terça-feira, 5 de outubro de 2010

"O retrato de Dorian Gray", 2010, Oliver Parker


Dorian (Ben Barnes), menino dócil e romântico, herda fortuna de uma família e se depara com um universo de requinte e glamour, com o qual jamais imaginara se envolver. Aos poucos, pessoas à sua volta se encantam com sua beleza estonteante, uma espécie de efeito similar ao mito de Narciso. Somado a isso, há um senhor de caráter duvidoso, Lord Henry Wotton (Colin Firth), um aristocrata típico da época, que atropela os ainda ingênuos valores de Dorian e o incita a um comportamento lascivo.

Este o pano de fundo do romance de Oscar Wilde, escrito em 1890. ambientada numa Inglaterra aristocrática. Um romance que tinha como objetivo desnudar uma classe intelectual alienada, preconceituosa e hipócrita.

Eis que um dia, Dorian, é presenteado com um auto-retrato, pintado pelo artista Basil Hallward (Ben Chaplin - ótimo ator). Um retrato fabuloso e que seria responsável por....

"Eu irei ficando velho, feio, horrível. Mas este retrato se conservará eternamente jovem. Nele, nunca serei mais idoso do que neste dia de junho... Se fosse o contrário! Se eu pudesse ser sempre moço, se o quadro envelhecesse!... Por isso, por esse milagre eu daria tudo! Sim, não há no mundo o que eu não estivesse pronto a dar em troca. Daria até a alma!" .

Um pacto se sacramentou para que Dorian nunca mais envelhecesse.

O filme, dirigido por Oliver Parker, faz uma adaptação justa ao livro - brinca bastante com a questão psicológica de Dorian e discute a questão da vaidade e da promiscuidade. À primeira vista, é um filme moralista que induz o espectador a pensar que uma conduta 'livre' e hedonista levaria à destruição de si e dos outros. -> Mas só até o momento em que Dorian procura se confessar a um padre. Na realidade, o grande lance da história é a oscilação que Dorian sofre - uma ingenuidade seguida de um caráter pernicioso e cruel. Algo mais que conflitante - um choque de valores e ideias. Qual a conduta correta? O que é bom? O que faz mal? -

Livro e filme são voltados a dois grupos de pessoas:

1) adolescentes e

2) sujeitos de antolhos.

Alguns fatos simplesmente têm de ser jogados na cara, Oscar Wilde estava certo.

De fato, O. Parker não aprofunda as mudanças de humor e caráter de Dorian nem explica a surpresa de Lord Henry Wotton ao se deparar com o monstro que o rapaz se tornou. Há portanto alguns furos, mas nada que deprecie a qualidade da fita. Peca também, pois, na narrativa - o 'desfecho' além de previsível não provoca nada além do óbvio - Simples demais e algo que não acrescenta nada a ninguém.

Colin Firth vive Lord Henry Wotton - fazendo-o tão bem que foi quase impossível reconhecê-lo.

E Ben Barnes é Dorian Gray - atuação modesta de um rapaz inexperiente e cândido. Porém, capaz de convencer plateias não muito criteriosas.

"Não existe livro moral ou amoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo." Oscar Wilde.


Fica a dica.

Um comentário:

  1. Oscar Wilde se contorceu em seu caixão quando viu esse filme... tosquíssimo.

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