terça-feira, 17 de agosto de 2010

"A origem", 2010, Christopher Nolan



"X-men IV: The rebirth of Professor Charles Xavier"

ou

"Mission Impossible V: Inception"

ou

"Total Recall: back to ‘your’ mind!"

São os possiveis [e mais coerentes] nomes do novo filme de Christopher Nolan, “A origem” [Inception]. Uma viagem insólita para dentro da imaginação, ou melhor, dos sonhos dos outros.

Dom Cobb (LEONARDO DICAPRIO) é um exímio ladrão com um talento diferente – é capaz de roubar os segredos íntimos e valiosos das pessoas arrancando-os direto da fonte: do subconsciente. Cobb penetra nos sonhos de suas vítimas durante o sono, justamente quando a mente está em seu estado mais vulnerável. Especialista em espionagem corporativa, Cobb vê num último e complicado trabalho, a chance de se redimir de erros do passado - Ao invés de roubar uma informação, ele deverá plantá-la na vítima - O que pareceria um crime perfeito.

Mas mexer com a cabeça dos outros tem um preço alto. Algo que pode reagir como um inimigo perigoso que apenas Cobb conseguirá detectar.

"Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" - Lavoisier


Penetrar na linha tênue que separa a realidade dos sonhos é algo: surpreendente, inédito e fascinante.

Conseguir extrair informações: divertido e com referências à hipnose, logicamente...

Implantar idéias, manipulá-las e atingir êxito – hollywoodiano.


Por isso, talvez, “A origem” vale a ida ao cinema. É algo, aparentemente, diferente e inusitado. Christopher Nolan explora o que há de melhor dos filmes de ação – Os efeitos especiais, o suspense e os heróis.

Ali há algo jamais visto, que permite um simples filme de ação se tornar um especial, ao menos, esteticamente.

Assim como a famosa esquivada em câmera lenta de Neo {The Matrix}, Nolan criou uma série de novidades inacreditáveis e sensacionais – há quem diga até que algumas das cenas de “X-men: First Class” terão de ser modificadas em função das apresentadas em “A origem”.

Assim, sem mais, “A origem” vem como um Sr. Blockbuster com uma fuça de pensante. Algo jamais visto.

Fica a dica.

.................................................Mas será mesmo...?

Em 1900, em seu livro “A interpretação dos Sonhos”, Sigmund Freud defendia a idéia de que os sonhos refletiam a experiência inconsciente e era um guardião do sono. Ele teorizou que o pensamento durante o sono tende a ser primitivo ou regressivo e que os efeitos da repressão são reduzidos. Para ele, os desejos reprimidos são, particularmente, aqueles associados ao sexo e à hostilidade, os quais eram liberados nos sonhos quando a consciência era diminuída.”

Por outro lado...

“Para os cognitivistas, o sonho não tem significado psíquico como defende os psicanalistas, sendo, apenas, um epifenômeno do sono REM, e decorria da ativação de certas estruturas cerebrais, como, por exemplo determinados neurotransmissores. Isso significaria ter que reformular toda a psicanálise, já que a teoria dos sonhos é tão fundamental para a mesma” (o que é verdadeiro).”

Isto posto, finalmente - Durante o sono, nós podemos armazenar e reorganizar informações. Os neurônios que estão envolvidos na aprendizagem e memória repousam durante o sono, principalmente durante o sono REM (Rapid Eye Moviment ou Movimento Rápido dos Olhos, estágio em que estamos sonhando). Talvez esta seja a razão pela qual nos sentimos mentalmente ativos e descansados quando temos uma boa noite de sono, comparado ao que sentimos após ficar longas horas da noite acordados.

Fatos são fatos.

E, indiferente deles, Christopher Nolan criou “A Origem”.

A origem do que, exatamente? Não se trata de uma questão de crença. Se trata do fundamento, de teoria...

Quando se desconstrói uma idéia, ou cria-se uma é melhor fazê-lo com esmero e coberto de ‘saídas’ e idéias interessantes, não?

Afinal, o fantástico do lúdico, ou o interessante do que é fantástico, é justamente embarcar numa viagem mágica e repleta de uma nova ‘ciência’, um novo lugar com diretrizes e uma física diferente mas crível. Não?

Matrix, X-men, Avatar, Senhor dos Anéis, Guerra nas Estrelas....

Que Nolan é reconhecido por ser autoral, não é novidade. Filmes como “Amnésia”, “O grande truque” e o último e fantástico “Batman – Cavaleiro das trevas” fazem parte de sua filmografia enxuta porém imponente. Uma sustentada em personagens fortes e dramas psicológicos. E é através dela que pode-se dizer que justamente Batman passou a ser o longa-metragem (de super-herói) mais INTERESSANTE e menos BOÇAL já criado na história do cinema. E por que? Por que justamente é RETIRADO dele toda e qualquer parte lúdica, e trazido para perto, para um lugar-comum e possível. Depois de Christopher Nolan, o filho de Eike Batista, pode se tornar um super-herói. E Bruce Wayne é um homem triste e perdido. Ok...

A origem” é a cara de Nolan, pode-se dizer. E neste sentido, que bom! Temos aí mais um grande filme. Mas sob que ótica? Uma viagem fascinante para dentro do mundo dos sonhos, com os dois pés agarrados no chão. Ou seja, uma mistura entre o real e o fantasioso. Um palpite/teoria sobre a base e a fundação dos sonhos. E o problema - a descrição dos fatos e a explicação de um procedimento tão complexo são deixados de lado, como se fosse algo simples e desnecessário. Não há, em momento algum, explicações sobre a logística do negocio, e ‘au contraire’: há um filme verborrágico até a última instância, explicando demais, o que , justamente, NÃO PRECISA ser explicado – parecendo série de ação da AXN. A incoerência assume o enredo a todo instante, além de, como já dito acima, se tratar de uma viagem maluca para dentro da cabeça das pessoas. Viajar é fácil, convencer, meu caro, são outros 500...

É como se misturássemos e fizéssemos o encontro de Professor X com Neo. UAU! E o pior – o que poderia ser um filme ao menos metido á intelectualóide, se torna um onde só falta aparecer o Stallone, logo que todo o filme é permeado por uma perseguição, corridas contra o tempo, tiroteios e matanças sem fim.

Quando o filme é sobre um super-herói, a coerência deixa a fantasia se estabelecer na sala de cinema. George Lucas “viajou” ao criar os Jedis, mas ao menos deu a eles algum sentido, e a nós, uma explicação mais ‘léxica’ da coisa.

Alguém assistiu “Kick Ass”? O ponto está ali.

Pelo menos com um elenco excepcional, "A origem” se estabelece como um thriller psicológico, algo característico de Nolan, e que provoca certa comoção, sem sombra de dúvida.

Uma idéia formidável e mais que empolgante. Porém, frenético demais, ponderado de menos.

Não é de forma alguma um filme ruim. Pelo contrário, bom filme de ação – porém, um tanto quanto pretensioso e perdidinho, perdidinho...

Vale a ida ao cinema pela experiência. Depois, é o depois...

Esperava-se mais de Nolan, só isso.

A dica fica. (hunf!)

"Mary n Max", Adam Elliot, 2010


Mary Daisy Dinkle (Toni Collette) é uma menininha australiana de 8 anos de idade. É muito, mas muito curiosa.

Max Jerry Horowitz (Philip Seymour-Hoffman) é um nova iorquino de meia-idade - obeso, velho, cansado e cheio de manias. Nada curioso...

Mary tem uma mancha (de nascença) na testa, porta óculos ‘fundo de garrafa’ e, na escola, acham-na esquisitinha. Tem como hobby assistir ao seu desenho animado favorito. Max mora sozinho, passou a vida vendo televisão, come tortas e mais tortas, e é o legítimo ‘come-dorme’, espécie não rara do último século. Os dois tem 2 coisas em comum – uma qualidade única de serem bem diferentes, com seus defeitos, imperfeições, fraquezas e sombras.

E a, fatal, posição de excluídos, marginalizados e solitários.

Pelo menos é assim que se sentem.

Eis que uma dia, Mary, tomada pela sua abelhudice e curiosidade descobre o endereço de Max numa página qualquer de uma lista telefônica. Impregnada por um marasmo descomunal resolve, então, mandar uma cartinha para Max, aventurando-se na condição de ‘Pen-friend’ – atividade e relação estabelicida entre 2 pessoas que se escrevem regularmente via carta - outra daquelas coisas do ultimo século...

Max recebe tal novidade primeiramente com certo espanto. Mas, em seguida, de tão amáveis e fagueiras, as cartas são vistas como um novo universo que se abre – tanto Mary como Max aspiram por um amigo, um grande amigo e um melhor amigo. Alguém que se importe, que dê atenção e que saiba dividir as coisas boas e as ruins.

Estas, entre outras, são as pérolas do novo filme de Adam Elliot, “Mary and Max”.

Feito com massas de modelar, este 1º longa-metragem de stop-motion de A. Elliot é um onde impera um olhar a respeito de - religião, comportamento, família, trabalho, amizade.

A. Elliot escolheu direcionar este olhar através de personagens esquisitos e que jamais foram ou serão os 'populares'. Afinal, o que é ser popular? Filmes como “American Pie” respondem bem. E quais os malefícios de não sê-lo – Como dito no filme de A. Elliot, há quem já nasce com características propícias para a popularidade – beleza, vigor, força, inteligência, destreza, habilidades. E há aqueles que aprendem durante a vida. Mas há um 3º grupo de pessoas que não tem a mesma sorte ou mesma chance.

"Mary and Max" dialoga com este universo.

Existe um mundo de possibilidades, formas de ser e pensar que fogem à regra do que é ser popular, ‘excelente’ e especial. E é possível ser feliz assim mesmo.

Talvez, seja essa a mensagem de Adam Elliot. Ao mesmo tempo que Mary e Max se escondem e temem um mundo hostil e desafiador, ambos investigam formas de viver e de como se divertir e ser feliz. Não é preciso ser Brad Pitt nem Angelina Jolie para conseguir um lugar no paraíso, ou melhor, na terra...

A. Elliot, dono de um Oscar de curta animado "Harvie Krumpet"(2003), opta por protagonistas caricatos e proporciona, através de um delicado, desolado panorama além de divertidos bonecos, um exercício filosófico sobre a vida e os outros.

“Some are Born great,

“Some achieve greatness,

“Some have greatness thrust apon them…

And then… there are others.”

A. Elliot


Fica a dica!

domingo, 15 de agosto de 2010

"Salt", 2010, Philip Noyce


Como funcionária da CIA, Evelyn Salt (Angelina Jolie) fez um juramento: ao dever, a honra e aos EUA.

Sua lealdade é, então, posta à prova quando um delator russo dispara que Salt, na realidade, é uma espiã russa infiltrada com planos mirabolantes de assassinar ambos os presidentes russo e norte-americano. Salt sai, então, numa desesperada fuga, armada de sua extensa habilidade como agente, tentando provar sua inocência – uma fuga atravessada a todo instante por novas evidências e um panorama, digamos, quase inesperado...

Philip Noyce [diretor de “Dead Calm”, “Colecionador de Ossos”, “Jogos Patrióticos”, “Perigo real e imediato” e “O Santo”] é notoriamente conhecido por 2 qualidades – a de criar e dirigir filmes com uma tensão primorosa e incontestável e a de abarcar temas de caráter político sem se tornar maçante e enfadonho - uma ‘paixão’ clara pela guerra fria, naturalmente.

Tendo um prêmio da academia, um globo de ouro, e outra centena de prêmios – além de uma filmografia extensa, recheada e eclética – Angelina Jolie chegou a um ponto onde pode escolher bem seus trabalhos. A rainha incontestável dos filmes de porradaria incessante, Angelina, encontrou em Noyce um parceiro à altura – ou vice-versa: “Salt” é um pouco disso tudo - roteiro, diretor e coadjuvantes escolhidos com certo critério – como o Sr. Liev Schrieber – tornando-o um filme de ação mais que razoável.

Nos E.U.A filmes com espiões e cenas de ação é como Coca-Cola - todo mundo diz que não gosta, mas todos consomem. E o melhor: seja com Jason Bourne, Ethan Hunt ou As Panteras (ou quaisquer outros genéricos), assim como a Coca, todo mundo cai em cima procurando defeito. Sim, "Salt" não passa de mais um genérico tolo sem grande profundidade, mas nem por isso deixa de ser uma proposta, como dito acima, razoável dentro de seu nicho. Quando querem, sabem fazer filmes de ação com espionagem - "Salt", escrito pelo criativo Kurt Wimmer ("Esfera", "Thomas Crown affair"), é um filme com a dignidade de um James Bond e que faz homenagem à um clássico da década de 90, “O fugitivo” com Harrison Ford.

Não passa disso. Há momentos sacais onde as balam não acertam a ‘heroína’, ela é deixada com 2 [dois] guardas patéticos, etc, etc – aquelas situações ridículas que só acontecem no cinema ‘americano’. Mesmo ancorado em um roteiro previsível mas sob certo ponto, curioso, “Salt”, é dirigido com cenas de ação para ninguém botar defeito.

É isso: cine-pipoca norte-americano, nada inovador, com Angelina Jolie (sem suar 2 gotas e sempre com uma cara linda, impecável - catálogo da Gucci) com liçença para matar, e um diretor que sabe o que está fazendo.

Cada um sabe o que quer, não?


Fica a dica! Para os 'broders' de plantão.

PS:Vale a pena conferir outros filmes de Noyce – "Blind Fury", "Sliver", "Rabbit-pro0f fence" e "A Quiet american".

sábado, 14 de agosto de 2010

"Shrek - para sempre", 2010, Mike Mitchell


==== mAIS dO mESMO.

...?

Os criadores de Shrek foram gêniais.

Josh Klausner & Darren Lemke conseguiram se apropriar dos contos de fada, seus personagens, as histórias e seus vilões e compilaram um universo rico e hilário com uma competência invejável. Fizeram destes, deixados à margem, o que qualquer roteirista sempre sonhou em fazer - uma sátira bem bolada, inteligente e formidável, sem se tornar vulgar, piegas e infantil. Depois de Shrek, ninguem quer ser feliz para sempre, a terra do nunca NÃO é um lugar ideal e o pézinho da Cinderela tem frieiras...

UAU! Assim como a vida é...

Shrek é isso: um desenho animado sui generis - para pequenos e crescidos.

Isto posto, não é preciso dizer que todo este crédito vale para todas as sequências - Inclusive para esta última, "Shrek para sempre". Mas com uma pequena diferença e um certo desvio na rota:

Desta vez o ogro se cansa de sua vida de casado e de seus pimpolhos, e ao se deparar com a perda desta agitação toda, resolve correr atrás do tempo perdido.

Mediante um roteiro mais que batido e que explora o 'final feliz' - "Shrek para sempre" traz um ogro conhecido com uma nova diretriz - algo que além de frustrar, dissolve, justamente, a condição Shrekiana - o inédito e o caráter habitual do ogro que não quer as coisas tidas como 'boas'. Soma-se à isso, como em qualquer sequência ordinária, piadas repetitivas e nenhuma inovação, resultando portanto, numa genérica e simples duplicata - o que pode incomodar bastante.

Porém, feita esta análise pragmática da coisa, "Shrek para sempre" não é, de forma alguma, um filme chato. Principalmente se analisado exclusivamente. Tem (alguma) graça, encanto e idiossincrasias costumeiras, mesmo parecendo redudante ressaltar tal característica.

É um filme divertido e gozado. Period.

É certo que se espera sempre uma novidade. E não uma que transforma o personagem central, de preferência.

Peço então que não se comovam: não é necessário ir ao cinema. Deixe que ele invada a locadora mais próxima. Isto já é prestar homenagem suficiente a um personagem tão carismático.

Desta maneira os produtores receberão um recado bem dado.


a dica não fica.

A não ser para os não-muito-fãs, fãs-não-ansiosos e preparados, eu disse 'preparados-para-mais-do-mesmo'. ================================