quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"Cisne Negro", 2011, Darren Aronofsky


Darren Aronofsky
certamente possui algo que é indispensável para um cineasta – inventividade.


Seus filmes anteriores de maior atençao, “Pi”(1988), “Requiem para um sonho”(2000) e um mais atual, “O lutador”(2009), apresentam personagens que almejam algo ( sim, 1a aula com Robert McKee [rs]), porém, que se veem inertes, presos a um marasmo sufocante, em que parecem estar sem saída.

Cada um deles encontra uma forma de resolver suas angustias. O primeiro bola uma teoria; o segundo, uma adiçao; e o terceiro, uma relação.

Aronofosky é, portanto, conhecido por trazer às telas dramas muito particulares; questões íntimas e contemplativas; a batalha entre o ego e o super ego, o certo e o errado, o dever e o prazer, e, por fim, as sensações de derrota e vitória, as frustrações e os exitos.

Cisne Negro, claramente, não foge disso.

Quem não desejou uma posição, um lugar, um emprego?

Quem nunca quis ser igual a alguém, para se chegar "lá"?

Quem já não disputou tal lugar?

..... e, uma vez lá em cima, quem não se viu numa posição invejada?

Nina Sayers (Nathalie Portman) é uma jovem e doce aspirante a bailarina na cidade de Nova York. Ve em Beth Macyntire, grande bailarina, seu futuro, tudo aquilo que almeja ser. Nina não faz outra coisa que não observá-la, segui-la, imitar-lhe e…….....e........!

Nina faz parte de um corpo de dança que começa testes para um novo espetáculo – O Lago dos Cisnes. Beth, cotada para principal, já não é um rostinho novo e isso passa a ser uma séria questão nos bastidores da produção. Além disso, ela sofre um acidente que a deixa imobilizada; logo, o papel passa a ficar aberto. Todavia, como sua discípula velada, Nina surge com um talento excepcional que lhe dá credenciais suficientes para atingir o ponto alto de sua carreira – é convidada, portanto, a ser o disputado cisne, no lugar de Beth.

Tanta devoção e empenho lhe garantem elogios nos ensaios como o cisne branco: ela apresenta algo terno, delicado, suave, pueril e "bondoso"- adjetivos que também traduzem muito bem sua personalidade e temperamento.

Contudo, o diretor, Thomas (Vincent Cassel) todavia, está insatisfeito com Nina. Ele quer da moça ambos os cisnes, o bem e o mal, o céu e o inferno – duas interpretações. Thomas mostra-se preocupado com a jovem, pois ele não consegue enxergar o outro lado deste jogo – o cisne negro.

Aronofsky pinça justamente esta temática: as fragilidades de uma jovem atriz, que, "virgem", casta e ingenua, não consegue compor um personagem tão distinto de si – provocador, amoral, cruel e impiedoso. Ainda que ela, por outro lado (e ironicamente), tenha revelado malícia em espreitar, investigar e absorver tudo aquilo que Beth podia ostentar.

Afinal, quais são os atos realmente perversos? Aqueles conscientes ou inconscientes?

No palco, deixa-se a luz da inconsciencia?

Tal infantilidade, somada a uma insegurança do tamanho de seu talento, passa a atormentar os pensamentos de Nina, que agora, e para completar, tem diante de si Lily (Mila Kunis), outra garota, mais safa do que ela e tão bela quanto, que disputará o papel de cisne. Lily é o perfeito cisne negro – esbanja sensualidade e arrogancia, alem de ser altamente sedutora. Aproxima-se de Nina de forma avassaladora.

Nina agora encontra-se no mesmo lugar que seu ídolo, uma posição ameaçadora. Atrelada a isso, uma paranoica sensação de perseguição a assombra vertiginosamente.

Atores, personagens e os desafios relacionados a este ofício são assuntos recorrentes na cinematografia americana, e neste filme, nada fica de fora – Natalie Portman traduz todos os medos, fofocas e competitividade habituais – Darren Aronofsky aproveita o talento indiscutivel de Portman, e extrai da mesma uma atuação angustiante, com a camera colada em seu rosto a todo instante. Uma dança fascinante...

Certamente, N. Portman é uma candidata de peso ao Oscar 2011. Já é uma das atrizes mais importantes de sua geração.

Aronofsky, como um sábio maestro, conjuga duas discussões mais que pertinentes, e entrega um filme eletrizante, que deixa qualquer um imóvel e atento. Uma fotografia não só contrastada, mas que preza pelo claro e escuro, reluzente e obscuro. A transformação de Nina, sua paranoia e alucinações tomam uma dimensão jamais vista, a partir da qual Aronofsky explora ambos os lados, a ambiguidade da personagem e uma naturalidade nada maniqueísta. Aronofsky não só executa uma dança espetacular entre a camera e Portman, como opta em trabalhar a edição de som de maneira muito sensitiva - Um primor!

Há uma música do Lulu Santos que diz:

"Não leve o personagem pra cama

Pode acabar sendo fatal

Então desmonta logo esta máscara

Voltamos à estaca zero

Fica tudo igual.. Normal"

E o que fica é:

Quão suscetíveis são as personalidades?

Quão subserviente pode uma pessoa ser a seu desejo mais íntimo?

Natalie Portman responde, e com um gran finale para ninguém botar defeito algum.


Parabéns a ambos!!


Fica dica! E, ao Oscar, vamos nós !!


Entrevista do diretor -

http://www.youtube.com/watch?v=tqmvBuD4o1U


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