quinta-feira, 29 de abril de 2010

"Gypsy", 2010, Charles Möeller & Claudio Botelho


A fantástica saga de Rose Thompson Hovick, mãe de June Havoc e Gypsy “Lee” Louise Rose chega agora em versão brasileira – e não é que aterrissa bem?

Gypsy” conta a história de Rose, uma mãe americana enlouquecida, agressiva e tomada por uma obsessão – tornar as filhas estrelas da Broadway, de Hollywood e do mundo. Rose cria números que remetem o Vaudeville e sai rodando a América em busca de sucesso para as meninas. June logo se destaca como exímia dançarina, cantora e simpática artista. Louise, mais acanhada encontra-se sempre ali ao lado, dando algum apoio mas apagada. Eis que um dia June é testada por um grande produtor e enaltecida por tais elogios decide abandonar a família em busca de seu próprio sucesso. Esta saída deixa Rose enfurecida, e assim, tomada por um rancor, esta mãe decide empenhar-se mais ainda pela carreira da outra filha sempre à sombra de June, e sai em busca de teatros, palcos, números e o sucesso para Louise. Mas o futuro não adiantou qual seria seu destino...

Baseado na biografia de ambas June e Gypsy o musical aborda a vida dessas 2 figuras desde a infância até o momento em que Rose Louise se torna a mais famosa e renomada stripper que o mundo já viu - “Gypsy”. A carreira de June Havoc não é tratada na peça, que a partir do segundo ato, foca-se basicamente em duas coisas – na fama conquistada por Gypsy e seus números picantes, envolventes e bem-humorados e na derrota de Rose. Uma mãe que deslocou para as filhas sua vocação para o estrelato e que se vê sem filhas, sem fama e sem rumo.

Totia Meirelles é “Rose” e mesmo tendo Bette Middler como padrão de comparação, é correto alegar que ela é SENSACIONAL. Com uma interpretação suave e alegre da mesma, não dando o ar agressivo imaginado, mas com fortes momentos viscerais e com um vozeirão arrasa-quarteirão, Totia, dá um show em presença cênica, hablidade para o canto e destreza para comandar um musical. Deixou todos de cabelo em pé, arrepiados pelo impacto, além de ter calado meia dúzia de falastrões que diziam que ‘a pobre’ não teria voz para tal espetáculo. Totia conseguiu trazer uma mãe obcecada pelo sucesso e cega aos sentimentos dos outros. Adriana Garambone também não deixou por menos, e deu a sua “Gypsy” dois fortes momentos – o tímido e acanhado do início de carreira e o voluptuoso e brilhante ‘ser’ da mais famosa stripper americana. Sem apelar para nus e com um ‘jeitinho’ meigo, sexy e divertido, Garambone emplacou uma Gypsy mais que sensual e bem interpretada.

Uma das cenas finais, onde Gypsy discute com Rose, em seu camarim, é de uma delicadeza extrema e exigiu de ambas uma boa relação para não cair no melo-drama. Garambone, ali, sobe nas tamancas e fica do tamanho de Totia. Algo muito belo de se ver...

Saliento ainda o trabalho das atrizes Renata Ricci e Thaiani Campos June Havoc adulta e criança respectivamente. Ambas são afinadas, engraçadas e mais importante – Carismáticas, dando ao espetáculo um tom cômico afiado e no ponto certo. Por fim e não menos importante – Liane Maya. Faz a velha, acabada e fanfarrona stripper Tessie Tura. Engraçadíssima, afinadíssima e divertidíssima.

Um primeiro ato com mais ritmo mas com cancões mais simples. Um segundo ato com canções mais fortes, mais engraçado, porém mais arrastado. Uma peça de quase 3 horas!

Um musical digno de ser aplaudido de pé.

Este sim, parece um musical com artistas aptos para tal empreitada.

Parabéns!


Fica a dica

"Atraídos pelo crime", 2010, Antoine Fuqua



Richard Gere é “Eddie” um tira prestes a se aposentar. Ethan Hawke é “Sal” outro tira, porem um a beira da loucura – não consegue organizar suas finanças e se vê tentado em cometer atos ilícitos para conseguir pagar as contas. O ótimo Don Cheadle é “Tango” mais um tira, este infiltrado no submundo do crime nova-iorquino, prestes a conseguir sua efetivação para Sargento.

Todos os três tem algo em comum – uma conduta à pensar.

Eddie paira sobre a sensação de dever cumprido mas ao mesmo tempo nota que ninguém dá a mínima pelos seus feitos. Percebe em novatos a falta de treino e vê que em um veterano está a “manha” para se lidar com o crime – assim sendo, se vê atraído por um último caso, uma última tentativa de heroísmo. Para Eddie o trabalho policial não é brincadeira.

Sal já tem 2 filhas e sua esposa está grávida de gêmeos. Não consegue ver outra alternativa se não tirar proveito da força de coersão policial – até que se depara com criminosos, digamos, mais espertos.

Tango ficou infiltrado por muito tempo. Se depara agora com uma grande amizade que fez com um rei do crime – justo um que se tornou alvo do FBI e será o bode expiatório de um lance maior que o próprio pôde conceber.

Filmado com ‘look’ de ‘Crash – No Limite” e com uma tentativa dramática e beleza de “21 gramas”, Antoine Fuqua procura narrar 3 histórias que não se cruzam diretamente mas que se “esbarram” ao abordar a “atração pelo crime” dos 3 personagens centrais. Com uma sucessão de cenas desnecessárias e diálogos impertinentes “Atraídos pelo crime” se torna um filme sem nexo, objetivo e com apenas uma leve idéia sobre ‘a tal conduta’. Quem vem primeiro - Sua carreira? A proteção às pessoas? As organizações e os interesses políticos e econômicos? Vivemos realmente protegidos? Idéias que surgem ao longo do filme mas que perdem força pela falta de objetividade de cada história. Fuqua intentou fazer 3 filmes em um – e convenhamos, fazer um bem feito já é difícil, três então?

Com Richard Gere dando uma de herói ao final do filme, personagens que deveriam permanecer vivos para que o filme saísse do óbvio, e com uma participação chinfrim de Wesley Snipes, “Atraídos pelo crime” cai na mesmice de filmes bobocas policias mas com carinha de ‘moderno”.

A única coisa que se salva é a direção que não é ruim – mesmo. Há inclusive uma cena onde Don Cheadle peita uma superiora da força policial e os dois quase saem no tapa – Extremamente bem encenada, com um diálogo inteligentíssimo e com uma câmera pra lá de bem posicionada.

Dá um alívio,

Mas a dica não fica.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

"Como treinar seu dragão", 2010, Dean DeBlois & Chris Sanders

Uma experiência em 3-D divertida!

Roteiro modesto, mas que entretém.

Mesmo tendo um roteiro batido, sem grandes surpresas e tangendo o previsível, “Como treinar seu dragão” é um desenho animado muito bem feito, inteligente, e que mesmo sendo modesto com todo rigor da palavra, não deixa de ser um bom programa. A trama é boboca mas a idéia com os dragões é bem bacana - A criançada, ao menos, estava às gargalhadas na sala do Roxy, e nós, os ‘adultos’ embarcamos na história completamente.

"Como treinar seu dragão" conta a história de Soluço, um menino franzino filho de um forte e valente viking, Stoick (voz de Gerard Butler). Seu pai, sempre o imaginou que pudesse se tornar um guerreiro destruidor de dragões, mas o destino pousou sobre o menino uma índole menos agressiva, um corpo menos apto para combate e uma mente desprovida de sangue e guerra. Eis que um dia Soluço se depara com um terrível dragão, o Fúria da Noite, que ao invés de matá-lo, algo acontece e os dois se tornam amigos. Soluço então descobre uma forma de ‘domesticar’ dragões e ao tentar trazer este novo paradigma para casa, para o tratamento que os Vikings dão aos dragões, ao invés de ser acolhido, é visto como doido, filho bastardo e aquelas coisas que já estamos cansados de ouvir.

Mais uma vez, mesmo com uma 'historiazinha' do tamanho do personagem, o longa de animação não se trata de um arrebatador, mas sim uma gostosa experiência em 3-D - Repleto de personagens divertidos e dragões engraçados.

Isto posto, se não for em 3-D pode-se esperar para ver no DVD em casa.

Fica a dica, e em 3-D, hein??

PS: o dragão, “Fúria da Noite” é a atração do filme – muito sagaz e bonitinho... E, claro, para as crianças, a mensagem que fica é ótima - não maltrate os animais - qual é a consequência dos atos humanos sobre a natureza?

"Pecados da carne", 2010, Haim Tabakman

Um filme que emplaca com planos silenciosos, planos fechados e poucos diálogos. Tudo fica no olhar, na reflexão.

Arrisco dizer que a história de um rapaz gay, Ezri (Ran Danker), que procura emprego num açougue Kousher é pouco crível. Quer dizer, imaginar que durante a tarde o judeu ortodoxo e açougueiro, Aaron Fleshman (Zohar Straus), ‘carca’ o menino e de noite volta para sua vidinha religiosamente vigiada e cuidada, numa comunidade minúscula, em plena Jerusalem, onde seu espirro pode derrubar 3 homens – bem, não falemos sobre credulidade – falemos sobre a mensagem, sim?

Depois de "O Segredo de Brokeback Mountain" filmes como este perdem sua força. Ao menos no que diz respeito ao 'affair' gay em si. O que “Pecado da carne” traz de interessante, indiferente se gay ou não, é a conduta do personagem central, Aaron, o dono do açougue.

Um homem sério, que prioriza esposa, filhos, trabalha duro e tem uma imagem impecável na comunidade. Eis que um dia a tentação bate à sua porta e como ele mesmo profetiza numa cena linda – “Deus coloca sobre nós essas situações justamente para nos testar, para mostrarmos a ele que somos capazes de passar por cima desses pecados da carne”.

Não, ele não foi capaz de mostrar isso a Deus, claramente. E por isso é um filme, há!

A beleza de “Pecado da carne” está justamente aí – um filme arrastado, silencioso, com poucas falas, com uma câmera ‘rígida’ e pouco manipulada que confere um clima de marasmo, de falta de vida e energia na vida deste açougueiro que ao se deparar com o menino, se depara não só com um sentimento homossexual mas sim com o ‘novo’, o ‘diferente’, o ‘exótico’, o ‘proibido’ – elementos que, aos olhos de um homem judeu que viveu sob a égide de dogmas tão rígidos e rigorosos – explicados com fé – brilham tanto que brotam nele uma curiosidade quase que mórbida sobre tal ‘experimentação”. A comunidade coloca Aaron contra a parede - é apedrejado e tem sua imagem difamada enquanto demora a se decidir sobre o rapaz. Assim, ele é obrigado a repensar sua vida, sua fé e os valores que fizeram sempre tanto sentido.

Os minutos finais do filme valem a ida ao cinema – momentos em que Aaron percebe que a vida é sobre as diferentes experimentações, sobre como lidamos com elas e sobre como alguns dogmas ignorantes tiram das pessoas essa possibilidade que só traz benefícios – aprendizagem, experiência e auto-conhecimento.

Minutos finais que falam sobre dignidade. Um filme que questiona em dias atuais idéias tão absurdas de uma tradição antiquada, secular e preconceituosa - Um filme delicado.

Com, Aaron, foi assim...

Bem, assistam a “Pecado da carne

Fica a dica.

"Chico Xavier", 2010, Daniel Filho



A história de Chico Xavier é surpreendente.
Indiferente se o homem foi uma farsa ou não, papo desagradável que surge sempre, não cabe ao longa-metragem discutir esse fato. Chico Xavier foi um homem de fibra – agüentou sua infância dolorosa e intimidadora, superou a igreja que questionava seu ‘ser’ e suas idéias e se tornou um homem inigualável, altruísta, decente e bom.
Desta maneira, nada mais justo, que homenagear um homem com um filme. E um tão belo quanto o de Daniel Filho. Um que, tecnicamente, peca pela ‘cara’ televisiva e alguns momentos romanceados e clichês com trilhas emotivas e algumas atuações forçadas. Um filme que poderia ser mais pueril, mais fresco traz consigo uma espécie de ranso devido à quantidade de atores ‘globais’ – cada um fazendo da sua cena “a cena” e perdendo um pouco um olhar sobre o todo.
Mesmo assim, como dito acima, não deixa de ser um bonito filme. O roteiro bem amarrado que gira em torno de sua trajetória e um programa de TV é 'ok' e fornece uma invasão interessante sobre o crescimento, amadurecimento e o "quem foi" sobre Chico Xavier. Tanto é verdade que ao final do filme, durante os créditos finais, Daniel Filho coloca trechos em que o próprio aparece e ninguem se retirou da sala de cinema do Leblon 1. Todo mundo ficou ali, revendo Chico, escutando, prestando atenção, comparando ele à Nelson Xavier - Daniel Filho conseguiu deixar todos interessados e atentos! Há quem diga que até interessado em ler sobre espiritismo.
Um roteiro pontual – mostra Chico Xavier em três momentos de vida – criança (Matheus Costa), adulto (Ângelo Antônio) e já senhor, (Nelson Xavier). Todos os três atores com um trabalho excelente! Saliento ainda o trabalho de Ângelo Antonio
– um ator seguro, com intimidade com a câmera e que conseguiu atribuir ao seu “Chico” requintes, minúcias e detalhes idênticas ao verdadeiro – Parabéns!
O filme ainda conta com a tocante história sobre o rapaz que foi absolvido de seus crimes devido a uma carta psicografada por Chico Xavier. Tony Ramos é Orlando, um diretor de TV cético e que não acredita em Chico Xavier. Porém, após receber uma carta do mesmo, tudo muda de figura...

Um filme que poderia ser contado com 30 minutos a menos mas que conta a história 'direitinho'.

Depois de ser responsável pelos voluptuosos resultados de "Se eu fosse você", filme sem grande personalidade, mas engraçadíssimo, agora vem, representando a Retomada com imponência – recorde de bilheteria do cinema nacional com este - Daniel Filho 'parece' procurar alçar vôos diferentes - menos caricatos, menos ‘POP’, mais trabalhado e com cara de cinema.

Fica a dica, para seguidores de Chico e o Espiritismo.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

"O segredo dos seus olhos", 2009, Campanella


Ocorre, em 1974, um crime - uma mulher de 23 anos é brutalmente assassinada, não há suspeitos aparentes e tudo gira em torno de ser mais um caso sem resolução. Porém, um oficial de justiça Benjamín Espósito (Ricardo Darin) acaba por se envolver com a história e convence uma promotora de ir atrás de pistas. Vinte e cinco anos mais tarde, já aposentado, Espósito, escreve um romance se baseando no caso e nos fatos dessa história e resolve mostrar para o viúvo da moça assassinada. Ali, além de novas informações, surgem uma série de sentimentos à respeito do “deixar passar” e da capacidade de ir adiante com a vida.

O filme tem como linguagem cortes temporais que fazem ligação entre o passado e o presente - trazendo à tona ora elementos de suspense sobre o crime em si e outrora alguns mais dramáticos, sobre o sofrimento causado às pessoas envolvidas.

Neste vai-e-vem, Espósito, confronta-se com seu passado e com uma incapacidade de dar fim à capítulos de sua vida.

Campanella, portanto, transforma um thriller policial numa obra onde o personagem central questiona sua vida, suas escolhas, perdas e vitórias ao redor do tal crime. A direção consegue misturar (literalmente) elementos de suspense e drama que dão, justamente, um caráter único ao filme – algo realmente diferente e conduzido na medida certa, nem melo dramático e nem de thriller boboca.

Com formidáveis atuações, texto elaborado, pitadas de suspense e um ‘gran finale’ digno de queixo caído, "O Segredo dos seus olhos" se trata de mais um sucesso argentino - Não é à toa que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Parabéns Campanella!!

Fica a dica!!!

"Os famosos e os duendes da morte", 2009, Esmir Filho


Ao meu lado havia um grupo de adolescentes, de seus 12-14 anos de idade assistindo o filme de Esmir Filho. Pérolas como, “não estou entendendo nada!” ou “Esse diretor tomou um ácido!” e mais, “Não acaba nuuuuuunca!” fazem do filme deste jovem diretor o grande atrativo. Justamente por Esmir optar em ‘texturizar’ seu filme, dar a ele uma forma, cor e linguagem única, “Os famosos e os duendes da morte” aparece como um longa-metragem extremamente autoral, ousado e com 'look' de obra de arte. Percebe-se facilmente que cada plano foi pensado meticulosamente, e que sendo assim, cada um deles tem um significado importante e uma intenção para estarem ali.

O filme conta a história de um garoto de 16 anos, fã de Bob Dylan e habitante de uma minúscula cidade rural do sul do Brasil. Ele tem acesso ao restante do mundo apenas por meio da internet, e assim passa as horas diante do computador imaginando a vida e a vida dos outros. Faz da interface virtual uma ferramenta para socializar, namorar, dividir e saber das coisas. Numa cidade extremamente limitada, vive esse garoto com anseios de gente grande, de gente urbana e que gosta de Bob Dylan.

Desta forma, Esmir, dirige um filme belíssimo, poético e nada vago. Pelo contrário, que trabalha justamente a inquietude, os anseios e dúvidas de uma época na vida de todos que passa de maneira aflitiva – a adolescência.

Assim, Esmir conta a história de um garoto, mais um entre milhares, que fazem da vida 'virtual' um elo entre a angustia de uma vida isolada e o 'mundo', as coisas e o Bob Dylan.

Um outra forma de assistir - calma e contemplativa - Outro tempo, outra experiência.

Fica a dica para olhos sensíveis.

"Um homem sério", 2009, Irmãos Cohen


Michael Stuhlbarg interpreta Prof Larry Gobnik, um homem, como sugere o título, sério. Sim, ao menos, aos olhos de todos à sua volta: no emprego, com sua família, sua esposa, os amigos, os vizinhos e a vizinha gostosa.

Prof Gobnik é um judeu ordinário, um professor de física ordinário, tem uma esposa ordinária, filhos mais que ordinários, vive num bairro ordinário, numa casa ordinária e rodeado por vizinhos ordinários – ou seja, vive uma vida ordinária - aquela que ‘todos’ desejamos e imaginamos que seja perfeita – que não fede nem cheira. Meio ao estilo dos “Simpson’s”?

Neste longa, os Irmãos Cohen, colocam em pauta esta vida ordinária através de um viés religioso (o judaísmo), e assim, revelam o que é ser “sério”, honrar a família e as tradições, ser honesto com a comunidade, ser fiel à esposa, etc, etc; sob o ponto de vista de Larry Gobnik. Ao contrário de Homer, Larry, tem um emprego louvável e não se mete em enrascadas como o chefe da família Simpson, por incompetencia e/ou ignorancia. Muito pelo contrário - Larry leva uma vida impecável - paga contas em dia, não trai a mulher e cuida dos filhos. Tem uma responsabilidade moral consigo e com os outros inabalável. Porém, essa sua 'conduta correta' o leva também a uma outra faceta - a de um homem incapaz de fazer ou pensar o mal e a uma inabilidade em ser assertivo - estas são suas fraquezas e onde justamente, se baseia o filme.

Em “Um homem sérioJoel e Ethan Cohen procuram investigar essa conduta ‘ordinária’ da vida sob o ponto de vista dos outros que orbitam ao redor do personagem de Larry. Desta maneira uma centena de incidentes acontecem onde a paciencia, a moral e a lisura do mesmo é posta à prova. Como dito antes, sob um viés religioso, Larry, então, resolve achar uma solução para seus dilemas com os rabinos da comunidade – e de maneira muito engraçada e irônica, todos eles trazem consigo 2 características fundamentais – a pose de que tudo sabem – e a verdade latente – de que nada sabem.

Assim, quase desmoralizado e se sentindo à beira de um ataque de nervos, impotente diante dos absurdos que lhe são apresentados, Larry resolve refletir sobre sua conduta durante sua vida e sobre os outros. Assim, posso parafrasear uma das máximas de J.P Sartre - "O inferno são os outros!".

Assim como em “Onde os fracos não tem vez” não há catarse do personagem central; esta fica portanto por conta e risco do espectador, que entre gargalhadas, se depara com um 'finale' exótico, diferente e perturbador.

Para mentes desacostumadas com o óbvio.

Fica a dica.

"Meu amigo Charlie Brown", 2010, Alonso Barros



Quem não é fã dos personagens criados por Charles Schulz?

Confesso que fiquei na dúvida se a peça era para adultos ou para crianças. Charlie Brown? Pensei; às 16:00? É para crianças! E é. Mas, para supresa geral, o texto, que de infantil não tem nada, traz questões sobre a vida, futuro e as dúvidas mais comuns à adolescentes, e sendo assim, atrai adultos à participarem mais atentamente do espetáculo. Dirigido por Alonso Barros, a versão brasileira de "You're a good man Charlie Brown" é executada com qualidade tanto no que concerne voz, dança e música e assim traz uma energia digna daquela vista na Broadway e não deixa a desejar.

Com um elenco afinado e que se propõe a deixar o texto mais palpável e claro, “Meu amigo Charlie Brown” se torna um musical que pode agradar à todas as idades - Inserções musicais de bom gosto, boas músicas, interpretações corretas e tons bem infantis dão a criançada um festival de cores e sons onde o lúdico aparece e permite os pequenos viajarem com a turma toda de Snoopy.

Atenção especial aos atores que fazem – Charlie (Leandro Luna), Lucy (Paola Capovilla), Linus (Thiago Machado) e claro, Snoopy (Fred Silveira) - estão idênticos aos personagens. Fred Silveira compreendeu com exatidão a gênese do cão que quer ser gente - está impagável e com uma expressão corporal de tirar risadas a todo instante.

Para quem assistia aos desenhos quando pequeno, um boa sessão nostalgia, e para os pequenos que ainda não conhecem essa turminha, um espetáculo para lá de divertido, agradável e colorido.

A peça tem duração de 1 hora e pouco e passa numa boa.

A dica fica, para maiores e menores.

Ps: só uma pergunta para Linus - Por que 'paninho' e não 'lençolzinho'?