segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"Os dragões não conhecem o paraíso", 2010, Renato Farias


de Caio Fernando Abreu.


Subir as escadas do Solar de Botafogo e se deparar com uma salinha esquisita, introspectiva, imunda e com cara de masmorra - algo diferente e inusitado.

Lá, uma senhorita com as feições de uma 'maluquete', recebe a todos. Serve vinho, sopa e café - além de uma vazio enorme, a menos de 1 metro de distância.

E, assim, dispara -

"Não tenho nenhum dragão. E, ainda que tivesse, ele não moraria comigo nem com ninguém. Para os dragões, nada mais inconcebível que dividir seu espaço - seja com outro dragão, seja com uma pessoa banal feito eu."

A 'peça' fala sobre o amor. Tem, nas palavras de Caio, e na interpretação de Fernanda Boechat, a dor da perda de um amor.

Amor - Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração.

Amar é relativo a dar, entregar e revelar a si. É oferecer ao outro, de bandeja, sua própria vida - um ato de intensa vulnerabilidade. É ser cuidado. Se trata de não querer dividir isso com ninguem.

Mas como 'convencer' alguem de que você é suficientemente 'bom' e merecedor deste cuidado?

Impossivel. E é neste cinza que pairam as dores e angustias. O outro é imprevisivel, incontrolável, bem como, quem somos é questionável e passivel de sofrimento e dor em decorrência de nossas próprias qualidades e charmes.

Logo, a capacidade de amar alguem está intrinsicamente ligada a maneira positiva que o sujeito lida com quem ele mesmo é. É a partir desta 'auto-estima' que se lida com afeto e rejeição.

Amar é receber amor.

Se conhecer, lidar com nossas 'neuroses', crenças negativas? Em tempos como estes? - Bobagem.
Deixe que a novela faça por você.

A atriz, Fernanda Boechat, é uma jovem e talentosa atriz. Discorre sobre o tema com entendimento, humor e verve. Um espírito livre e espontâneo. Trouxe, ao conto de Caio, a sensação de desvalor e pânico.

Renato Farias conseguiu com certeza dirigí-la para um lugar correto e sábio.

Porém, "Os dragões não conhecem o paraíso", não é um texto formalmente escrito para o teatro.
É um conto.
E, como todo, perde força ao ser feito teatralmente.
Palavras ali rabiscadas que, na boca de uma interprete, soam um pouco frágeis e falsas causando um certo distanciamento.... - uma pena e algo frustrante, já que Fernanda o faz com tanto capricho.

Quem tem um dragão é alguem...? - Forte, valente e ousado. Destemido.

E a vida? Para lidar com a vida há de ser....? Engraçado? Simpático? E nada assertivo?

Não.

Caio Fernando Abreu abraçou a vida como se laça um dragão.

A 'peça' fala sobre o amor. Tem, nas palavras de Caio, e na interpretação de Fernanda, a dor que é viver.

Antes de amar alguem é preciso se amar.

Vale lembrar de Sartre e a 'condição humana'.


Fica a dica.


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