sexta-feira, 8 de outubro de 2010

"The Killer Inside Me", 2010, Michael Winterbottom

No que concerne não só a histórias de ficção, mistérios escabrosos, detetives, crimes e mocinhas mas, especialmente, a um clima de suspense conduzido e narrado pelo próprio assassino, um nome surge altivo – o do norte-americano Jim Thompson.

Célebre autor da década de 50, Jim Thompson escreveu diversas obras que fizeram sucesso justamente por seu caráter de thriller de suspense ‘psicológico’. Um autor que arriscava entender as mentes mais desequilibradas e as raízes de um comportamento assassino. Jim Thompson fazia o que nenhum autor moderno ousou fazer: contava as histórias a partir do ponto de vista do sicário, exibindo suas motivações, seu juízo e sua frieza habitual - tudo isso com um humor negro na escala certa. Para Jim Thompson, não havia o bem ou o mal, existiam as ocasiões.

Atingiu seu ápice, precisamente, com "The Killer Inside" (1952). O psycho Lou Ford, é um xerife de uma pequena e amável cidadezinha americana. É amigo de todos, tem namorada, bom emprego, mas isso não parece cobrir todos seus desejos – há, porém, uma voz interna e uma ânsia para matar fria e deliberadamente. Eis que Lou mata o filho e a namorada de um outro xerife, o que causa um frisson colossal na cidade e que levanta suspeitas, justamente, contra ele mesmo. Com astúcia e inteligência, Lou é capaz de driblar a polícia local e se mantem impune. Todavia, Lou não contava com a participação de outros policiais e testemunhas surpreendentes. Aparentemente não satisfeito com esse quadro, entre interrogatórios e acusações, Lou passa a adquirir mais uma 'vontade estranha' e começa a planejar a morte de sua namorada.

Fato que o leva, necessariamente, a medidas desesperadas.

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Genericamente’, um livro ou filme assim baseia-se no "quem será o assassino?".

Vide os eternos Miss Marple e Hercule Poirot de Agatha Christie.

A narrativa centraliza-se nos crimes em si, no desenrolar dos fatos e numa investigação infrutífera, já que Lou se cerca por todos os lados. Mas não parece importante que os mocinhos descubram o mistério – eles já ‘sabem’.

"The killer inside me" preocupa-se mais com "por que raios o rapaz faz essas coisas" e "qual será o [triste] fim dele" - algo que promove diversos momentos impagáveis que revelam sua ‘lógica’ e a arquitetura de sua mente. Uma imaginação fértil que pode desafiar qualquer código de conduta.

Michael Winterbottom, o diretor, alega ter havido receios em relação a produção de "The Killer inside me". Disse que o maior desafio seria transpor para o cinema o universo de Lou, sua 'doença' e sua mente pervertida e mirabolante - conteudo explorado magnificamente por Jim Thompson.

"The Killer inside me" traz, basicamente, uma coisa relevante - Casey Affleck.

Graças a esse excelente e fresco ator, Winterbottom foi capaz de dar vida (e morte) à mais famosa história de Jim Thompson.

O ator é responsável por dar a Lou não só a frieza, loucura e falta de afeto costumeiras, como uma comicidade ímpar, com, literalmente ‘caras e bocas’ literalmente indescritíveis.

Permeado por bons atores, como Ned Beatty, Jessica Alba e Kate Hudson, "The Killer inside me", não se apresenta como um grande filme, nem especialmente arrebatador. Possui um texto que também não tira nota maior que 6.0, embora seja dirigido de maneira inteligente e correta. Winterbottom foi capaz de empregar agilidade e tensão de maneira efetiva, fazendo jus ao thriller escrito por Thompson.

Fica a dica de um legítimo Pulp Fiction.


Ps: entrevista com Casey Affleck

- http://www.femail.com.au/casey-affleck-the-killer-inside-me.htm

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