quarta-feira, 12 de maio de 2010

Tudo pode dar certo", 2010, Woody Allen









Woody Allen traz Boris (Larry David) um ex-prof de Física, sexagenário, chato, crítico e insuportavelmente inteligente – exatamente como o é, ou pelo menos se vê, o próprio diretor do filme. Boris passa a vida passeando pelo East Village em Nova York, simplesmente por ter preguiça de fazer algo muito diferente disso, e assim, acaba se tornando um típico velho ranzinza mas com espírito crítico – adora sentar em restaurantes e bares com seus amigos ‘intelectuais’ e discute política, moda, comportamento, sexo e afins, dando sempre um olhar pragmático para as coisas, ou uma explicação ‘sensacional’ e hilária sobre o ‘ser’ humano, o universo e o big bang.

Eis que o destino o presenteia com Melody (Evan Rachel Wood) - uma menina 45 anos mais nova, fugida de casa, vinda do interior do Mississippi, incrivelmente limitada, porém, lindinha e simpática. E assim, eles se casam... Esposa? Pois, é. O título “Whatever Works” sugere justamente isso – quem ‘caga’ regra acaba se deparando ao longo da vida sempre com algo inusitado, que inicialmente não preenche pré-requisto algum, mas que de certa forma – FUNCIONA.

Em outras palavras, quando é que um prof de Física cogitado para o Nobel, tido como gênio, iria se relacionar com uma ninfeta estúpida além da imaginação? Nunca. Pois, graças a Woody Allen, estas entre outras pérolas existem, acontecem o tempo todo e são apresentadas na fita. Somos apenas, segundo Allen, uma raça, que além de não ter dado certo, uma que insiste em não enxergar o que está debaixo de nossos narizes e não aceitamos aquilo que pode ou não funcionar – e assim voltamos à máxima da modernidade – a experimentação! Pode pegar ou não, pode colar ou não, pode funcionar ou não – “Whatever works..” - Coisas aparentemente impossíveis podem dar certo.

Logo no início do filme, Boris quebra a '4a parede' e anuncia: se você é um daqueles que procuram um ‘feel good’ movie saia imediatamente desta sala e vá fazer aquelas coisas que está acostumado a fazer, aquelas coisas que você acha que adora fazer e aquelas outras coisas que impuseram você à fazer, que nada tem a ver com você mas que você faz e nem sabe por quê.

Mesmo sendo um filme muito verborrágico, e que portanto, necessita de BONS atores, “Tudo pode dar certo” traz um elenco afinado e engraçado, e personagens que passam por ‘transformações’ deliciosas e previsíveis. Allen, consegue conduzir mais um filme extremamente inteligente e de humor ‘rápido’ que exige de seus atores um talento nato para comédia, espirito 'sitcom' e afins. O personagem de Larry David evidentemente se apropriou da 'persona' de Woody Allen e brinca e se esbalda com um texto rico e repleto de ideias e 'allenices'.

Quando Woody Allen 'resolve' todas as questões ditas 'humanas' - relação conjugal, sexo, a modernidade em si, entre outros aspectos - ele o faz, pelo menos, de maneira bem-humorada.

Mesmo tendo o aviso de que não é um 'feel good' movie, ele o é.

Um que permite certas pessoas refletirem sobre certezas na vida que não são tão certas assim.


Fica a dica

- para aqueles que adoram uma sátira, uma crítica e basicamente rir de si mesmos.

2 comentários:

  1. É Woody Allen em sua melhor forma, de uma era pré blockbusters. Não que a fase de Match Point, Sonho de Cassandra, Vicky Cristina Barcelona e Scoop não sejam geniais, claro que são e ninguém questiona isso, mas não são abordagens que se espera de Allen. Talvez, ou melhor com certeza, aí resida a genialidade do cara. A possibilidade de transitar entre dois mundos cinematográficos tão díspares. Quanto ao Tudo pode dar certo é Woddy Allen em sua melhor forma, fazendo caricatura de si mesmo, questionando certezas, verdades, sendo rabugento e nos fazendo encarar as pequenas neuroses e maluquices cotidianas. Com bom humor, pois de outra forma, a vida não tem o menor sentido.

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  2. Eu não gostei. Acho o Woody Allen cansativo por ser o mesmo sempre. Por que os filmes dele sempre tem que girar em torno dele mesmo? Autista-egocêntrico talvez. Com Match Point eu achei que ele tivesse percebido isso e dado um fim de vez nessa postura, mas o suspiro durou pouco...
    E eu só deixo Ferris Bueller falar comigo... os outros eu acho muita invasão.

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