quarta-feira, 23 de junho de 2010

"Kick Ass", 2010, Mathew Vaughn


Kick Ass”, dirigido, escrito e produzido por Mathew Vaughn, traz uma história relativamente simples: Dave Lizewski (Aaron Johnson) é um típico nova-iorquino nerd, fã de histórias em quadrinhos, que através de um insight, tem uma idéia [brilhante] - se tornar um super-herói, intitulado Kick Ass.

Após uma 1ª tentativa frustrada, Kick Ass é atropelado e levado às pressas para a mesa de operações. Seu corpo completamente destruído, passa por uma intervenção cirúrgica, onde placas metálicas são atarraxadas aos seus ossos. Soando familiar?

Dave segue, portanto, com uma armadura interna e com uma nova habilidade conquistada após o acidente – Seu sistema nervoso foi danificado perdendo a sensibilidade para a dor.

Dave agora é um semi-super-herói e parte em busca dos fracos e oprimidos.

Paralelamente, Big Daddy, vivido por Nicholas Cage, uma cópia idêntica de Batman, é um super-heroi – sem super-poderes, com apenas armas e 'gadgets' - e junto à sua filha Mindy, codinome ‘Hit-Girl’ (Chloe Grace Moretz), de 11 anos, combate o crime em NY há algum tempo. Tem com objetivo principal acabar com o bando de Frank D’amico (Mark Strong) um rei do crime poderoso em Manhattan - D’ámico foi responsável pela morte de sua esposa.

D’amico ouve falar num herói - Big Daddy - que anda liquidando seus capangas e assim coloca sua cabeça à prêmio. Dave se mete, por acaso, com homens de D’amico, aumentando a ira do rei do crime que resolve exterminá-lo também - D'amico acredita que ambos estão juntos na parada.

Um roteiro típico de HQ misturado à uma clássica sinopse de filme de ‘besteirol’. Mathew Vaughn, conseguiu brilhantemente unir o que é há de melhor em ambos os segmentos: cenas de ação bem dirigidas, carros, explosões e personagens metidos à ‘Rambo’, com o melhor do humor negro e sarcástico americano. Quando tudo parece cair no previsível, uma sacada ou uma piada bem colocada preenche os espaços vazios. Fica claro que é um filme que não se leva à sério – Uma sátira sobre momentos atuais.

Aliás, graças a deus, Van Damme nunca se levou à sério.

O que Matthew Vaughn faz é notório – Brinca com a imaginação de milhões de espectadores que já sonharam em ser Luke Skywalker, Superman e Wolverine. Acerta, justamente, quando apóia esta paixão nos heróis não só numa certa alienação mas na sensação de falta de proteção.

Apresenta não só de maneira criativa um retrato da corrupção entre policia e traficantes como não julga nem critica as obras de ‘pancadaria’; simplesmente ilustra que não são elas as responsáveis pela violência, e sim a falta de cultura e interesse do governo americano em educar seu povo de maneira construtiva.

É claro que é mais fácil culpar os jogos e os filmes. Mas ninguém acredita que o mundo seria melhor SÓ com filmes do Schwarzenneger – somos apenas partidários da liberdade de expressão - estes filmes, assim como os do Woody Allen e Oliver Stone, estão aí para fazer o mesmo, mas de forma diferente.

Na realidade, não é nada arriscado dizer que depois de "Kick Ass", um sub-gênero será criado.

Um que faz do humor o caminho para a crítica. [sim, esta é a origem da comédia, mas certas pessoas tem o prazer de esquecer]. "Kick Ass" é, para os americanos, o passaporte para a análise. O personagem de Aaron Johnson representa a alienação, o de Nicholas Cage o acesso às armas e a questão da justiça e corrupção e o de Chloe Grace Moretz a chegada prematura da vida adulta – assunto repetido e debatido pela maioria dos psicólogos, médicos, pais e estudiosos atuais.

Sim, há tudo ali – jogado e escancarado da maneira que os americanos mais gostam – entre tiros, chutes, granadas e piadas grosseiras e grotescas. Uma série de assuntos pertinentes e bem argumentados. O sangue e a crueldade ali apresentadas faz referencia à um mestre – Quentin Tarantino – que junto a Mathew Vaughn e os Irmãos Cohen em “Onde os fracos não tem vez” tentam, eu disse, “tentam”, deflagrar a banalidade da violência nos EUA. Um besteirol, que passa longe de ser uma besteira.

Vivemos uma época onde os fins justificam os meios.

Ao mesmo tempo que “Kick Ass” é um filme-entretenimento de ponta – extremamente bem realizado e bem escrito – é também uma mensagem, um grito de socorro e uma ironia. O personagem ‘Dave’ representa a humanidade na sua fragilidade, nos seus sonhos e medos, e de como, às vezes, ser um super-herói dá uma sensação de proteção, mesmo que legitimamente falsa. Um justiceiro que combate o crime simplesmente executa aquilo que a ‘Policia’ não é capaz de fazer – isso é algo absurdo de se pensar?

Roger Ebert, crítico do Chicago Sun Times, não gostou do filme. Diz ele –

Will I seem hopelessly square if I find “Kick-Ass” morally reprehensible and will I appear to have missed the point? (…)” (Parecerei desesperançosamente careta ao considerar "Kick Ass" moralmente repreensível? Terei eu não entendido o ponto?)

I'm not too worried about 16-year-olds here. I'm thinking of 6-year-olds. There are characters here with walls covered in carefully mounted firearms, ranging from handguns through automatic weapons to bazookas. (…) (Não estou preocupado com adolescentes de 16 anos de idade. E sim, nas crianças de 6 anos. Há personagens que possuem paredes carregadas com armas, bazucas, pistolas, fuzis...)

Then the movie moved into dark, dark territory, and I grew sad”. (Em seguida, o filme caminhou para um lugar, um território escuro, escuro e negro que me deixou triste.)

A preocupação dele é com a censura.

Ora, que coisa...

Fica a dica!

Master Blaster.


PS - quando Batman, no filme ["Cavaleiro das Trevas"], invade Hong Kong e sequestra o bandido para levá-lo à julgamento nos EUA: .... tudo bem...?

-> Os americanos aprenderam à rir de si mesmos.

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