segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"Viver sem tempos mortos" - Fernanda Montenegro


Um texto que reafirma o que nós já sabemos: Que somente atores extremamente sutis, de boas medidas e que trabalham com espontaneidade podem arrebatar a atenção do público -
mesmo com um texto literário trazido para o teatro.

Fernanda Montenegro traz a vida de Simone de Beauvoir de maneira simples porém viva!

Para quem tem interesse no tema e quem tem interesse em ver esta dama 'monologar' -

a dica fica.

Afinal, como ela mesmo disse ao final do espetáculo, "Fico lisonjeada com o carinho do público! Fico muito feliz de ver que muitos vieram assistir a esta peça, que na verdade não é uma peça, e sim, uma leitura de um texto literário, que eu resolvi fazer no teatro. A essa altura do campeonato, na minha vida, não tenho pudor em dizer que fico feliz e lisonjeada com essa receptividade".

É isso mesmo.
Não é teatro, não tem conflito e não tem ação. É a nossa atriz número 1 nos dando uma Simone reflexiva, existencialista e presente. Nada mais.

"Do começo ao fim", 2009, Aluizio Abranches


Konnichiwa !!! ........................................cinema e teatro, teatro e cinema.
Inaugurada a extensão do meu raciocínio perturbado, chato e (tento) sensato,.

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"Do começo ao fim" narra a história de dois rapazes, Antonio (Rafael Cardoso) e Francisco (João Gabriel Vasconcelos), irmãos, que durante a infância nutriram um carinho 'diferente' um pelo outro e que adultos, embarcam numa tórrida relação amorosa.

Um tema audaz: incesto e homossexualidade. Conduzido, talvez, como uma mão trêmula...

Há, durante toda a fita, tentativas de se criar um clima triste e dramático, um onde a própria relação dos dois se empenha em trazer à tona tantos conflitos e dificuldades, além de um amor inexplicável e invejável.

Em algumas cenas é possível ver que Abranches procura trabalhar com símbolos, imagens e que procura sem diálogos, se fazer entender. Isto é fazer cinema! Ponto para o filme!
Porém, nada além de risos e gargalhadas ecoaram nas salas de cinema.

Todas as cenas conseguiram beirar o ridículo e nada tocaram os espectadores.

-> A cena em que os dois tiram a roupa depois que a mãe morre - Seria a libertação e o momento em que os dois, já adultos, iriam finalmente se tocar? Pode ser, pode não ser. O tango e a neblina? A poesia lida? A masturbação virtual? A traição? Cenas com sentido dramático mas que são dirigidas de maneira equivocada e desprovido de sutilezas - Não há, em momento algum significado e dramaticidade que dê sustentação a estas imagens (mesmo elas lindas).

O filme se trata, portanto, e somente, de imagens de homens nús, beleza física e cenas quentes, ali expostas e enquadradas gratuitamente. Há até um momento "Baywatch" onde os dois saem do mar abraçados.

O que poderia ter sido um "Segredo de Brokeback Mountain" carioca, atual e contestador, se transformou num melodrama, água com açucar sem qualquer 'turning point' dos personagens centrais - No final das contas, o drama gira em torno da partida de um deles - à trabalho - "Hein...???"

A questão do incesto é esquecida e a única mensagem que fica é a de que 2 rapazes podem ter, e tem, relações afetuosas assim como um homem e uma mulher. Grande novidade!

Os dois atores se esforçam em dar uma boa interpretação mas são impedidos de ir além devido a um texto estranho, mal escrito e inabilidade por parte do diretor - Em vários momentos cometem pequenos erros que dão a intenção errada para as cenas.

Fica como algo mais que positivo a interpretação de Julia Lemmertz - de uma riqueza de detalhes, intenções, olhares, suspiros, deixas e tudo mais que um bom ator tem para oferecer.

Em suma, "
Do começo ao fim", não discute sobre o tema da homossexualidade, suas implicações ou o próprio incesto, e sim, passeia por uma estoriazinha de amor gostosinha de se ver.

Um tema ousado, forte e tão cativante que esgota-se através de diálogos sem sentido, atuações forçadas (salvo Julia Lemmert - genial!), cenas desnecessárias e uma direção, digamos, arrogante.

Tinha absolutamente tudo para dar certo - deixa apenas um trailer contestador...

O fato de se tratar de um filme de baixo orçamento não justifica em hipótese alguma a superficialidade da fita.

A fotografia de
Ueli Steiger tão esperada deixa a desejar também.

A dica não ficou... do começo ao fim!