar quanto o amor, e de forma tão pura e usual, é algo extraordinário.

A responsabilidade está na mão de quem ama e quer ser amado. Tão simples e tão complicado...

Glenn Ficarra e John Requa acertaram em cheio. O amor é algo arrebatador e indescritível...

Um filme que oscila entretenimento e conteúdo com perfeição.

O sonho de qualquer cineasta. Um orgulho para o cinema americano.

FicaDica.

domingo, 4 de setembro de 2011

"Árvore da Vida", 2011, Terrence Malick


Este ano o filme vencedor do Festival de Cannes obteve um acolhimento sui generis. De um lado, ovações, gritos e uma plateia surpreendida por uma sucessão de imagens, figuras e metáforas impressionantes. Do outro, rostos pasmos com a ousadia de um diretor, que ao experimentar e transcender, criou um filme de complicada estrutura, e que não conquistou os mais conservadores. Sendo assim, uma falta de empatia latente ecoou naquela sala de projeção.

Terrence Malick, o autor da proeza, é conhecido por aparecer pouco na mídia, por fugir de eventos sociais e até em pedir para que sua imagem não seja usada em material promocional. Característica que torna portanto seus roteiros mais enigmáticos. Formado em filosofia, e mais precisamente, sob a “tutela” dos ensinamentos de Heidegger, é natural que se entenda o ponto fundamentalmente existencialista de seus filmes.

Em linhas breves, o movimento existencialista preconiza que a visão do homem e o sentido de sua vida, se dá a partir de suas próprias experiências e do subjetivo. Que o homem não foi criado para uma finalidade assim como os outros objetos, e que ele se faz em sua própria existência. A experiência, assim, precede a essência. Finalmente, que justamente esta falta de sentido e direção ‘correta’, que dá a liberdade ao homem, é o que causa ironicamente sua ansiedade, sofrimento e desespero, e que o guiará até a morte, de onde não há saída. Segundo Sartre, somos um eterno devir, de ideais e ações, e o Nada aparece como a grande sombra ou dívida da existência humana.

Terrence Malick faz uso dessa premissa em pelo menos alguns de seus filmes. Badlands, seu 1o longa-metragem, discute justamente o que o homem pode fazer com sua liberdade. Além da linha Vermelha aborda o subjetivo, o psicológico, as relações e suas consequências, e assim tem apenas como pano de fundo, o cenário da guerra.

Malick sublinha, portanto, exatamente o que caracteriza o ser humano – a capacidade que temos de nos interrogar sobre o sentido da vida. E o que é O Grande Plano? Sua tese é tentar descobrir como o homem irá fazer para saltar de sua condição cotidiana para atingir um verdadeiro “eu”.

Desta forma, fica clara a vontade de Malick em realizar um filme que explore as origens da vida na terra. Uma fábula que palpita uma resposta através da história de uma família e suas relações com o amor, a morte, reconciliações e o sofrimento. Uma história culturalmente e historicamente significante.

Divago.

A Árvore da Vida será, portanto, a única crítica deste blog a não ganhar uma resenha.

Pois não é necessária.

Terrence Malick é um homem altivo.

Constituiu tanto tecnicamente como filosoficamente uma obra única e singular.

Comprovou que fazer cinema vai além de vãs filosofias (e métodos) e que experimentar é algo sinistramente enriquecedor.

Tentar compreender a vida, é senão a maior, uma das mais interessantes questões que nos diz respeito.

Uma experiência cinematográfica inesquecível.

E nesta afirmação não há juízo de valor.

Fica a dica.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

"Capitão América", 2011, Joe Johnston


Estamos durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha ostenta uma força avassaladora liderada pelo demente Caveira Vermelha (Johan Schmidt) e os Aliados se vêem à beira de um desastre iminente. Os EUA, abalados e inquietos, procuram uma estratégia, um trunfo, mas nada parece adiantar. Até que aparece um certo cientista com uma daquelas idéias malucas… Um homem que inventou uma pocão mágica que tornará qualquer homem, qualquer soldado, imbátivel. Porém, não basta força física em si, e sim, brio e distinção, por incrivel que pareça…

Paralelamente, em meio ao caos, surge um moço, Steve Rogers (Chris Evans) - garoto franzino, mirrado e abusado – que nitidamente tem nada a oferecer, mas que aspira ardentemente a ser recrutado pelo exército Americano. Junto à ele, centenas de rapazes altos, fortes e másculos (rs) participam de uma avaliação dura, De cara, Steve é logo rejeitado, mas aos poucos sua índole passa a chamar a atenção dos generais mais atentos que logo vêem no rapaz a chave para esse complicado experimento - A aplicação do soro do “super soldado”!

O resto é sabido:

Rapaz toma o soro, a fórmula se perde, ele passa a ser o único super soldado do exército e a Guerra parece ter um fim terrível. Porém, somente até que Capitão América se lança com seu escudo feito de vibranium em busca do sanguinário Caveira Vermelha.

Capitão América assim como o Super-Homem foram criados com um propósito: Inebriar as mentes de jovens com idéias sobre o bem e o mal, justiça, coragem e um espírito nacionalista. Desta forma, tanto o franzino Rogers como o E.T mais famoso do mundo, tem hoje, como “complicômetro”, a dificuldade de terem suas histórias adaptadas às telas dos cinemas sem parecerem moralistas demais, repetitivas, óbvias, chatas e nada criativas.

Afinal, um homem praticamente invulnerável, com uma personalidade inabálavel e um sentido na vida indiscutível é mais ficcional do que, até, um Kryptoniano.

Entende-se que quando heróis se aproximam das pessoas comuns, dividem dificuldades em comum e mostram seu lado podre, estes ganham maior notoriedade e são capazes de capturar verdadeira atenção de espectadores – Vide Batman, Os X-men, Watchmen e assim por diante...

A invulnerabilidade de Kal-El cansou. Não é mais hype ser o máximo. Enfim, coisas da modernidade. Do mesmo jeito, a benevolência de Steve Rogers que faz qualquer um bufar irritado na cadeira.

Logo, o filme Capitão América, e sua história – que retrata e reforça todas esses clichés - traz uma sessão nostálgica apenas simpática; uma que passa longe de dar uma repaginada no heroi, deixando ali duas horas de mamão com açucar e muito lenga-lenga.

Se trata de um roteiro muito simples, sem grandes questões e um Capitão América ainda “engatinhante”. Um filme de ação decepcionante.

Direção de Joe Johnston (O Lobisomem, Jurassic Park III, Jumanji e Querida, encolhi as crianças) é regular, sem grandes perturbaçoes; assim como as atuações – esforçadas em trazer leveza e humor mas que morrem exaustos na praia.

Ter em mente que se trata de um super-herói, que é um filme para criança não é um argumento dos mais toleráveis.

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O problema, talvez, seja a tal da expectativa -

Existe um teoria que diz o seguinte – uma pessoa só aplica esforço se há uma chance de alcançar um determinado objetivo. Alcançar uma boa performance pode fazer com que aconteça determinado resultado. A performance deve ser alcançável pelo sujeito em questão. Objetivos inalcançáveis são desmotivadores. De acordo com a teoria da expectativa, a quantidade de esforço que uma pessoa exerce em uma tarefa específica depende da expectativa que ela tem de seu resultado.

Isso seria suficiente para “explicar” a origem do Capitão América.

Steve Rogers “deu certo” mesmo sendo aparentemente a própria antítese de um herói -deu certo por que simplesmente vislumbrou tal possibilidade e "fez por merecer" o título de herói nacional. Ou seja, quase um quadro esquizofrênico.

Pena que essa teoria não funciona para nós, reles mortais.

Afinal, a expectativa seria a de que este filme, que antecede Os Vingadores, iria emplacar seu maior herói com louvor e glória...


A dica? A dica fez a curva em Albuquerque e foi para a Alemanha ressucitar o Caveira Vermelha.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

"X-Men: First Class, 2011, Matthew Vaughn


Charles Xavier (James McAvoy) sempre foi um rapaz estudioso. Sua mutação genética somada a sua inteligência invejável sempre o “incomodou” a ponto de achar que portara uma doença grave. Aos poucos isso foi mudando; Charles passou a ter interesse em compreender o que havia de errado com ele e sua irmã adotiva – Raven Darkholme, de alcunha, Mística (Jennifer Lawrence). Juntos, os dois atravessaram os anos da faculdade curiosos a respeito de outros mutantes, até o dia em que Charles graduou-se com o tíitulo de doutor em Genética, abrindo-lhe, dentre tantas portas, uma em especial – a da segurança nacional.

Moira McTaggert (Rose Byrne), espiã do governo americano acaba de fazer uma descoberta avassaladora sobre um pícaro chamado Sebastian Shaw (Kevin Bacon)– um homem capaz de iniciar a 3a Guerra Mundial.

Eric Magnus Lehnserr (Michael Fassbender) fora um dos prisioneiros de Auschwitz. Viu, ali, seus pais serem assassinados além de ter sido cruelmente torturado e tutelado por uma vil criatura. Ninguem menos que o mesmo Sebastian Shaw, claro... Durante os anos, Erik viciou-se na idéia de vingança – perseguiu todos os ex-generais do exército nazista a fim de encontrar aquele que tornou sua vida uma desgraça.

E finalmente chegou o dia em que saberemos como a mente mais poderosa do mundo e o mestre do magnetismo se tornaram arqui-inimigos.

Papo de nerd? Nada disso, papo sério...

A Marvel Studios prometeu e, de fato, entregou a história que dá inicio a equipe de heróis mais celebrada do planeta. Assim como nos quadrinhos, a 1a equipe de Charles Xavier em “Primeira Classe” não agrega os ilustres Cyclops, Tempestade, Wolverine (não por falta de pedido), Vampira e Colossus. Houve certa adaptação para os dias de hoje com a inserção de Mística e Darwin, mas nada que deixe os mais aficionados frustrados.

Houve, na verdade, uma esperta mistura de fatos que deixou o espectador apenas curioso para saber como é que a história irá se desenrolar.

Tudo que Mathew Vaughn não pode realizar ao dirigir o excelente Kick-Ass foi atendido em X-men: First Class – efeitos especiais e cenas de ação dignas dos heróis em questão – Fera com suas habilidades acrobáticas e famosa pelugem azul, Banshee e seus gritos espantosos, Alex Summers e a telepatia de Emma Frost. Além de exibir um mestre do magnetismo emergente, incipiente e ávido para destruir quem atravessar seu caminho.

Não obstante, o elenco encabeçado por James McAvoy (Atonemente, Ultimo Rei da Escócia, The Last Station) e Michael Fassbender, torna X-men:First class um filme com atuações nada infantis. Fassbender é Magneto, sem tirar nem por... Kevin Bacon e Jennifer Lawrence dão peso e sentido para seus personagens de forma muito natural e nada caricata, como de se esperar... Até Hugh Jackman dá o ar da graça com uma única e contundente frase!

Brian Singer está por trás de X-Men: First Class, coisa que confere certa credibilidade, logo que X2 foi, sem dúvida, o melhor filme dos mutantes até agora. Um filme que poderia conter mais cenas de ação, mas que conseguiu rechaçar toda fofoca de que seria uma fraca experiência cinematográfica.

De fato, nada monumental, mas um sutil e divertido “re-começo”.

Fica a dica.

PS: encontraram até, um jeito inteligente de dar origem ao afamado capacete de um dos maiores 'vilões' dos quadrinhos...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

"Kung Fu Panda 2", 2011, Jennfier Yuh



Chegar a um entendimento de si; se aceitar; torna possível atingir uma paz interior, a qual permite que o individuo faça o que quiser e atinja qualquer objetivo.”


E assim apregoa o pequeno-sábio panda vermelho, Mestre Shifu (Dustin Hoffman).

O que acontece a um templo Kung Fu quando um panda atordoado, para não dizer outra coisa, passa a conviver 24/7 com seus mais diligentes membros?

Caos.

Foi se a época de criar mitos benévolos, fantasiosos e moralistas.

O mundo agora reúne milhares de atrapalhados, gordinhos, quatro-olhos, geeeks e nerds, os quais tem uma lista de “heróis” que não são necessariamente fortes, valentes, espertos e destemidos. Estes tem apenas “a possibilidade” de - se quiserem - ser aquilo que almejam.

O mundo mudou, a mensagem mudou, e assim, seus protagonistas também mudaram...

Talvez a grande jogada do momento seja esta: realizar filmes infantis mas que são nada singelos. Filmes que zombam constantemente de alguns preceitos mais caretas, digamos.

Kung Fu Panda 2, assim como o primeiro, se trata de uma versão light dos filmes politicamente incorretos. Trocaram quatro tartarugas saradas por um urso gorducho, cômico, meio bobo da corte, que aparentemente não serve para nada e ainda - preguiçoso, malandro e fora de forma - MAS que possui algo suficiente que o faz salvar o dia e com louvor:

A crença em si mesmo.

Desta vez, Po (Jack Black), recebe de seu mestre a incumbência de salvar das garras de um terrível vilão, Shen (Gary Oldman), uma vila habitada por inocentes. Parece que a história da adoção de Po está atrelada a história do tal crápula, e assim, o herói alvinegro parte em busca do mistério que envolve sua origem.

De fato, o roteiro não é um que surpreende e tem basicamente o mesmo esqueleto que o primeiro filme. Por outro lado, se trata de um filme que divide equilibradamente os quesitos ação/emoção além de nitidamente ter investido em tremendas tiradas e piadas.

Os encontros entre Po (Jack Black) e Shen (Gary Oldman), são escrachadas sátiras sobre o “bem” encontrando o “mal”- Impagável!!!

Kung Fu Panda 2 é, portanto, um respeitável ‘clone’ do antecessor. Certamente diverte “crianças” de 5 a 35 anos de idade com suas piadas geniais.


Ficadica!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

"O poder e a Lei", 2011, Brad Furman



Louis Roulet (Ryan Philippe) é um playboy que não foge à regra – feição de bom moço, airoso e envolvente. Contudo, suas ultimas extravagancias fugiram ao controle levando-o a se complicar com uma investigação policial. Ocorre em Los Angeles uma agressão e tentativa de assassinato à uma prostituta. Assim, duas hipóteses são diagnosticadas - Uma onde Roulet é apontado como o agressor e outra onde a moça é a acusada de falsa imputacão de prática delitiva e, consequentemente, perjúrio – ou seja, que tudo se trata de um golpe audacioso arquitetado pela própria onde tenta cavar um processo por perdas e danos contra o abastado rapaz.


Mick Haller (Matthew McCounaghey) é, então, acionado pela família Roulet para montar uma tese de defesa para Louis. Conhecido por se meter a defender inomináveis criminosos e casos absurdos, além de conseguir absolvições quase milagrosas - motivo o qual levou ao fim de seu casamento com Maggie (Marisa Tomei), já que a mesma, como advogada, trabalha para incriminá-los - Mick Haller tem agora diante de si um processo árduo e mais que cabeludo; uma família que mal sabe o significado da palavra ‘escrúpulo’ e, à tira-colo, um rapaz insanamente; perdão, sinistramente angelical.

Quando, justamente, algumas peças passam a se encaixar, investigações paralelas atravessam o caso de Roulet se misturando a outros crimes não resolvidos, abrindo então, margem para uma suspeita de crimes em série. Coisa que Mick e seu colega Frank (William H. Macy), não estavam preparados. Mick Haller tem, portanto, um caso que fatalmente o faz pensar em questões morais – a ameaça a sua carreira e amigos o leva a ultimas instancias e a tomar medidas mais que ardilosas.

Há muito tempo, com excessão de Os Homens que não amavam suas mulheres de Stieg Larsson, não se via um filme com roteiro tão engenhoso e perspicaz. "O poder e a lei" se trata de um cativante drama que discute até onde os preceitos a que um indivíduo se submete podem interferir nas suas escolhas e saídas - Uma verdadeira sinuca de bico. Advogar pode ser algo teatralmente fascinante...

O poder e a lei, roteirizado pelo criativo John Romano (Early Edition, Monk, etc), não poderia ter outro resultado senão deixar todos chumbados e soldados as poltronas do cinema com olhos esbugalhados e atentos. Um filme permeado com ligeiras porem impactantes reviravoltas que trazem um clima de acusações e cenas de tribunais primorosas e acuradas.

O estreante diretor Brad Furman debuta com ar e graça – impõe uma câmera “na mão” tensa e trêmula que transmite muito bem uma excitante história. Além, é claro, de ter selecionado um tremendo elenco. Marisa Tomei, William H. Macy, John Leguizamo, Josh Lucas, Frances Fisher, Michale Peña e Bob Gunton – todos pouco conhecidos – mas que dão um suporte respeitável ao protagonista e antagonista do filme.

Tanto McCounaghey como Philippe rendem muito bem em seus papeis.


Um suspense próprio e memorável.

De Michael Connely, claro...


Ficadica!


Assistam o trailer - http://bestmoviesevernews.com/lincoln-lawyer-new-trailer/

terça-feira, 31 de maio de 2011

"Agentes do Destino", 2011, George Nolfi


Philip K. Dick foi sem dúvida um ícone da ficção científica. Além de uma vasta obra literária, seus descendentes podem dizer que Philip deixou um legado mais que arrebatador, espantoso e convincente no que concerne uma visão do futuro. Algumas delas, por assim dizer, foram adaptadas para o cinema - o leitor pode a partir das seguintes obras tirar suas próprias conclusões - Blade Runner, O Vingador do Futuro, Minority Report e O Pagamento são algumas delas.

Contudo, algumas adaptações nem sempre conseguem convencer plateias. Seja pela inabilidade em trasladar as minucias de um obra literária para aqueles 120 minutos corridos de um filme ou, como no caso do filme em questão, pela proposta de transformar um conto em algo maior usufruindo de ideias fantasticamente mirabolantes... (sim, cabe o pleonasmo).

Temos, então, Agentes do destino. David Norris (Matt Damon) é um jovem aspirante a senador pelo estado de NY. Conhece, no dia que perde a eleição, a encantadora bailarina Elise (Emily Blunt). Daquele dia em diante sua vida muda. Ele que fora um homem totalmente focado em trabalho e em sua carreira promissora, agora passa a vislumbrar como seria uma vida a dois – cai, portanto, de amores pela tal dançarina. Porem, alguém “lá de cima” não concorda com esse destino ordinário para o rapaz e, assim, lança mão de um esquadrão de agentes (feito anjos) que devem fazer de tudo para que os dois não se encontrem. Parece que David ao se casar com Elise irá focar na família e desperdiçar seu talento para a politica – o que num plano maior seria horrível para o governo dos eua e o futuro da nação, já que David é o único político com um potencial revolucionário.

David fará de tudo um pouco para encontrar Elise nem que seja preciso enfrentar “aquele que tudo vê”.

A principio uma ideia irreverente...

Faltou apenas menos complicação – por mais confusa que pareça essa afirmação. Toda realidade tem seu conjunto de regras, as quais existem justamente para dar sentido a mesma. Logo, quando se trata de um filme que deseja transpor ser humano com anjo, tuneis dimensionais que servem como passagem e assim por diante, a credibilidade cai num terreno perigoso – filme para adultos ou para crianças? Afinal, ingenuidade existe para isso, diga qualquer coisa para uma criança com propriedade e a “verdade” se estabelece. “Agentes do destino” explica mal a função desses agentes, o que eles podem ou não fazer, de onde vieram, quem está no comando and so on...

Chega uma hora onde o espectador desiste de entender a história. O que causa tremenda frustração já que “ficção científica” feita com excelência é aquela que ao terminar, você pensa – “Sen-sa-cio-nal...!!” - Exatamente como é a experiência com aqueles filmes citados acima.

Adaptado do conto, “Adjustment team”, onde Philip K Dick ensejou uma discussão sobre o livre-arbítrio, o filme “Agentes do destino” nada tem a agregar ou surpreender. Valem apenas as participações de três ótimos atores – Matt Damon, Emily Blunt e Terrance Stamp que seguram a onda e não deixam o filme escorrer pelo ralo.

Há, ao menos, uma mensagem interessante mas que pode ser extraída de outros lugares... Certo Lady Gaga...?

A dica não fica.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

''Water for elephants", 2011, Francis Lawrence



Uma história de amor exemplar.

Jacob (Robert Pattinson) tinha uma vida simples, bucólica e feliz. Estudava veterinária e seguia empolgado com a ideia de assumir a clinica do velho pai. Num dia como outro qualquer, recebe uma visita inesperada da policia local – a noticia que seus pais teriam falecido num grave acidente de carro. Dias depois recebe mais noticias “fantásticas” – todo dinheiro que herdaria, bem como a clinica e a casa onde mora seriam utilizadas para pagar dívidas que seu pai deixou.
Logo, Jacob se viu, literalmente, sem eira nem beira...

Jacob resolve, então, partir dali para esquecer tal desgraça. Eis que um trem passa pela cidade e sem pestanejar, Jacob o invade, rumo ao desconhecido. Logo o rapaz é surpreendido por duas curiosidades – 1) o trem é de uma trupe circense que, coincidentemente, estaria precisando de um veterinário e, 2), a mulher do proprietário do circo, Marlena Rosenbluth (Reese Witherspoon) é simplesmente encantadora e apaixonante.
August (Christopher Waltz), marido de Marlena, em contra-partida, é um homem difícil - tem uma personalidade intempestiva, além de um ciúme voraz de Marlena. Numa das paradas da trupe, August adquire uma elefanta muito simpática, Rosie, mas que também tem um gênio complicado. Marlena passa a treinar um número com a mesma e é Jacob quem fica encrarregado de tratá-la à pão de ló, já que é ela é o instrumento de trabalho da esposa do dono do circo.

Water for elephants, narra a trajetória desse rapaz que encontra três amores: Marlena - o proibido, O circo – o inusitado e Rosie – a perdição. Seu amor e afeto pelos animal levará Jacob a confrontar August como jamais imaginou faze-lo.

Um filme que explora a capacidade dramática de seus personagens, e needless to say, um que cumpre muito bem esse objetivo – Christopher Waltz dá um banho e traz um personagem bipolar, cruel e carente. Reese Witherspoon também garante atuação bem desenhada.

Robert Pattinson não faz feio!

Francis Lawrence, diretor de Constantine e Eu sou a Lenda embarca pela 1a vez num estilo mais contemplativo e sereno – dirigido com esmero.

Um filme mamão-com-açucar mais que bem-feito.

Histórias de amor ainda podem render grandes abalos...


Fica dica.