sábado, 10 de setembro de 2011

"Amor à toda prova", 2011, John Requa & Glenn Ficarra


A comédia romântica mais sensata, própria e atraente dos últimos tempos e, certamente, desta temporada.

Uma brilhante interpretação sobre o que é o amor.

Cal (Steve Carrell) é um típico quarentão acomodado. Casou-se com sua 1a namorada e passou os últimos 25 anos enclausurado dentro de casa e sem grandes ambições. Não tem, portanto, a menor idéia de como seria uma vida mais divertida. Emily (Julianne Moore), não só acredita que sua vida está chata, parada e sem emoção como vê Cal como um senhor bunda-mole.

Emily decide, então, pedir o divórcio.

A noticia abala radicalmente a moral de seu filho, Robbie (Jonah Bobo). Pertinentemente, Robbie passa por um desafio amoroso e espelhava-se na suposta relação funcional de seus pais. Robbie, como todo moleque safado, só quer saber de Jessica (Analeih Tipton) a babá de sua irmã caçula. Porém, Jessica só quer saber de uma coisa: está completamente apaixonada por um homem que poderia ser seu pai – justamente, o simpático e letárgico papai de Robbie, Cal.

Cal, deprimido e rancoroso, passa a alcoolizar-se todos os dias num agitado bar da cidade. Eis que, coincidentemente, frequenta este mesmo lugar um formoso rapaz, Jacob (Ryan Gosling) a própria antítese de Cal. Jacob é, como os americanos gostam de dizer, um “Womanizer” – um homem que somente procura breves e várias relações sexuais e que tem ojeriza a relacionamentos. No brasil, o velho e bom “galinha”.

Numa agradável noite, Jacob, percebe entre um flerte e outro, a presença quase mórbida de Cal, e o chama para bater um papo. Por mais surreal e inusitado que pareça, não só Cal lhe dá ouvidos, como Jacob o convence de contratá-lo como seu “personal sexual-stylist”. Jacob promete, então, uma virada inesquecível na vida de Cal – irá transformá-lo num homem ativo, interessante, charmoso e conquistador. Garante que, após esta mudança, sua mulher irá correr para os seus braços novamente.


Contudo, erotizar todas as moças da cidade, inclusive a professora de literatura de Robbie, dia e noite, até ganhar confiança e sua hombridade de volta, não é exatamente o que Cal estava esperando acontecer nesta altura de sua vida...

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O que torna a história de Dan Fogelman tão fascinante?

Em primeiro lugar pela comicidade. Não há no texto uma piada fora do lugar, um momento desagradável ou constrangedor. Pelo contrário, o drama vivido por Cal, torna-se cada vez mais crível e envolvente onde o humor vem apenas para pontuar algum absurdo ou outro que a vida nos prega.

Aliás, o aspecto quase burlesco ou de "farsa" que o deixa realmente inteligente. Rir de temas dramáticos, coisas do cotidiano, situacóes e temas convencionais, e enfim, este olhar critico sobre o comportamento atual, é o que deixa a comédia verdadeiramente rica.

O filme dirigido por John Requa & Glenn Ficarra tem como mérito principal não dar lição de moral, nem induzir sentimentos ou frases alienadas daquelas a que estamos acostumados.

Ao contrário, conduz um simpático libelo a favor do que é realmente importante no que diz respeito a esse sentimento tão complicado.

A relação.

"A magnificência de um relacionamento sagrado se despedaça nos recifes dos conflitos egocêntricos triviais."

Emily não sabe dizer a Cal o que a deixa realmente viva. Na verdade nem ela sabe. Afinal, o que ela tanto procura num homem....?

Cal, ao perceber a facilidade que é “conquistar” uma mulher e levá-la para cama, nota que deixou de conquistar, todos os dias, a mulher mais importante de sua vida. Em que momento acabam as conquistas...?

Jacob vive uma eterna negação. De tão acostumado aos fáceis prazeres da carne, acabou deixando de lado alguns outros prazeres mais saborosos. “Conhecer" - ter perfeito conhecimento de alguem, dos méritos ou caráter de uma outra pessoa, é algo que o rapaz nunca viveu, e portanto, que não tem a mais pálida idéia do que seja.

Jessica e Robbie são perfeitamente saudáveis – jovens e apaixonados – aprenderão com a rejeição que amar tem percalços a serem superados.

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Steve Carrell entregou a melhor performance de sua carreira. Não só arrasa como comediante como surpreende em outra seara - pontua o texto com primor e exibe ali qualidades de um ator dramático de primeira linha.

Julianne Moore, como visto em The kids are all right, acerta mais uma vez. Deu o apoio perfeito a Carrell, conferindo a Emily esse estado inseguro e indeciso. O equilibrio entre o drama e a comédia acontece em torno de Julianne Moore, uma atriz madura, atraente e iluminada. Afinal, um casal delicioso de se ver. E uma história fantástica para se torcer...

E Ryan Gosling: ator cada vez mais seguro e espontâneo, que exibe um Don Juan muito divertido.

Conseguir reunir atores primorosos, um texto inteligente e impagável é algo raro.

Atingir tanto êxito ao dialogar sobre algo tão batido e elementar quanto o amor, e de forma tão pura e usual, é algo extraordinário.

A responsabilidade está na mão de quem ama e quer ser amado. Tão simples e tão complicado...

Glenn Ficarra e John Requa acertaram em cheio. O amor é algo arrebatador e indescritível...

Um filme que oscila entretenimento e conteúdo com perfeição.

O sonho de qualquer cineasta. Um orgulho para o cinema americano.

FicaDica.

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