segunda-feira, 24 de maio de 2010

"Os homens que não amavam as mulheres", 2010, Niels Arden Oplev

Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist), um jornalista renomado, está diante do fim de sua carreira após episódios envolvendo acusações mal-sustentadas e assim é sentenciado a prisão.
Um magnata e admirador resolve então oferecer uma bolada para Blomkvist, tendo ele que cumprir apenas uma tarefa – dar a continuidade a investigação do sumiço de uma sobrinha ocorrido há 40 anos. Tendo nada a perder e faltando menos de 6 meses para se apresentar a justiça – Blomkvist aceita o trabalho e passa a fazer uma ferrenha e meticulosa investigação.

A família sueca Vanger, magnatas do aço, habitam uma cidade isolada de todos numa ilha minúscula e pouco povoada, afastada de Estocolmo. Todos os membros da família tem um só interesse – conseguir uma fatia maior da herança deixada pelo patriarca Henrik Vanger.

Uma das herdeiras, 40 anos atrás, desapareceu e o responsável continua importunando o patriarca. Há quem diga que é só para aborrecer o velho, há quem suspeite que seja para causar um piripaque no mesmo.

Paralelamente em Estocolmo, uma hacker profissional, Lisbeth Salander (Noomi Rapace), contratada para penetrar nos arquivos de Blomkvist com o intuito de averiguar sua condenação, se depara com o material referente ao desaparecimento da tal menina. Aos poucos Blomkvist vai acumulando novas pistas e tirando outras conclusões a cerca do caso. Até que um dia Lisbeth invade seu CPU mais uma vez e, através de um insight, dá a ele uma informação que pode resolver o início deste quebra-cabeça. Logo, Blomvist e Lisbeth se encontram, e juntos dão continuidade à busca.

Notavelmente, um thriller policial escrito com maestria, digno de Agatha Christie, ou melhor. Stieg Larsson entregou à sua editora a obra “Os homens que não amavam as mulheres” pouco antes de morrer subitamente, aos 50 anos, em 2004. Infelizmente, não ficou por aí, para descobrir que sua história venderia milhões de cópias em todo mundo e assim, chegaria ao cinema de maneira tão bem realizada.

O filme, dirigido por Niels Arden Oplev, traz uma firme direção que fornece momentos intensos, excitantes e não permite que o espectador se canse com suas 2h30 de fita. Ter tantas tramas, informações e núcleos em paralelo dão uma sequencia de fatos enlouquecedora que realmente alavancam o filme e dão a ele um diferencial. Quando em comparação aos thrillers americanos, “Os homens que não amavam as mulheres” deixa-os no chinelo. Mesmo tendo alguns momentos mal explicados, este thriller arranca da platéia atenção total justamente quando se espera um clichê, e uma surpresa surge diante dos olhos.

Há de tudo – suspense bem dosado, novas pistas que causam reviravoltas inesperadas, boas atuações, drama nada meloso e um ‘happy end’ diferente... Um divertido programa!

Se explicar mais, estraga.

FICA A DICA.

"Mother", 2010, Joon-ho Bong


Aparentemente, Yoon Do-joon, rapaz de seus 18 anos, sofre de algum tipo de demência leve e mostra ser um rapaz sem um futuro muito brilhante. Sua Mãe ( Hye-ja Kim - ótima atriz) pratica acupuntura ilegalmente e finge para o vilarejo que trabalha numa loja de plantas – um retrato cabível ao que se passa nestes lugares isolados – falta de infra-estrutura, educação, etc, etc. Os dois vivem com pouco e Yoon passa vida vida fazendo merda, dando uma de arruaceiro e enchendo a cara. Sua mãe, como toda mãe, finge que não vê e o mima 24/7.

Eis que um dia ocorre um crime e, por fatalidade, uma bola de golfe de Yoon é encontrada ao lado do corpo da vítima. Yoon, assim, é acusado e preso. Sua mãe, então, sai numa frenética ‘busca pela verdade’ como sugere o título, e se depara com uma única verdade máxima – o instinto materno.

Yoon ao longo do filme alega não se lembrar do dia do crime – estava completamente bêbado – isto, ao mesmo tempo que dá certo suspense, torra o saco do espectador – o menino foi preso simplesmente por haver falta de provas que possam levar ao verdadeiro criminoso, e assim se tornou bode expiatório de um crime, onde os investigadores são a prova cabal de que naquele vilarejo tudo ainda é muito rústico e primário.

Muito bem dirigido, com bela fotografia e alguns planos interessantíssimos, Joon-ho Bong, o mesmo diretor do ótimo "Tokyo" (2008), e o esquisito "O Hospedeiro"(2006) capta bem o universo de um minúsculo vilarejo coreano e entrega um filme esteticamente impecável – porém dramaticamente arrastado e inconsistente. – Há um tempo enorme gasto com cenas com a mãe tentando descobrir quem é o culpado, uma resposta que esteve ali o tempo todo. Ao mesmo tempo que o diretor conduz o filme de maneira poética, bela e com imagens fortes, o mesmo torna o filme chato, lento e com um desfecho um tanto quanto previsível.

Pode ser visto em casa.

A dica não fica.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Tudo pode dar certo", 2010, Woody Allen









Woody Allen traz Boris (Larry David) um ex-prof de Física, sexagenário, chato, crítico e insuportavelmente inteligente – exatamente como o é, ou pelo menos se vê, o próprio diretor do filme. Boris passa a vida passeando pelo East Village em Nova York, simplesmente por ter preguiça de fazer algo muito diferente disso, e assim, acaba se tornando um típico velho ranzinza mas com espírito crítico – adora sentar em restaurantes e bares com seus amigos ‘intelectuais’ e discute política, moda, comportamento, sexo e afins, dando sempre um olhar pragmático para as coisas, ou uma explicação ‘sensacional’ e hilária sobre o ‘ser’ humano, o universo e o big bang.

Eis que o destino o presenteia com Melody (Evan Rachel Wood) - uma menina 45 anos mais nova, fugida de casa, vinda do interior do Mississippi, incrivelmente limitada, porém, lindinha e simpática. E assim, eles se casam... Esposa? Pois, é. O título “Whatever Works” sugere justamente isso – quem ‘caga’ regra acaba se deparando ao longo da vida sempre com algo inusitado, que inicialmente não preenche pré-requisto algum, mas que de certa forma – FUNCIONA.

Em outras palavras, quando é que um prof de Física cogitado para o Nobel, tido como gênio, iria se relacionar com uma ninfeta estúpida além da imaginação? Nunca. Pois, graças a Woody Allen, estas entre outras pérolas existem, acontecem o tempo todo e são apresentadas na fita. Somos apenas, segundo Allen, uma raça, que além de não ter dado certo, uma que insiste em não enxergar o que está debaixo de nossos narizes e não aceitamos aquilo que pode ou não funcionar – e assim voltamos à máxima da modernidade – a experimentação! Pode pegar ou não, pode colar ou não, pode funcionar ou não – “Whatever works..” - Coisas aparentemente impossíveis podem dar certo.

Logo no início do filme, Boris quebra a '4a parede' e anuncia: se você é um daqueles que procuram um ‘feel good’ movie saia imediatamente desta sala e vá fazer aquelas coisas que está acostumado a fazer, aquelas coisas que você acha que adora fazer e aquelas outras coisas que impuseram você à fazer, que nada tem a ver com você mas que você faz e nem sabe por quê.

Mesmo sendo um filme muito verborrágico, e que portanto, necessita de BONS atores, “Tudo pode dar certo” traz um elenco afinado e engraçado, e personagens que passam por ‘transformações’ deliciosas e previsíveis. Allen, consegue conduzir mais um filme extremamente inteligente e de humor ‘rápido’ que exige de seus atores um talento nato para comédia, espirito 'sitcom' e afins. O personagem de Larry David evidentemente se apropriou da 'persona' de Woody Allen e brinca e se esbalda com um texto rico e repleto de ideias e 'allenices'.

Quando Woody Allen 'resolve' todas as questões ditas 'humanas' - relação conjugal, sexo, a modernidade em si, entre outros aspectos - ele o faz, pelo menos, de maneira bem-humorada.

Mesmo tendo o aviso de que não é um 'feel good' movie, ele o é.

Um que permite certas pessoas refletirem sobre certezas na vida que não são tão certas assim.


Fica a dica

- para aqueles que adoram uma sátira, uma crítica e basicamente rir de si mesmos.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

"O Livro de Eli", 2010, Irmãos Hughes


Um andarilho, o fim dos tempos, Denzel Washington, uma direção promissora e uma fotografia bem diferente.

Parece interessante, não? Sim. Mas só parece, infelizmente.

Remetendo à “Mad Max”, o filme dos irmãos Hughes, traz como discussão algo que foge da moda atual - ao contrário dos filmes que procuram dizimar o planeta, este já se encontra tenebroso, arrasado e cinza - já houve a destruição e sobraram apenas alguns para contar a história, mais uma vez, como no filme de Mel Gibson, sobreviventes que voltaram à um comportamento bárbaro e que se destacam pelos atos violentos, marginais e até canibais. Desta forma, em "O Livro de Eli" a discussão principal é: Como reconstruir o planeta?

Assim,
Denzel Washington é ELI, um homem que recebeu a incumbência de uma voz do além de andar rumo Oeste, com a missão de levar a última bíblia e entregá-la onde ela for ‘requisitada’ e ‘necessitada’. Em seu caminho, Eli, se depara com motoqueiros arruaceiros, bárbaros, selvagens canibais e todo tipo de gente que sobra de uma destruição em massa da terra.
Logicamente, Eli é um exímio lutador e apenas com um facão e muita agilidade consegue dar porrada e derrubar literalmente todos que passam por seu caminho e que resolveram assaltá-lo, comê-lo e assim por diante. Algo muito excitante de se ver, porém, 'Ramboniano' demais. Eis que em seu caminho aparece Carnegie (Gary Oldman – ótimo como sempre) uma espécie de líder de uma incipiente cidadela que se forma em meio ao caos, logicamente também, liderado por ele através de força, ameaças e afins. E o que Carnegie busca? Advinhem? Sim, a bíblia – ele tem uma equipe formada por boçais musculosos que manda à procura da Bíblia e de outros livros. Para Carnegie, encontrar a bíblia é deter a ‘força’ que falta para conseguir liderar este povo, que com a palavra sagrada ele conseguirá ‘controlar, ‘dar esperança’ e ‘dar sentido’ a uma ‘nova era’.
Trava-se então um duelo entre o bem e o mal... e blá, blá, blá.... E como coloca Carnegie, "Este livro servirá para amparar a fraqueza e o desespero das pessoas!"

E respondendo a pergunta acima - Através da bíblia é possível a reconstrução... - Enfim, sem comentários.

Em meio a isso tudo, Eli, ainda por cima, é capaz de desviar de balas como 'Neo' em "Matrix", mas sem, olha que coisa - sem precisar daquela famosa desenvoltura... Pasmem!

O roteiro mostra-se no início espetacular.
A direção é impecável e com uma fotografia bem interessante – um cinza esfumaçado, sóbrio, com ausência de luz do sol intensa – ou seja, diferente. Denzel convence no papel que deveria ser de um Bruce Willis ou Van Damme e Gary Oldman é habilidosísimo – um belo ator que consegue até neste filme sobressair. Todos esses elementos se somaram e deixaram todos na sala do Cinemark de Botafogo atentos para o final – um deveras clichê, infelizmente.

Sabe quando se sai do cinema pensando – “Eles poderiam ter feito de outra maneira...”

Fica nítido que Denzel Washington, produtor do filme, tem uma tremenda fé em Deus. Ok. Mas daí abençoar um personagem com a divindade é de-mais.

Existem porém duas cenas que 'salvam' a ida ao cinema:

1. Cena hilária onde 2 velhinhos ligam um velho toca-discos e servem chá para Eli - O som? "Ring my bell"... muito espirituoso....!

2. Um plano onde a camera vai se aproximando lentamente do rosto de Eli e termina quase dentro de seu olho. Muito bonito - aliás, onde deveria terminar o filme...

Por fim, e não menos importante, deixo registrado aqui mais dois absurdos IRRITANTES que AINDA surgiram -

1. Comerciais ABSURDAMENTE visivéis da MOTOROLA e da OAKLEY - os óculos e mochilas do filme eram todos da Oakley.

2. O final do filme é estarrecedor - Com direito a pose de herói, slow motion, música emocionante de trilha, o colocar de óculos escuros e aquela sensação de dever cumprido entre pupilo e seu mestre - que nada tem a ver com o filme.


Depois de tudo isso,


A dica não fica, é claro.

domingo, 2 de maio de 2010

"Homem de Ferro 2", 2010, Jon Favreau



Em "O Homem de Ferro 2", Tony Stark (Robert Downey Jr) encontra-se à beira da morte devido ao aparelho que justamente dá vida à ele. Uma espécie de toxina é liberada em seu organismo e ao atingir 100% de contaminação, "bye-bye, Tony". Sendo assim, o mesmo passa a fazer macaquices com sua vida, já aceitando seu destino derradeiro, até que Nick Fury (Samuel L. Jackson) surge novamente e, desta vez, revela segredos que podem curar sua infecção e suas relações familiares passadas. Paralelamente, Ivan Vanko, conhecido como o vilão 'Whiplash' (Mickey Rourke), filho de um ex-físico do pai de Tony, resolve se vingar da família Stark, e assim, monta para si, uma espécie de 'armadura-elétrica-nuclear' e sai em busca do Homem de Ferro.

Roteiro semi-batido, mas...

Jon Favreau acerta mais uma vez!

Direção brilhante (à jato como merece o personagem), cuidadosa, meticulosa e perspicaz.

O roteiro, como na maioria dos filmes de super-herói, poderia ser mais eletrizante e bombástico e perde nos primeiros 40 minutos explicando, explicando e dramatizando quando
o negocio aguardado é a porradaria. Sim, sabemos que as cenas de porradaria são as custosas, e sim, entendemos!! Ficamos apenas esperando MAIS!! Por outro lado, se trata de um roteiro que apostou no humor e trouxe alguns toques bem ajustados de piadinhas e 'sarcasmoszinhos'...
Nevertheless, o filme "Homem de Ferro 2" arranca da platéia fortes emoções com suas ousadas cenas de ação e entrega um Homem de Ferro descendo o cacete nos vilões com mais vigor que no primeiro filme - utilizando novas armas, brincando mais de voar, derrapar e se
destroçar - Excelente!

Quanto aos atores - Ah! Mickey Rourke - Um dia foi eleito um dos piores atores de Hollywood! Ledo engano. Depois de "O Lutador" esta 'praga' aprendeu a fazer o negócio... É óbvio que
não é de se esperar muito de um personagem em "O homem de ferro 2", MAS, sou obrigado a decretar e admitir - o homem é bom. Sutil, expressivo no ponto, longe do caricato e com senso de humor. Impressionante.
Robert Downey dispensa comentários e está cada vez mais "Tony Stark" - prepotência, vulgaridade, exibicionismo e excelente humor sarcástico à tona.
Don Cheadle é Lt. Col. James Rhodes e encarna a figura conhecida nos gibis como War Machine - traje mecânico similar ao de Tony que o Governo Americano se apodera e enche de armas - e Don Cheadle, como sempre está impecável.
A sexy Scarlet Johansson faz a personagem Víuva Negra e, nossa querida Gwyneth Paltrow, bem, ah... Ok,... está fofa como a namoradinha, secretária e faz-tudo de Tony Stark, Pepper Pots.

Um excelente programa para fãs Marvel e fãs de 'action movies'.

Fica a dica

PS: a figuração foi escolhida na...na...na... prefiro não comentar.

PS: "Mjolnir" ao final dos créditos !! Não, não vou explicar - 'Google' it, god damn it!

sábado, 1 de maio de 2010

"Otro", 2010, Enrique Diaz


É sempre confortante poder admirar alguém.

“Admirar” (busquei significados) – “Considerar com espanto misturado de prazer.”

Não sei bem se é isso mesmo, mas acho que serve...

E é assim que se sai depois de assistir mais um espetáculo de Enrique Diaz. Admirando a criatividade desse cara. Desta vez "Otro” retrata através de esquetes a relação entre o homem e o tempo, o homem e suas expectativas, o homem e o esperar, o pensar, a relação entre ‘eu’ e o ‘outro’, quando o outro pode ser ‘eu’ ou até ele mesmo ou um outro ele, aquele de lá ou aquele dali.

Ficou confuso? Sim! Confuso, provocador e pertinente, eu diria.

Não é de forma alguma uma peça teatral com qualquer elemento ‘clássico’ ao não ser é claro, o “mise en scene”, um ensaiado e executado de maneira bem despojada, natural, quase inexpressiva... Não!

Expressiva mas suave. Com 'jeitão' de improvisado.

Enrique busca com sua trupe uma embocadura, um jeito de dizer tudo muito minimalista, contido, porém visceral. Não há um momento que não pareça verdade aquela confusão toda. Com um texto esperto e ligeiro tira-se em alguns instantes risos da plateia que se divide entre rir e concatenar as ideias ali apresentadas. Um ‘live-exercise’ for actors!! Bem dirigido, espontâneo e poético. Sim, além de tudo mistura-se ‘teatro’ com interfaces digitais, tudo muito simples, moderno e bacana.

Alguém disse na plateia – “Teatro é para entreter não é? Quer dizer, acho isso tudo muito diferente, legal e tal, MAS, depois de um tempo cansa, por que eu não estou de castigo aqui e eu já entendi a proposta...

Sim, de 'acuerdo', mas em partes. Não estamos de castigo e nem é para entreter, somente.

Eu li uma vez - "Criatividade consiste no total rearranjo do que sabemos com o objetivo de descobrir o que não sabemos." (George Kneller)

Uma fórmula vista em ‘A Gaivota’ de Tchecov em 2006.

Para mentes ávidas pelo novo, inquietas e interessadas por exercícios teatrais!

Fica a dica.

PS - um trecho de uma entrevista dele a respeito de "In on it" - "Mesmo pensando psicanaliticamente, qualquer imagem que você tem de si próprio ou do outro é uma construção. É uma forma de entender as coisas como mutáveis. Qualquer coisa, uma vez compreendida, pode ser transformada. Eu acho que no teatro é a mesma coisa. A gente fala de uma realidade e mostra que ela pode ser construída por meio do processo de criação, e as pessoas acreditam nessa realidade, mesmo sabendo que ela é construída. Esse é um processo muito interessante."