domingo, 4 de setembro de 2011

"Árvore da Vida", 2011, Terrence Malick


Este ano o filme vencedor do Festival de Cannes obteve um acolhimento sui generis. De um lado, ovações, gritos e uma plateia surpreendida por uma sucessão de imagens, figuras e metáforas impressionantes. Do outro, rostos pasmos com a ousadia de um diretor, que ao experimentar e transcender, criou um filme de complicada estrutura, e que não conquistou os mais conservadores. Sendo assim, uma falta de empatia latente ecoou naquela sala de projeção.

Terrence Malick, o autor da proeza, é conhecido por aparecer pouco na mídia, por fugir de eventos sociais e até em pedir para que sua imagem não seja usada em material promocional. Característica que torna portanto seus roteiros mais enigmáticos. Formado em filosofia, e mais precisamente, sob a “tutela” dos ensinamentos de Heidegger, é natural que se entenda o ponto fundamentalmente existencialista de seus filmes.

Em linhas breves, o movimento existencialista preconiza que a visão do homem e o sentido de sua vida, se dá a partir de suas próprias experiências e do subjetivo. Que o homem não foi criado para uma finalidade assim como os outros objetos, e que ele se faz em sua própria existência. A experiência, assim, precede a essência. Finalmente, que justamente esta falta de sentido e direção ‘correta’, que dá a liberdade ao homem, é o que causa ironicamente sua ansiedade, sofrimento e desespero, e que o guiará até a morte, de onde não há saída. Segundo Sartre, somos um eterno devir, de ideais e ações, e o Nada aparece como a grande sombra ou dívida da existência humana.

Terrence Malick faz uso dessa premissa em pelo menos alguns de seus filmes. Badlands, seu 1o longa-metragem, discute justamente o que o homem pode fazer com sua liberdade. Além da linha Vermelha aborda o subjetivo, o psicológico, as relações e suas consequências, e assim tem apenas como pano de fundo, o cenário da guerra.

Malick sublinha, portanto, exatamente o que caracteriza o ser humano – a capacidade que temos de nos interrogar sobre o sentido da vida. E o que é O Grande Plano? Sua tese é tentar descobrir como o homem irá fazer para saltar de sua condição cotidiana para atingir um verdadeiro “eu”.

Desta forma, fica clara a vontade de Malick em realizar um filme que explore as origens da vida na terra. Uma fábula que palpita uma resposta através da história de uma família e suas relações com o amor, a morte, reconciliações e o sofrimento. Uma história culturalmente e historicamente significante.

Divago.

A Árvore da Vida será, portanto, a única crítica deste blog a não ganhar uma resenha.

Pois não é necessária.

Terrence Malick é um homem altivo.

Constituiu tanto tecnicamente como filosoficamente uma obra única e singular.

Comprovou que fazer cinema vai além de vãs filosofias (e métodos) e que experimentar é algo sinistramente enriquecedor.

Tentar compreender a vida, é senão a maior, uma das mais interessantes questões que nos diz respeito.

Uma experiência cinematográfica inesquecível.

E nesta afirmação não há juízo de valor.

Fica a dica.

2 comentários:

  1. Gostei da tua opção de não fazer sinopse deste filme, o melhor do ano dele na minha opinião. Fica claro que percebestes o óbvio em relação à ele: é uma obra para ser contemplada e sentida e não explicada. Seu escopo é tão gigante e olho de Malick abrange tanta coisa que sinto pena dos amantes da setima arte que nao conseguiram ver este filme no cinema, na tela grande, onde ele merece ser experienciado.

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