quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"Biutiful", 2011, de Alejandro Inarritu


Grandes diretores deixam marcas para toda uma vida.

Alejandro Inarritu é um deles.

'Biutiful' é, acima de tudo, um filme atual. Inarritu desenha um panorama sócioeconomico mundial, especialmente espanhol, no qual deixa um olhar pessimista percorrer os espaços onde vivem os imigrantes chineses, a pirataria, o trafico de drogas e a integridade da policia.

Um filme pessimista, certamente. Um filme que explora a natureza da humanidade diante das adversidades - uma que estipula um próprio código de conduta diante de desgraças e infortúnios. Onde entra a moral e a ética? Sendo a 1a o modo como opero na sociedade e a segunda aquilo que espero fazer com a sociedade.

Nadando contra todas as adversidades, existe um homem, Úxbal (Javier Bardem), vitima de câncer, desempregado, divorciado e pai de dois filhos. Uxbal vive cada dia como se fosse o ultimo – trabalha como mediador entre policia e africanos que vendem pirataria nas ruas, auxilia os chineses a se espalharem e arranjarem emprego e, inusitadamente, possui um dom especial – conversa com os mortos e os ajuda a enfrentar a passagem para o céu. Os que ficaram pedem para a Uxbal que faça contato, como uma espécie de adeus. Exótico e tocante...

Tudo isso a um precinho módico, claro.

Ao descobrir que tem apenas 2 meses de vida, Uxbal passa a se preocupar com o futuro de seus filhos. Percorre todos os âmbitos, procura ganhar mais dinheiro e até pensa em restabelecer contato com sua ex, mãe dos meninos, que não passa de uma fracassada, perdida, maluca, bêbada e depressiva. Nada dá muito certo e Uxbal passa a encarar a vida (ou o fim dela) com outros olhos. Talvez, entre tanta gente tentando sobreviver - um egoísmo razoável e esclarecido - Uxbal consegue extrair algum altruísmo de seus atos, uma espécie de sensação de comunidade.

Entre presos, mortos e feridos, Inarritu faz de ‘Biutiful’ uma condição humana. Um espelho de dias atuais e, possivelmente, a visão pessimista de que o progresso levará o homem de volta à selvageria, velada, sob um céu metálico e esfumaçado, mas tão cruel quanto a de outros tempos mais bárbaros.

Dirigido com extrema delicadeza e tomado de imagens conceituais, ‘Biutiful’ deixa sua marca, e tem como pecha somente a tristeza colossal que rende todos indubitavelmente. Um filme que livra o homem de vez de um carater maniqueísta e que sugere um ideal quase utópico sobre o futuro.

Não é possível enxergar algum alivio neste filme.

Amores perros’, ’21 gramas’ e ‘Babel’ são semelhantes – retratos ásperos, duros e vivos sobre o homem e sobre as saídas que este escolhe por aí.

Javier Bardem não surpreende – é um ator perfeito em todos os sentidos. Indescritivel.


Um filme ‘puxado’, como disse um espectador ao sair da sala de cinema.

Fica dica, para dias de extremo bom humor.

PS: Vale a pena notar a qualidade dos 'planos sequencia' - Inarritu permite que as cenas corram soltas na mão dos atores; algo dificil de fazer e um colírio para os olhos.

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