domingo, 6 de fevereiro de 2011

"Conversando com Mamãe", 2011, Susana Garcia


Numa bela tarde de domingo, um filho (Herson Capri) resolve fazer uma visita a sua velha mãe (Beatriz Segall). Surpresa, ela passa a se preocupar com o que fazer para o jantar, como faria qualquer mãe, até a inesperada notícia: Jaime perdeu o emprego e sua única saída financeira seria vender o apartamento dela, desalojando-a, assim, mas propondo que se mudasse para a casa dele, mais precisamente para o quarto da demitida empregada doméstica. Ela, muito delicadamente, explica-lhe que isso seria um absurdo, e o faz da seguinte maneira: primeiro, dizendo-lhe que tem novidades também – um namorado, quinze anos mais novo; depois, revelando que o tal já mora ali com ela...

A partir daí, um papo informal entre mãe e filho toma um rumo mais intimista, sério e desvelador. Assuntos como sexo, casamento, amor, solidão e vida permeiam um encontro que parece tão simples mas que, no fundo, tem um peso significativo. Já viúva, ela tem como protesto fundamental a ausência de seu filho, a qual torna as coisas mais difíceis. Através de um texto equilibrado – que passeia bem entre o drama familiar e a comédia – , um filho, desesperado, procura a solução para seu problema, enquanto sua plácida mãe remonta fatos da família e relembra situações importantes.

Beatriz Segall dá um show à parte. No que concerne ao humor necessário, surpresa geral – ela tem impecável “timing” de comédia. Sua atuação embarca num clima “be happy” e faz com que boas risadas sejam extraídas da plateia. Segall traz aos palcos uma senhora de seus 80 anos, lúcida, esperta e, principalmente, divertida, jovem e pragmática. E, quando necessário, deixa-se levar suavemente pelos momentos mais delicados da peça – formidável.

O texto de Santiago Carlos Oves também ajuda – discorrendo de forma bem realista e nada presunçosa sobre a vida, propicia momentos em que tanto Herson quanto Beatriz parecem realmente formar ali uma família batendo boca. Momentos dramáticos e cômicos muito bem costurados e uma direção impecável. Uma peça sem grandes movimentações e com harmonia entre os intérpretes, facilitando a credibilidade da situação e colocando sempre os atores em contato um com o outro.

Em alguns momentos, Herson Capri deixa a peteca cair – esbalda-se numa atuação ansiosa demais, da qual não se tem necessidade. Beatriz Segall é quem dá o tom – muito segura e esperta.

Definitivamente, como situou Herson Capri ao abordar a plateia, Beatriz Segall é uma dama do teatro, e, assim, “já” é um ícone dos palcos brasileiros.

Uma estória simples, mas tocante – com a qual fica impossível não se emocionar.


Fica a dica!

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