quinta-feira, 2 de setembro de 2010

"O Palácio de Neve", 2010, Celina Sodré



O palácio de neve”, em cartaz no Instituto do ator na Lapa, estabelece ao lado de um outro grupo carioca, a Cia dos atores, uma forma de se fazer teatro contemporâneo de maneira irreverente - Algo que só poder ser bem visto em tempos de monólogos, musicais e comédias besteirol.

Celina Sodré reuniu 6 atores interessados e compenetrados que buscam, acima de tudo, contar a história adaptada do livro de Orhan Pamuk, romancista turco, autor da obra literária Neve. Pamuk é conhecido por escrever romances onde procura retratar o choque e o cruzamento de culturas e tem como luta defender direitos dos curdos na Turquia. Pamuk foi galardoado em 2006 com o Nobel de literatura.

Um poeta chamado Ka retorna à sua terra natal, a Turquia, para o enterro de sua mãe. Ele resolve, então, investigar uma série de suicídios de jovens mulheres, numa pequena aldeia chamada Kars [neve em turco]. Há uma tempestade de neve na cidade e Ka se vê preso e isolado num ambiente onde surgem diversos episódios entre eles uma paixão e até um golpe político.

A quebra da 4ª parede, um narrador que atravessa o 'mise-en-scene', um palco de arena e introspectivo onde a platéia fica à 1 metro dos atores são alguns dos elementos utilizados pelo grupo que, de forma graciosa e elegante, sem rompantes e gritos, apresenta a delicada história de Ka.

Raphael Andrade interpreta Ka.

De cara, a primeira pergunta que se faz é – Mas este menino tem idade para tal papel? Não. E esteticamente, tem as possíveis feições de Ka? Também não.

Mas, então, por que cargas d´água deram tal missão para o rapaz?

2 motivos louváveis:

Celina Sodré é uma dessas raras pessoas ligada ao processo de criação da personagem onde, basicamente, acredita que qualquer ator pode vivenciar e explorar um novo universo e ser capaz de compreendê-lo, armado logicamente, com os instrumentos corretos.

Isto é, não existe uma 'máscara' necessária para compor um papel, pelo contrário, é através de uma possível neutralidade, um estado esvaziado, que impera um olhar sobre algum tema e onde o ator experimenta e arrisca uma interpretação, dando é claro sua visão sobre o mesmo.

Raphael Andrade assume com franqueza, sensibilidade e disponibilidade tal papel de difícil construção e execução. Faz desse um trabalho de imersão. Mesmo apresentando uma desenvoltura tímida em cena Raphael dá conta do recado e encanta com a timidez e as ansiedades de Ka.

Uma peça com singelas, prudentes e mesuradas interpretações.

Um incipiente grupo de atores adoráveis.



Fica a dica.

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