terça-feira, 29 de junho de 2010

"Soul Kitchen", 2010, Fatih Akin


Tido até então como um diretor ‘sério’, Fatih Akin, brinca justamente com este rótulo que lhe deram, e apresenta “Soul kitchen”, sua entrada para um universo mais leve, divertido e menos intenso que suas outras obras.

Fatih, com apenas 36 anos, levou prêmios em Locarno, Berlin e Cannes pelos filmes Short Sharp Shock (1998), Head-On (2004) e The Edge of Heaven (2007, respectivamente). Filmes que abordam diferenças raciais e culturais, disputas e conflitos e principalmente uma discussão entre muçulmanos, turcos e alemães. Necessário dizer - Fatih é natural de Hamburgo e de parentesco Turco, sendo assim tem como interesse apresentar fitas que abordam legítimos choques de tradição.

Não à toa, é em Hamburgo que se passa seu novo filme, a despojada comédia, “Soul Kitchen”.

Zinos Kazantsakis (Adam Bousdoukos) é o proprietário de um restaurante, ‘Soul Kitchen’, instalado num velho armazém. Tem como clientela operários e moradores locais, pessoas simples, com gosto pouco sofisticado mas que batem o ponto todos os dias - A comida oferecida não passa de uma espécie de frango empanado com batatas fritas ou pizza.

Mas Zinos tem um sonho que vai além dessa vidinha frugal – quer se casar com sua namorada, mas esta, aspirante à modelo, se prepara para se mudar para China.

Zinos então, embarca numa de ganhar muito dinheiro para poder se mudar, e assim, contrata o chef de cuisine Shayn (Birol Unel) – conhecido pelo talento gastronômico e pelo gênio azedo e ardido. Assim, ambos dão um ‘upgrade’ no restaurante, modificando o cardápio, dando um ‘tapa’ no ambiente e deixando o local moderninho.

Para completar e atrapalhar a trama, o irmão de Zinos, Illias (Moritz Bleibtreu) é solto em liberdade condicional, e baderneiro como o é, se mete no negócio do irmão. A principio, Illias, promove festas com jazz e soul no restaurante atraindo a clientela, mas depois se mete com gente esquisita e perigosa. Zinos, ao deixar os negócios nas mãos de seu irmão, não imaginou o desastre iminente.

Um filme sem grande apelo social, mas que procura retratar de forma tranqüila, porem impactante, a vida que acontece em Hamburgo – De um lado uma cidade tradicional, do outro uma tomada pelo progresso, pelo caráter multi-cultural com gente de lugares diversos e as boates ‘hypadas’.

Fatih procura nesta fita não impor um olhar a respeito e deixa a trama em si e os personagens tomarem conta do choque cultural implícito.

Há um texto descontraído e com tiradas inteligentes – um lugar comum que permite a graça correr solta. Não é, de fato, um roteiro inteiramente original, esbarra no previsível, mas é um que remonta uma Europa cosmopolita interessante e trágica – uma economia estagnada, um povo sem dinheiro e aparentemente sem esperança, mas que enxerga nas pequenas coisas espaços para seguir em frente. Deleitando-se com sua cozinha, desfrutando dos prazeres da gastronomia e resolvendo os pepinos de seu irmão, Zinos percebe as vantagens de uma vida mais simples, não competitiva e com pouco dinheiro.

Fatih Akin comprova que é um diretor competente, capaz de abraçar diferentes gêneros, e cumpre o que se propôs à fazer - fazer as pessoas rirem.

Não é um grande filme, mas é um despretensioso, bem divertido e com certa originalidade.

"Há mais simplicidade no homem que come caviar por impulso, do que naquele que come nozes por princípio." (Chesterton)

Fica a dica.

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PS – trecho de uma entrevista com Fatih Akin:

Why did you decide to change styles with Soul Kitchen and make a comedy?
Fatih Akin: After the serious films I did, I really felt exhausted by this serious world, I was stuck in a serious world. I wanted to break out of that for one film. To try to do something different and challenge myself. Am I able to do something different? Am I able to make people laugh? I want to become a good director, whatever that means. I think that means, in my opinion, to handle different genres, to handle different things, you know, I have to try this out, I have to go into the risk and try so. I said to myself, “If I don’t do it now, I will never do it. It took a lot off grit and “desperence” because I had success with the serious stuff I did. Then came the risk and I said okay and I’ll be completely different. That’s why I was so happy and so relieved when I realised the reactions yesterday, that it worked much better than I expected.
I was so afraid.

-> Depois do sérios filmes que dirigi, me senti exausto por este universo austero - me sentia preso neste lugar. Quis me libertar através de 1 filme. Tentar fazer algo diferente e desafiador - Serei capaz de fazer isso? Serei capaz de fazer as pessoas rirem? Quero ser um bom diretor, dirigir gêneros distintos, quem não arrisca não petisca. "Se eu não fizer agora, jamais farei", disse a mim mesmo. Foi necessário coragem para abandonar uma esfera a qual cheguei ao sucesso. Por isso estou feliz e aliviado - observar as reações frente a este novo trabalho, foi ótimo, eu não esperava tão boas reações. Eu tinha medo.

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