segunda-feira, 12 de abril de 2010

"Pecados da carne", 2010, Haim Tabakman

Um filme que emplaca com planos silenciosos, planos fechados e poucos diálogos. Tudo fica no olhar, na reflexão.

Arrisco dizer que a história de um rapaz gay, Ezri (Ran Danker), que procura emprego num açougue Kousher é pouco crível. Quer dizer, imaginar que durante a tarde o judeu ortodoxo e açougueiro, Aaron Fleshman (Zohar Straus), ‘carca’ o menino e de noite volta para sua vidinha religiosamente vigiada e cuidada, numa comunidade minúscula, em plena Jerusalem, onde seu espirro pode derrubar 3 homens – bem, não falemos sobre credulidade – falemos sobre a mensagem, sim?

Depois de "O Segredo de Brokeback Mountain" filmes como este perdem sua força. Ao menos no que diz respeito ao 'affair' gay em si. O que “Pecado da carne” traz de interessante, indiferente se gay ou não, é a conduta do personagem central, Aaron, o dono do açougue.

Um homem sério, que prioriza esposa, filhos, trabalha duro e tem uma imagem impecável na comunidade. Eis que um dia a tentação bate à sua porta e como ele mesmo profetiza numa cena linda – “Deus coloca sobre nós essas situações justamente para nos testar, para mostrarmos a ele que somos capazes de passar por cima desses pecados da carne”.

Não, ele não foi capaz de mostrar isso a Deus, claramente. E por isso é um filme, há!

A beleza de “Pecado da carne” está justamente aí – um filme arrastado, silencioso, com poucas falas, com uma câmera ‘rígida’ e pouco manipulada que confere um clima de marasmo, de falta de vida e energia na vida deste açougueiro que ao se deparar com o menino, se depara não só com um sentimento homossexual mas sim com o ‘novo’, o ‘diferente’, o ‘exótico’, o ‘proibido’ – elementos que, aos olhos de um homem judeu que viveu sob a égide de dogmas tão rígidos e rigorosos – explicados com fé – brilham tanto que brotam nele uma curiosidade quase que mórbida sobre tal ‘experimentação”. A comunidade coloca Aaron contra a parede - é apedrejado e tem sua imagem difamada enquanto demora a se decidir sobre o rapaz. Assim, ele é obrigado a repensar sua vida, sua fé e os valores que fizeram sempre tanto sentido.

Os minutos finais do filme valem a ida ao cinema – momentos em que Aaron percebe que a vida é sobre as diferentes experimentações, sobre como lidamos com elas e sobre como alguns dogmas ignorantes tiram das pessoas essa possibilidade que só traz benefícios – aprendizagem, experiência e auto-conhecimento.

Minutos finais que falam sobre dignidade. Um filme que questiona em dias atuais idéias tão absurdas de uma tradição antiquada, secular e preconceituosa - Um filme delicado.

Com, Aaron, foi assim...

Bem, assistam a “Pecado da carne

Fica a dica.

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