sexta-feira, 8 de outubro de 2010

"Comédia Russa", 2010, João Fonseca

Escrita pelo ator Pedro Brício, "Comédia Russa" é um deleite.


Conta a história de Aleksei (Rodrigo Nogueira), rapaz formado em administração que, concursado, é contratado para trabalhar numa repartição pública em Moscou. Lá, ele topa com figuras ordinárias e comuns, todas com suas crises existenciais, críticas ao trabalho e uma pontinha de esperança. Um ambiente, embora quase depressivo, com aparente ‘entrosamento’ entre os funcionários – uma composição bem realista.

Eis que o fresco rapaz, Aleksei, ainda surpreendido com tais personalidades e com uma real burocracia em live-action, vê-se metido numa enrascada – Recebe uma ligação anônima que o alerta de um atentado contra sua vida, já que sua entrada na repartição representa a demissão de outra pessoa. Além disso, uma funcionária é encontrada morta, o que mobiliza a repartição – Os 'bons tratos’ passam a ser ataques e desconfianças. Aleksei tem, portanto, suas aspirações liquidadas e ainda arranja um nó cego para administrar. Assim, um clima de acusações, discordâncias e antigas rixas irrompe e torna aquele lugar ‘pacífico’ um bordel, um circo e uma zona de guerra, literalmente. Entre dramas particulares, neuroses pessoais e a busca por uma solução, Aleksei invade a vida dessas pessoas num momento mais que desastroso.


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O que aparentara ser uma comédia com crítica social, torna-se uma espécie de homenagem ao filme “Os Sete suspeitos” mas de ordem 'pública' e governamental – genial!

Pedro Brício é um autor criativo. Construiu, através de um texto bem amarrado e astuto (ao menos até próximo do final), um habitat envolvente - que faz parte do imaginário coletivo sob o qual todos compreendem bem este ‘serviço’ que o governo presta (ou não presta), este ócio e a política podre e interesseira desta máquina. O suspense é sagazmente carregado através da irreverência de cada personagem e suas revelações palpitantes.

Os atores - especialmente Rodrigo Nogueira, Natalia Lage, a bicha, a funcionária morta e a hippie maluca - dão um show à parte. Vivem personagens que não só casam bem com seus physiques como exploram cada pedacinho, cada palavrinha que Brício escreveu e pensou. Os cinco são cômicos, fazem um humor negro não tão pesado e - o melhor de tudo – mostram uma segurança tal que parecem se divertir junto à plateia, fazendo daquele momento uma grande brincadeira.

De fato uma das melhores peças em cartaz no Rio. Divertida, espontânea e com ideias bacanas e geniais.

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Ao final, quando tudo parece chegar a um wrap fenomenal, surgem, infelizmente, ainda mais reviravoltas, mais palhaçadas, novas evidências e o clima, que caminhava tão bem e, acreditem, conciso, perde-se numa bagunça generalizada, numa gritaria monstruosa e num circo de calouros - onde piadas são jogadas e arremessadas sem muito sentido.

Aquilo que estava engraçado perde o ritmo e cansa.

Uma pena.

Parece que Pedro Brício, imbuído de uma criatividade maravilhosa, resolveu abraçar muitas ideias, diversas situações e piadas mil, que separadas funcionam, mas que depois de 1h30 de espetáculo o público ‘já entendeu’ e urra por um desfecho tão bom quanto o começo e o meio.


Embora isso seja um ponto que deprecie a peça, a impressão que fica é ótima e a experiência é mais que aprazível.


SUPER fica dica.

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