"X-men IV: The rebirth of Professor Charles Xavier"
ou
"Mission Impossible V: Inception"
ou
"Total Recall: back to ‘your’ mind!"
São os possiveis [e mais coerentes] nomes do novo filme de Christopher Nolan, “A origem” [Inception]. Uma viagem insólita para dentro da imaginação, ou melhor, dos sonhos dos outros.
Dom Cobb (LEONARDO DICAPRIO) é um exímio ladrão com um talento diferente – é capaz de roubar os segredos íntimos e valiosos das pessoas arrancando-os direto da fonte: do subconsciente. Cobb penetra nos sonhos de suas vítimas durante o sono, justamente quando a mente está em seu estado mais vulnerável. Especialista em espionagem corporativa, Cobb vê num último e complicado trabalho, a chance de se redimir de erros do passado - Ao invés de roubar uma informação, ele deverá plantá-la na vítima - O que pareceria um crime perfeito.
Mas mexer com a cabeça dos outros tem um preço alto. Algo que pode reagir como um inimigo perigoso que apenas Cobb conseguirá detectar.
"Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" - Lavoisier
Penetrar na linha tênue que separa a realidade dos sonhos é algo: surpreendente, inédito e fascinante.
Conseguir extrair informações: divertido e com referências à hipnose, logicamente...
Implantar idéias, manipulá-las e atingir êxito – hollywoodiano.
Por isso, talvez, “A origem” vale a ida ao cinema. É algo, aparentemente, diferente e inusitado. Christopher Nolan explora o que há de melhor dos filmes de ação – Os efeitos especiais, o suspense e os heróis.
Ali há algo jamais visto, que permite um simples filme de ação se tornar um especial, ao menos, esteticamente.
Assim como a famosa esquivada em câmera lenta de Neo {The Matrix}, Nolan criou uma série de novidades inacreditáveis e sensacionais – há quem diga até que algumas das cenas de “X-men: First Class” terão de ser modificadas em função das apresentadas em “A origem”.
Assim, sem mais, “A origem” vem como um Sr. Blockbuster com uma fuça de pensante. Algo jamais visto.
Fica a dica.
.................................................Mas será mesmo...?
“Em 1900, em seu livro “A interpretação dos Sonhos”, Sigmund Freud defendia a idéia de que os sonhos refletiam a experiência inconsciente e era um guardião do sono. Ele teorizou que o pensamento durante o sono tende a ser primitivo ou regressivo e que os efeitos da repressão são reduzidos. Para ele, os desejos reprimidos são, particularmente, aqueles associados ao sexo e à hostilidade, os quais eram liberados nos sonhos quando a consciência era diminuída.”
Por outro lado...
“Para os cognitivistas, o sonho não tem significado psíquico como defende os psicanalistas, sendo, apenas, um epifenômeno do sono REM, e decorria da ativação de certas estruturas cerebrais, como, por exemplo determinados neurotransmissores. Isso significaria ter que reformular toda a psicanálise, já que a teoria dos sonhos é tão fundamental para a mesma” (o que é verdadeiro).”
Isto posto, finalmente - “Durante o sono, nós podemos armazenar e reorganizar informações. Os neurônios que estão envolvidos na aprendizagem e memória repousam durante o sono, principalmente durante o sono REM (Rapid Eye Moviment ou Movimento Rápido dos Olhos, estágio em que estamos sonhando). Talvez esta seja a razão pela qual nos sentimos mentalmente ativos e descansados quando temos uma boa noite de sono, comparado ao que sentimos após ficar longas horas da noite acordados. “
Fatos são fatos.
E, indiferente deles, Christopher Nolan criou “A Origem”.
A origem do que, exatamente? Não se trata de uma questão de crença. Se trata do fundamento, de teoria...
Quando se desconstrói uma idéia, ou cria-se uma é melhor fazê-lo com esmero e coberto de ‘saídas’ e idéias interessantes, não?
Afinal, o fantástico do lúdico, ou o interessante do que é fantástico, é justamente embarcar numa viagem mágica e repleta de uma nova ‘ciência’, um novo lugar com diretrizes e uma física diferente mas crível. Não?
Matrix, X-men, Avatar, Senhor dos Anéis, Guerra nas Estrelas....
Que Nolan é reconhecido por ser autoral, não é novidade. Filmes como “Amnésia”, “O grande truque” e o último e fantástico “Batman – Cavaleiro das trevas” fazem parte de sua filmografia enxuta porém imponente. Uma sustentada em personagens fortes e dramas psicológicos. E é através dela que pode-se dizer que justamente Batman passou a ser o longa-metragem (de super-herói) mais INTERESSANTE e menos BOÇAL já criado na história do cinema. E por que? Por que justamente é RETIRADO dele toda e qualquer parte lúdica, e trazido para perto, para um lugar-comum e possível. Depois de Christopher Nolan, o filho de Eike Batista, pode se tornar um super-herói. E Bruce Wayne é um homem triste e perdido. Ok...
“A origem” é a cara de Nolan, pode-se dizer. E neste sentido, que bom! Temos aí mais um grande filme. Mas sob que ótica? Uma viagem fascinante para dentro do mundo dos sonhos, com os dois pés agarrados no chão. Ou seja, uma mistura entre o real e o fantasioso. Um palpite/teoria sobre a base e a fundação dos sonhos. E o problema - a descrição dos fatos e a explicação de um procedimento tão complexo são deixados de lado, como se fosse algo simples e desnecessário. Não há, em momento algum, explicações sobre a logística do negocio, e ‘au contraire’: há um filme verborrágico até a última instância, explicando demais, o que , justamente, NÃO PRECISA ser explicado – parecendo série de ação da AXN. A incoerência assume o enredo a todo instante, além de, como já dito acima, se tratar de uma viagem maluca para dentro da cabeça das pessoas. Viajar é fácil, convencer, meu caro, são outros 500...
É como se misturássemos e fizéssemos o encontro de Professor X com Neo. UAU! E o pior – o que poderia ser um filme ao menos metido á intelectualóide, se torna um onde só falta aparecer o Stallone, logo que todo o filme é permeado por uma perseguição, corridas contra o tempo, tiroteios e matanças sem fim.
Quando o filme é sobre um super-herói, a coerência deixa a fantasia se estabelecer na sala de cinema. George Lucas “viajou” ao criar os Jedis, mas ao menos deu a eles algum sentido, e a nós, uma explicação mais ‘léxica’ da coisa.
Alguém assistiu “Kick Ass”? O ponto está ali.
Pelo menos com um elenco excepcional, "A origem” se estabelece como um thriller psicológico, algo característico de Nolan, e que provoca certa comoção, sem sombra de dúvida.
Uma idéia formidável e mais que empolgante. Porém, frenético demais, ponderado de menos.
Não é de forma alguma um filme ruim. Pelo contrário, bom filme de ação – porém, um tanto quanto pretensioso e perdidinho, perdidinho...
Vale a ida ao cinema pela experiência. Depois, é o depois...
Esperava-se mais de Nolan, só isso.
A dica fica. (hunf!)
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