domingo, 28 de fevereiro de 2010

"Um olhar do paraíso", 2010, Peter Jackson


Conta a história de Susie Salmon (Saoirse Ronan), menina de 14 anos, que é assassinada por George Harvey (Stanley Tucci), mas permanece numa espécie de limbo tentando contato com a família viva. (ringing any bells???) De um lado a menina-fantasma indignada com sua morte, do outro lado a família abalada não querendo largar mão da busca pela filha e a justiça.

Um olhar do paraíso” une thriller policial com os temas drama, superação e morte de um ente querido. Peca, justamente, por não firmar um ponto, um argumento e permanece durante duas horas numa balança, pende para um lado e para o outro, deixando qualquer um doido na cadeira.

Bem dirigido, com bela fotografia, roteiro instigante e três atrizes excepcionais – Rachel Weisz, Saoirse Ronan e Susan Sarandon – “Um olhar do paraíso” te leva a crer a cada bloco de 15 minutos, por estes e outros poucos motivos, que vai haver algo surpreendente, que faça sentido, mas infelizmente não acontece.

Um dos piores filmes do ano. Talvez dizer apenas isso seria ao mesmo tempo o óbvio, e no mínimo leviano, se não forem apresentados os motivos. Vamos lá:

  1. Pegue uma pitada de “A Viagem” (novela global, de Ivani Ribeiro), misture 200g de “Ghost – do outro lado da vida”, acrescente à massa “Xuxa e os Duendes, salpique “A fonte da Vida” e tempere à gosto com qualquer, eu disse QUALQUER, thriller policial-suspense-serial-killer-americanóide, ET voilà: Um olhar do paraíso”.
  2. Ou seja – Não!!!
  3. Sim, “Xuxa e os Duendes” – há uma menina que claramente saiu de lá vestida de “Pocahontas” e que certamente não concluiu nem o primeiro semestre da escola de teatro.
  4. Susan Sarandon – WHY?, OH, WHY IS SHE IN THE FREAKIN MOVIE??? Não há sentido, função, peso ou argumento para a existência dessa personagem no filme. Muito menos o motivo dessa escalação. Susan, ao menos, consegue até neste filme, nos dar momentos engraçados, bem-humorados e bem encenados.
  5. Stanley Tucci – Concorre ao Oscar 2010 como coadjuvante. Hmmm.....Hmmm...Ok! Stanley Tucci é Mr Harvey, sabidamente o assassino, e também um homem de uma cidadezinha de 8.000 habitantes, que mora sozinho, quase nunca sai de casa, com cara de nerd, introspectivo, e que ainda faz maquetes de casas, constrói armadilhas para patos, alçapões e afins. Seria o primeiro suspeito? Sim! No filme? O último, claro...
  6. Peter Jackson não se decide, ou melhor, a autora, Alice Sebold, não se decidiu, qual seria o estilo da história – Drama, policial, auto-ajuda... Fica difícil realizar um filme onde nitidamente é possível ver uma mistura de gêneros.
  7. Mark Whalberg – Não! Amigo, faça a todos um grande favor - 'atue' somente em filmes de ação...
  8. O chapéu voador! Há um chapéu ao vento que atravessa o quadro numa das cenas. Motivo de riso geral na sala do cinema.
  9. Há um limbo específico para menina assassinadas - ?????

Seria possível continuar, mas prefiro deixar no esquecimento a sessão de cinema do sábado a noite.

Vale a pena se for para ver Saoirse Ronan em cena. Ela é ótima, como visto ano passado em "Atonement"

Concorre ao Oscar 2010 - Melhor Ator Coadjuvante - Stanley Tucci

Dica? Que dica?


sábado, 27 de fevereiro de 2010

"500 dias com ela", 2009, Marc Webb


Um gesto e o amor.

Tom (Joseph Gordon-Levitt), um escritor de cartões, daqueles que damos a quem amamos aos 13 anos de idade, é um eterno apaixonado. Acredita no amor, no relacionamento, no ‘ser felizes para sempre’. Summer (Zooey Deschanel), ao contrário, desafia o amor. Alega não acreditar nesta ‘coisa’, e não se vê namorada, casada e afins. “500 dias com ela” então é, como afirma o narrador – “Não é uma história de amor”. Aliás, não é um filme sobre uma história de amor específica, mas é sim, sobre a ‘coisa’, o amor.

Com uma uma edição esperta e criativa, o diretor, estreante em longas, Marc Webb conta a história de Tom e Summer, uma que não dá muito certo, sem ordem cronológica e enumerando os dias de trás para frente e vice-versa, contados a partir do dia 1 até o dia 500, claro. Diferente e divertido!

Enquanto saem, Tom procura ser o melhor namorado possível, tentando tirar de Summer algum ou qualquer sentimento. Até que...

Bem, só assistindo o filme...

A idéia que fica é uma interessante – Seja o mais verdadeiro possível, viva esse amor enquanto ele pulsa dentro de você, seja FIEL a ele, e mesmo que ele não dê certo, pois é mais provável que não dê, ao menos você o viveu, riu e chorou, caiu e levantou, sacudiu a poeira e está mais forte e esperto para o próximo. A pessoa que não te quis, ao menos terá, eternamente, um carinho especial por você, e como tudo muda, e o mundo dá voltas, por que não poderia olhar para trás, voltar atrás e.........................................................................................

Algumas pessoas têm a idéia fixa que a rejeição é terrível e que dela só se tira quem está por cima ou por baixo. Não. Como visto no filme, o encontro de duas pessoas, sendo cósmico ou uma coincidência, depende do momento de vida de cada um, de uma série de fatores, e cabe, somente a eles, saber administrar os ganhos e as perdas.

Num dia uma coisa, noutro outra coisa.

Com um gesto se vê o amor. Para os fracos e os fortes. Basta querer ver. Tom quis ver até se esgotar.... e você?

Um filme bem contemporâneo.

2 coisas bem interessantes - a trilha muito bem escolhida, e uma sequência onde há um 'split-screen' dando ao espectador uma cena do filme segundo as expectativas de Tom de um lado, e uma onde a realidade acontece. Muito bem bolado!

Fica a dica.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

"Invictus" , 2010, Clint Eastwood

Roteiro de Anthony Peckham, baseado em livro de John Carlin.

Mesmo romanceado demais, os dias que se passaram na África do Sul depois que Mandela assumiu o poder são contados de maneira graciosa.

Mandela, segundo visto no filme, assume para si uma postura política onde não entram vinganças, rixas antigas e a própria questão do apartheid. Sendo assim, delega ao time de rugby nacional, inicialmente da torcida branca do país, a incumbência de ser campeão mundial, trazendo então para esta vitória uma força que celebra uma nova era para a África do Sul, uma em que todos juntos irão construir um novo país, sem preconceito, injustiça e diferenças.

Um filme que fala de determinação, superação e glória.

Um que poderia ser denso e dramático, mas que se baseia no humor, nas tiradas e na pureza do tema.

Um roteiro simples e um filme excepcional.

Às vezes, menos é mais.

Morgan Freeman é Mandela. Concorre ao Oscar 2010 ao lado de Matt Damon que também concorre, mas como coadjuvante. Nem Morgan, nem Matt foram exigidos neste filme. Não há em "Invictus" cenas em que estes atores encontram-se "nus feitos minhocas". Ambos trabalham muito bem, mas sobre uma base segura. Morgan Freeman consegue nos dar Mandela em cada gesto, olhar, respirada, movimento de boca e no piscar - Impressionante!

Nos momentos 'emocionantes' as trilhas poderiam ter ficado de fora – as imagens falam por si só.

Clint Eastwood emplacou mais um. Palmas de pé para “Invictus”.

Emocionante, de tirar o chapéu e dificil de conter as lágrimas.

A dica SUPER fica!

"Invictus"concorre ao Oscar 2010 nas seguintes categorias:

Melhor Ator - Morgan Freeman

Melhor Ator Coadjuvante - Matt Damon

"NINE", 2010, Rob Marshall & Anthony Minghella


Conduzido de maneira muito delicada, “NINE” é um musical pra lá de agradável e divertido. “Very, very fine, I should say! As entradas musicadas não são massantes e repetitivas, pelo contrário, possuem ótimas músicas e muito bem encenadas. Muito bem entrecortado pelos momentos de musical e história, “NINE” traz 8 atores fabulosos e abusados brincando de fazer musical.

NINE” é um filme sobre homens adultos que permanecem infantis, mimados e com uma sensação onipotente desagradável sobre tudo. Principalmente sobre as mulheres...

Daniel Day-Lewis interpreta Contini, um celebrado diretor de cinema que vive o auge de uma carreira de sucessos e um momento de sua vida muito particular – quando decide dirigir seu mais novo filme depois de produzir dois fracassos, sua diginidade, serventia e genialidade é posta à prova. Paralelamente, e necessário salientar – conduzido de maneira belissísima e cativante – as mulheres de sua vida surgem ou pairam como sempre fizeram causando momentos ímpares, de decisão, conflito, angústia, amor, paixão, companheirismo e ciúme, claro.

Graças a uma montagem inteligente, perspicaz e moderna e, claro, a um elenco de estrelas magnífico que compõem as mulheres de ContiniSophia Loren (mãe), Nicole Kidman (estrela de cinema e musa inspiradora), Penélope Cruz (amante) que concorre ao Oscar 2010 como atriz coadjuvante, Marion Cottilard (esposa), Judi Dench (amiga e conselheira fiel) e até Fergie (sim, do Black eyed peas, espécie de profissional do amor de sua infância), e com uma interpretação justíssima e pontual por parte de Daniel Day-Lewis, como de praxe, “NINE”, é um excelente programa, uma história comum, num lugar comum, mas contada com uma magia deliciosa dos musicais americanos. Provoca não só um questionamento sobre como lidamos com a vida em geral, mas como deixa um pensamento sobre como nos devemos lidar com as mulheres ao nosso redor – criaturas adoráveis e que merecem, ao menos, um olhar empático em direção a forma e a vida que dão ao viver em si. Abro um parêntese em homenagem ao plano final – muito bonito!

Fica uma frase do filme:

You’re just an appetite, and if you

stopped being greedy you’d die. You

take everything, and I’m empty. Everyone is left empty once you have eaten”.


Fica a dica.


"Nine "concorre ao Oscar 2010 nas seguintes categorias:

Melhor atriz coadjuvante - Penelope Cruz

Melhor figurino

Melhor direção de arte - Impecável...

Melhor canção - "Take it all" - Por coincidencia, música que acompanha a frase escolhida acima, interpretado por Marion Cottilard

http://www.youtube.com/watch?v=7PEovhkXekI

"Algumas vezes não crescemos, e nosso charme, nosso carisma podem repousar nisto. Deus não dá asas as cobras... Talvez com o cinema seja possível fazer o que na vida nos parece inatingível, inexorável e irreal."(...)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

"A Máquina de Abraçar" 2010


José Sanchis Sinisterra é um investigador do trabalho teatral e tem como meta 2 coisas principais: de que o teatro deve ser uma ferramenta cercada pela filosofia, pela ciencia e que para tanto é necessário um teatro diferente, que involve a platéia e que nutre na mesma um caráter investigativo e que discute juntos aos atores os personagens, o drama, etc.


Dito e feito. Uma peça de uma delicadeza e simplicidade adorável. Tanto Marina Vianna como Mariana Lima estão ótimas em cena, e ambas compõem juntas um relação médico-paciente muito crível, emocional e dificil. A paixão pelo autismo demonstrada por Marina Vianna é exaustivamente transferida ao espectador que fica ávido em conferir, escutar, ver e sentir o que a personagem de Mariana Lima tem a dizer. E assim é a peça: Momentos mágníficos trazidos por Mariana Lima como a autista Inês, onde se vê um trabalho maduro, corajoso, seguro, investigativo e provocador.

Por outro lado, arrisco dizer que a peça em si, poderia ser mais enxuta, pois não aprofunda questões do autismo e se repete um pouco na relação entre as duas.

Mas é, como dito acima, uma adorável experiência sobre o assunto, repleto de frases e pensamentos que permanecem na cabeça do espectador ao sair do teatro.
Isso é teatro - uma experiência transformadora.

Fica a dica.

PS: a última cena, a do abraço, é simplesmente impagável...