quinta-feira, 2 de setembro de 2010

"Devassa", 2010, Nelhe Frank


Uma palavra grosseira, uma expressão bizarra, ensinou-me por vezes mais do que dez belas frases”.

Denis Diderot

A Cia dos atores é uma mais que especial.

Tem integrado à ela um rol de atores de 1º time.

Atores presentes, pensantes, desafiadores e inquietos.

A montagem da vez, "Devassa", uma adaptação do texto de "A Caixa de Pandora - Lulu", de Frank Wedekind, dividida em cinco atos, mas sem separação clara, se passa na Alemanha, Paris e Londres e se trata de uma viagem louca. Conta a história de Lulu, uma menina de rua que sofreu abusos na infância e que, adulta, decide se vingar dos homens de uma forma geral.

A diretora alemã Nehle Frank resolveu ousar - Deu junto aos atores a tarefa de desconstruir a obra como foi escrita e ali transpor a história através de um jogo visceral de palavras e cenas intensas, cenas estas, talvez eleitas, por serem as mais contundentes e emblemáticas a cerca da vida de Lulu.

Uma reorganização das idéias de Wedekind. Algo corajoso.

Mesmo perdendo-se no entendimento da narrativa – tudo muito intenso, corrido e confuso - a mensagem principal paira - a relação da mulher com suas sensações, dores, paixões e volúpias.

Há, entre a direção e os atores, uma experimentação em conjunto, sobre o “como fazer”, e mais importante -sobre o “como fazer de maneira contemporânea”. Não se trata apenas de atores e suas falas, e sim, uma inquietação diante do desafio de montar Wedekind no Rio de Janeiro e em 2010.

Os lugares-comuns, as frases feitas, os bordões, os narizes-de-cera, as sentenças de almanaque, os rifões e provébios, tudo pode aparecer como novidade, a questão está só em saber manejar adequadamente as palavras que estejam antes e depois.” José Saramago

Segundo o elenco, a idéia de se montar esta peça é poder, junto ao seu autor, dar uma visão moderna sobre o assunto tratado ali – a mulher. É, então, numa posição de reprodutor, criador e autor que surge um olhar provocador e que explora as nuances de um texto tão complexo e de difícil compreensão.

Ver estes atores mastigarem, deglutirem e cuspirem um olhar original vale a viagem e deixa a todos com os cabelinhos da nuca em pé.

A inconfundível Cia dos atores.


Fica a dica.

Nota bene: resta saber o que Wedekind acha.

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