segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Anfetamina", 2010, Scud


Dois mundos que se cruzam.



Kafka (Byron Pang) é professor de educação física, lutador, heterossexual, 'feinho' e limitado - mantém vários empregos para conseguir sustentar sua mãe. Passou a vida ralando, sobrevivendo e sem ninguém que lhe desse a mesma proteção ou méritos pelos seus feitos.

Daniel (Thomas Pryce), jovem ‘businessman’, é sua antítese – Alto, bonito, sensual, inteligente e bem sucedido.
Daniel acaba de se mudar para Hong Kong, se encanta com o jeito moleque de Kafka e o seduz, dando-lhe amor, segurança, carinho e companhia. Solitário e carente, o rapaz cede aos seus encantos – e mais do que isso – se vê enfeitiçado pela vontade que Daniel tem de compreendê-lo e ampará-lo. Mesmo ‘sendo’ heterossexual, ele se convence de que o amor entre duas pessoas pode ir além de sexo, além de rótulos e de que se é possível ‘estar’, ‘viver’ e ‘conhecer’ alguém aparentemente tão diferente.


Tendo em vista que a criação artística não sai de uma linha de montagem e que portanto se trata, por excelência, da extensão do ‘pensamento’ de seu criador, “Anfetamina” vende tal idéia e expõe nitidamente um universo, sua subjetividade e os sonhos de um ou dois rapazes. Tudo realizado com uma intrepidez invejável – algo que uns mais caretas chamariam de ‘trash’, ‘viagem’ e ‘ridículo’.

Anfetamina” reúne características de linguagem, narrativa e montagem especiais e divergentes com o que se vê ‘normalmente’. A metalinguagem em uso.

Isto já é um ponto favorável.

Anfetamina” é, portanto, um filme que conversa com platéias que abraçam a complexidade das paixões humanas, a dificuldade que é se entender e ter de coragem de ser ou ‘não-ser’ no mundo. O diretor, Scud, paralisa a todos com seu enface criativo, trilha quase cartoonesca e um drama contemporâneo nada melodramático. Se trata daquilo que todo cineasta almeja fazer. Há no filme, efeitos visuais que lembram o saudoso Jaspion e seus colegas, mas que nada interfere na narrativa. Pelo contrário, brinca com o irreal e diminui a distancia entre o que é mágico e o que separa os sonhos dos pensamentos.

Nitidamente um roteiro com furos. Um diretor ainda inexperiente mas que tem na sua ingenuidade algo que brilha além do comum.

Os atores Byron Pang e Thomas Price, que vivem os rapazes em questão, estão completamente rendidos pelo clima do filme e entregam atuações respeitáveis.

Scud dirigiu um filme que além de biografico [conta a historia de Kafka em ricos detalhes] é um que procura 'compreender' sua vida, suas escolhas e que mostra uma ponte entre esses dois mundos.

Uma edição mais atenta poderia deixá-lo menos explícito...

Mesmo assim, é a visão de um homem sobre a vida de outro homem. Isto é cinema.

Um filme envolvente.

Fica a dica!!!

Um comentário:

  1. Que bom que achei uma boa analise do filme. Pensei que só eu tinha gostado...Parabéns pelos pontos levantados.

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