terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Caligula", 2010, Gabriel Vilela


O texto de Albert Camus tem uma compreensão íntima e densa sobre a vida de Calígula. Excede a história em si e trilha uma ideia, uma 'logica' e um pensamento sobre o famoso imperador.

"Calígula" é uma peça que considera sua crueldade, extravagância e perversidade sexual, apresentando-o como um tirano demente, mas concentra a narrativa nos seus feitos, na sua 'popularidade' e na consciência que tinha de si e do poder em suas mãos - algo que 'se perdeu', de vez, após a morte de sua irmã e amante, Drusila.

Gabriel Vilela comanda um elenco que não só compreende isso com rigor como fornece (especialmente Claudio Fontana) um espaço para Thiago Lacerda se expor e elaborar o tema.

Uma peça feita com a ideia de trabalhar o conteúdo - fugindo, então, do óbvio. A direção optou por não mostrar/banalizar a questão sexual, tão marcante na vida de Calígula. Algo que se apresentou como uma licença poética cabível e sensata.

(A não ser para aquelas pessoas que nunca ouviram falar em Calígula - o que sugere, talvez, uma lacuna em aberto.)

Mesmo assim, Gabriel Vilela com o cenógrafo JC Serroni, escolheu montar um palco nada barroco, mas sóbrio e contemporâneo - as cenas são passadas numa espécie de praça ou pátio, onde o fundamental são as relações e o texto. Assim foi escolhido o figurino - roupas que parecem trapos e panos emaranhados em calças modernas, zíperes e botões -, tudo muito moderno e conciso.

No que concerne às atuações, "Caligula" apresenta momentos frágeis em que alguns atores se mostram rendidos por um texto de difícil execução. Mas nada atrapalha a jornada do protagonista. Thiago Lacerda está solto, livre e audaz. Faz daquelas palavras árduas um passeio, uma espécie de libelo, com o qual tenta, como Calígula, provar à plateia sua competência e raciocinio dentro da loucura que é ser imperador, líder do maior império que o mundo já viu. Thiago Lacerda se esbaldou.

Tem, ali, uma nítida homenagem ao caos oferecido e escancarado pelo Coringa de Heath Ledger em "Batman - O Caveleiro das Trevas", de Christopher Nolan. Segundo Thiago: "Caligula é um personagem metade gente, metade divino, em meio a um surto psicótico".

Thiago comemora seus 10 anos de carreira mostrando-se um ator ousado e com disponibilidade invejável. Tem um belo caminho pela frente.

"Caligula" certamente é uma forma atual de montar um 'clássico'. Vale a pena conferir as propostas de Gabriel Vilela e a atuação firme, árdua, excessiva e desvairada de Thiago Lacerda.

A 'entrada' de Edith Piaf fecha a peça com chave de ouro. Só vendo para entender.

Calígula foi isto: Um homem, que, assim como Tibério, 'recebeu' a 'pobre' incumbência de ser imperador; de ter nas mãos a vida de todo e qualquer homem. Como muito bem considerado pelo próprio Calígula:

- Eu existo desde a manhã do mundo e existirei até que a última estrela caia da noite. Apesar de ter tomado a forma de Gaius Caligula, eu sou todos os homens da mesma forma como não sou homem algum, e por isso sou um deus.


FICA DICA.

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O FILME

Em 1979, o mundo se viu dividido com o filme "Caligula", dirigido por Tinto Brass e Bob Guccione.

Um filme que mostrou ao mundo a história de Calígula, tirano que comandou o Império Romano. Tido como excêntrico e louco, orgíaco e sangrento, Caligula perpetuou-se no poder assassinando membros do senado e mudando leis e valores. Dentre o terror que estabeleceu, matou gente inocente e promoveu balbúrdias e confusão nas quais o povo se "divertia" com seu comportamento gaiato.

O filme de 1979 - arrasado pela crítica - ganhou o epíteto de um dos piores filmes já realizados. Pela primeira vez foi possível conferir atores 'conhecidos' - Malcolm Mc Dowell, Peter O'Toole, uma tenra Helen Mirren e John Gielgud - interpretarem personagens envolvidos em cenas de sexo explícito.

Um filme 'quase' pornográfico.

"Uma enxurrada de depravação de duas horas e meia que parece ter sido filmada através de um vidro de vaselina." Newsweek, 1979.

De fato, "Caligula" foi um filme ao qual faltou, basicamente, conteúdo.

Uma produção fantástica, atores excelentes e um retrato fiel, ousado e bizarro da vida de Calígula, a qual, segundo a História, era assim mesmo - uma sacanagem generalizada.

Porém, o filme se tornou, nada mais, nada menos, que - entre gozadas, paus e bundas - uma espécie de 'encenação da vida do imperador sacana' - parecido com programas do History Channel e National Geographic: Para uns, muito realista; para outros, puras suposições.

Como informação, vale a pena dar uma olhada.

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Finalmente,

[Para rir]

http://www.mtime.com/movie/94069/trailer/21141.html

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