sexta-feira, 5 de março de 2010

"O mensageiro", 2009, Oren Moverman



Ser o porta-voz, ou o MENSAGEIRO, responsável em dar a notícia sobre a morte dos soldados na guerra do Iraque às famílias dos mesmos não é tarefa fácil. Parece simples, mas não é. O filme, “O mensageiro” mesmo tendo um roteiro irregular consegue imprimir bastante as dores sentidas de ambos os lados.

De um, a insatisfação do povo americano que vê seus filhos saírem de casa, enaltecidos com a honra de servir o país, esta obviamente provocada e falsa, pois não há honra em jogo nesta guerra, e quando não acabam mortos, voltam para casa desfigurados, aleijados e deficientes. Fica clara a sensação de impotência diante de um governo que praticamente obriga os soldados a servirem, além do sentimento geral de que esta guerra é absurda e em prol de interesses comerciais. Isto posto, a indignação nos olhos dos familiares ao receberem a fatídica notícia é a mesma – retumbante sofrimento, ódio, sentimento de injustiça, e a sensação do ser descartável e do ser manipulável feito peões. Há uma cena comovente em que a esposa de um soldado morto vê soldados entregando panfletos sobre o serviço para adolescentes num shopping. Rapidamente ela corre para o local e os coloca para correr, retirando os panfletos das mãos dos meninos – deve ser uma realidade corriqueira...

Do outro, uma missão que exige frieza e falta de 3 coisas: compaixão, acolhimento e expressão. Will Montgomery (Ben Foster (O Anjo em X-men 3) está prestes a sair do exército, tendo 3 meses para cumprir, e recebe a incumbência de um útimo ofício – ser este porta-voz. Este é o gatilho do filme. Tony Stone (Woody Harrelson) é sargento do exército veterano e já faz o trabalho há algum tempo. Will é o seu mais novo parceiro de trabalho, e por ser mais jovem, tem certa dificuldade em entender o protocolo utilizado no momento de abordar os familiares do soldados. Um protocolo extremamente sucinto e desprovido de acolhimento, apenas um “I am very sorry.” Will acredita, e tenta, ao longo do filme, desconstruir a idéia de que fazer parte do exército é sim, endurecer-se, fortalecer-se e neutralizar-se, mas que isso não significa deixar de ter sentimentos, compaixão e de deixar de ser um “ser humano”. Stone, muito enrijecido por suas experiências se vê diante de um impasse – há de ser durão e firme como, ironicamente, uma rocha, mas ao mesmo tempo se vê aos poucos cada vez mais arrebatado pelos sentimentos dos outros, graças, justamente às leves quebras de protocolo de seu parceiro, Will. A cada família que passam Stone se esforça em não emitir expressões, e não o faz, até que o filme chega à um momento culminante.

O filme perde o rumo com seu roteiro irregular que, do meio para o final, mistura esse tema às questões particulares de Will, que não necessariamente têm a ver com o plot central. O que possibilita, por outro lado, Ben Foster a dar uma performance mais que adequada ao seu personagem – perdido, desamparado e sem perspectiva.

Woody Harrelson não surpreende com sua atuação, mas fornece ao seu colega de cena bons momentos em que é necessário uma relação vai-ou-racha. Não compromete a corrida ao Oscar 2010 ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante.

Com uma direção singela e um tema forte, “O mensageiro” não decola, mas diz a que veio.

Fica a dica.

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