sábado, 1 de maio de 2010

"Otro", 2010, Enrique Diaz


É sempre confortante poder admirar alguém.

“Admirar” (busquei significados) – “Considerar com espanto misturado de prazer.”

Não sei bem se é isso mesmo, mas acho que serve...

E é assim que se sai depois de assistir mais um espetáculo de Enrique Diaz. Admirando a criatividade desse cara. Desta vez "Otro” retrata através de esquetes a relação entre o homem e o tempo, o homem e suas expectativas, o homem e o esperar, o pensar, a relação entre ‘eu’ e o ‘outro’, quando o outro pode ser ‘eu’ ou até ele mesmo ou um outro ele, aquele de lá ou aquele dali.

Ficou confuso? Sim! Confuso, provocador e pertinente, eu diria.

Não é de forma alguma uma peça teatral com qualquer elemento ‘clássico’ ao não ser é claro, o “mise en scene”, um ensaiado e executado de maneira bem despojada, natural, quase inexpressiva... Não!

Expressiva mas suave. Com 'jeitão' de improvisado.

Enrique busca com sua trupe uma embocadura, um jeito de dizer tudo muito minimalista, contido, porém visceral. Não há um momento que não pareça verdade aquela confusão toda. Com um texto esperto e ligeiro tira-se em alguns instantes risos da plateia que se divide entre rir e concatenar as ideias ali apresentadas. Um ‘live-exercise’ for actors!! Bem dirigido, espontâneo e poético. Sim, além de tudo mistura-se ‘teatro’ com interfaces digitais, tudo muito simples, moderno e bacana.

Alguém disse na plateia – “Teatro é para entreter não é? Quer dizer, acho isso tudo muito diferente, legal e tal, MAS, depois de um tempo cansa, por que eu não estou de castigo aqui e eu já entendi a proposta...

Sim, de 'acuerdo', mas em partes. Não estamos de castigo e nem é para entreter, somente.

Eu li uma vez - "Criatividade consiste no total rearranjo do que sabemos com o objetivo de descobrir o que não sabemos." (George Kneller)

Uma fórmula vista em ‘A Gaivota’ de Tchecov em 2006.

Para mentes ávidas pelo novo, inquietas e interessadas por exercícios teatrais!

Fica a dica.

PS - um trecho de uma entrevista dele a respeito de "In on it" - "Mesmo pensando psicanaliticamente, qualquer imagem que você tem de si próprio ou do outro é uma construção. É uma forma de entender as coisas como mutáveis. Qualquer coisa, uma vez compreendida, pode ser transformada. Eu acho que no teatro é a mesma coisa. A gente fala de uma realidade e mostra que ela pode ser construída por meio do processo de criação, e as pessoas acreditam nessa realidade, mesmo sabendo que ela é construída. Esse é um processo muito interessante."


Um comentário:

  1. Acho que mais do que confortante, poder admirar alguém é estimulante. É como se o otimismo voltasse à casa.

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