domingo, 27 de fevereiro de 2011

"Blue Valentine", 2011, Derek Cianfrance


Se tem uma coisa que "incomoda" jovens cineastas é a velada obrigatoriedade de criar filmes ‘estilosos’, ‘modernos’, ‘transgressores’ e quase nada inteligíveis.


Existe sim nos autos da história da filmografia mundial, evidências de que a forma de fazer cinema mudou. Hoje está em voga filmes sem desfecho, atemporalidade, personagens com nuances e nada maniqueístas and so on...


Porém, esta pequena introdução foi necessária para poder “entender” e “explicar” o filme de Derek Confiance.


Blue Valentine conta a história de Dean (Ryan Gosling), Cindy (Michelle Williams) e sua filhinha pequena Frankie (Faith Wladyka) - uma familiazinha meiguinha, certinha e fofinha, aparentemente feliz e realizada. Porém, aos poucos o espectador vai percebendo que Dean, ao contrário de Cindy, considera-se satisfeito e contente – brinca com a filha a todo instante, procura fazer amor com sua esposa e tenta fazer da vida em família algo divertido e harmonioso. Já Cindy exibe um comportamento avesso e arisco – não consegue pensar em outra coisa senão os afazeres diários e as responsabilidades. Dean nunca foi um rapaz brilhante – nem o colegial ele terminou - mas era habilidoso e esperto, levando Cindy a crer que ele chegaria a algum lugar mais confortável e próspero. Coisa que não o incomodou de maneira alguma – Dean sonhou em ter um vida medíocre, na qual haveria uma esposa maravilhosa e uma filha lindinha. Logo, ele tinha o que queria.


Blue Valentine vai, então, apresentando o clima desgostoso em que Cindy se encontra.


Até aí, nada de novo, tudo está muito claro e todos esperam a resolução da história.


Cianfrance, coloca em pauta, por fim, a história de Dean e Cindy. O filme é atravessado por alguns flash-backs que contam como os dois se conheceram e se apaixonaram; e por que a

cabaram juntos. Para surpresa do espectador, é possível afirmar que foi por piedade e compaixão que os dois se uniram – aliás, que Dean acolheu Cindy.


Cindy namorava outro rapaz antes de conhecer Dean. Um rapaz que representava muito bem seu amor pela mesma. De tão apaixonado, fez questão de deixá-la grávida, coisa que mudou drasticamente sua vida. Abalada e assustada, Cindy resolve contar a Dean sobre sua situação, deixando o rapaz eternamente comovido. E, como de se esperar, entre dois jovens tolos e apaixonados, aquele fogo e aquela paixão literalmente mexeram com seus neurotransmissores, confundindo-os, levando-os a achar que aquele sentimento de compaixão, altruísmo e bondade pudesse ser “amor”, proporcionando, então, um altar na vida dos pombinhos.


Ou seja: Dean realmente se apaixonou por Cindy, por sua situação e por seu bebê e pela vida que ele vislumbrou poder ter e que, enfim, desejava ter, mesmo sendo mais cedo que imaginava.

Cindy, por outro lado, como qualquer mãe, A-DO-ROU saber quer teria um macho para mimá-la, cuidar-lhe e protegê-la num momento tão difícil e o aceitou de braços abertos, mesmo com as evidências sobre as ambições do mesmo palpitarem e se destacarem diante dela.

Enfim, e o que aconteceu depois?




Finalmente lhe caiu a ficha de que Dean não era aquele homem que imaginara querer ter para si, e assim ela simplesmente “fell out of love”...


Blue Valentine exibe, nua e cruamente, o desgaste que ocorre entre Dean e Cindy. Só isso...

E gera, portanto, uma dúvida cruel....


Por que fazer um filme sobre desgaste, dado que não há nada pertinente no comportamento de Dean que cause esta situação? Cindy, aliás, ao contrário de Dean, não teve a menor compaixão pelo mesmo, simplesmente decidiu que era o fim.


A entrevista com Derek Confiance elimina qualquer duvida: ele conta que levou 12 anos para escrever o roteiro, que foram mais de 67 tratamentos e que sua principal meta era escrever um filme que realmente fosse palatável – em que o espectador pudesse “se encontrar”. Derek se queixou de que muitas vezes filmes sobre relacionamentos não contam "como as coisas são", romanceiam demais e perdem o laço com a realidade. Diz que o grande lance de Blue Valentine é que os personagens vivem a vida que o espectador vive e que foge ao máximo às fantasias.


Deixo aqui o espectador tirar suas próprias conclusões.


Este blog teria vergonha de dizer que levou 12 anos para escrever um roteiro depois de exibir Blue Valentine.


A dica ? Que dica?


PS: No que concerne às atuações – Excelentes. Tanto Michelle Williams como Ryan Gosling deram um duro danado dando performances muito ricas e com camadas interessantes aos seus personagens. Salvaram o filme. Ryan Gosling é um grande talento.


Derek Cianfrance dirigiu Blue Valentine com talento. Sabe, ao menos, tecnicamente, exatamente o que quer e como compor belas e fortes cenas.

Só faltou-lhe um roteiro mais interessante...


De tão preocupado em fazer algo tão mágico, acabou por morrer na praia...


Michelle Williams concorre como Melhor Atriz no Oscar 2011. Indicação merecida.

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