terça-feira, 9 de outubro de 2012

"Os Intocáveis", 2012, de Olivier Nakache


Depois de um acidente de parapente, aristocrata fica tetraplégico e, assim, dentre várias entrevistas e diante de uma dezena de rapazes treinados, decide contratar um jovem despreparado, de um universo distante, para ser seu acompanhante.


Depois que algo tão transformador acontece a alguém, a vida passa a ter outro tom, outra cor e outra graça.
O que é sério deixa de ser ser, o que é preciso passa a ser banal e o humor se torna peça fundamental.

Philippe (François Cluzet) nunca parou para olhar o mundo ao seu redor.  Achou que com Driss (Omar Sy) apenas teria um apoio braçal, alguém que pudesse erguê-lo da cama para a cadeira e vice-versa.

Para sua surpresa, descobriu que, por trás dos músculos e da “falta de intelectualidade”, aquele rapagão trazia consigo uma sensibilidade assombrosa, bem como um olhar sobre a vida pragmático, malandro e explosivo.  Se divertir com pequenas coisas é viver.

Os Intocáveis narra a história de dois homens duros. Que se amolecem, juntos.Uma catarse mestre/discípulo às avessas, inusitada e emocionante.

É assim: quando menos esperamos, certas pessoas atravessam nossas vidas de forma avassaladora.

Como de se esperar, atuação impecável de François Cluzet (vide L’Origin, 2009).

E Omar Sy: humor que dá gosto de ver.

Não percam tempo, vão ao cinema, JÁ!!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

"Tropicália" de Marcelo Machado


"Ai, ai meu deus...?  O q foi que aconteceu...? Com a musica popular brasileira. Todos faram sério... Todos eles levam a sério... Mas esse sério q parece brincadeira..."

Dizia a letra de "Festa de Arromba" de Rita Lee.


O Tropicalismo foi acima de tudo uma grande experimentação.  Em meio ao caos cultural que se instalava no final de década de 60, Caetano, Gil, Tom Zé e Rita Lee dedicavam-se a honrar o movimento antropofágico, promovendo (ou regurgitando), então, musica internacional de qualidade, apropriando-se do que era popular e erudito, gerando, no mínimo, inovações estéticas bastante aprazíveis e inspiradoras.

Enquanto uns os criticavam pela falta de teor ligada a problemática politico-ideológico, outros 'mais espertos' viam da "na piscina, da margarina, com a carolina e movido à gasolina.." justamente a forma de crítica possivel, através da abstração com palavras e jogos linguisticos que não se preocupavam com a forma em si. 

A Tropicália, por assim dizer, entre vaias e gritos histéricos, atravessou o país com um 'visage' vago, porém, repertório invejável, inovador e para lá de divertido.

O filme de Marcelo Machado é um apanhado muito bem costurado e arranjado de vts, cenas pessoais dos artistas e gravacoes dos programas de tv da época que exibiram a febre e verve desse movimento. Os anos ali apresentados; 67, 68, 69, mostram bem o cilma que se instalava no país, bem como os caminhos que a musica popular brasileria traçaria.

Com olhares perdidos e verbo na ponta da lingua, Caetano, Gal, Gil, Rita e Tom, são apresentados ali, de forma apoteótica e o filme "Tropicália" traduz, então, de forma colorida e emblematica aquela época tão "prestigiosa" para a musica popular brasileira.

“Tropicália” imprime de forma pontual o espirito daqueles jovens artistas – antenados, vividos e ousados.


O filme deixa apenas um gosto de quero mais:  Oxi, “quedê” a segunda parte?

terça-feira, 20 de setembro de 2011

"Melancholia", 2011, Lars Von Trier



Há um ‘Grande Plano’ para a vida na Terra?

Lars Von Trier, o iconoclasta.

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É o dia do casamento de Justine (Kirsten Dunst). Ela está noiva de um rapaz muito charmoso e devoto, tem uma carreira promissora e, aparentemente, uma bela família. Sua irmã, Claire (Charlotte Gainsbourg) junto a seu marido, John (Kiefer Sutherland) prepararam-lhe uma festa de arromba para comemorar as bodas tão esperadas.

Porém, há algo de estranho no ar.

Justine encontra-se completamente perturbada e angustiada. Entre uma dança e um brinde, Justine sente a necessidade de se retirar, de sentir o ar fresco e de refletir sob a luz das estrelas...

Justine está diante de uma decisão que marcará sua vida até o fim. Escolheu, portanto, o momento perfeito para uma intensa sessão de contemplação e desespero.

Claire, por outro lado, é uma mulher serena e tranquila. Casou-se com um homem brilhante que lhe deu um filho maravilhoso.

Ainda assim, algo também a desconcerta tremendamente.

Está nos jornais – Um planeta, de alcunha Melancholia, foi descoberto detrás do sol, escondido. Sua rota, segundo os cientistas, está apontando justamente para o 3o planeta do sistema solar. A previsão é a pior: Um choque inevitável, e assim, o fim dos tempos.

Justine passa a querer 'entender' tal catástrofe.

Claire quer somente correr dela.

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Lars Von Trier e os sentidos.

Melancholia dialoga com a percepção do homem.

A visão sobre si, sobre os outros e o mundo.

E, talvez, o futuro.

Lars Von Trier, o Existencialista?

O Político?

O Sátiro? Ou Sádico?

Dias atuais, dias esses de insegurança, medo e medidas desesperadas. Os tsunamis, o aquecimento global e ainda os eternos enriquecimentos ilícitos. Irã, Israel e a Palestina. A economia americana ‘going down the drain’ e, assim, 15% dos cidadãos americanos atingindo a linha da pobreza.

No Brasil, o preço da banana ultrapassa o valor praticado em Nova York..

É, de fato, o fim dos tempos.

O que estamos fazendo com nossas vidas......?

As protagonistas, então, exibem duas formas de existir: para-si, e para-os-outros.

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Justine & Claire tem algo em comum – Ambas teriam plena capacidade de usufruir de uma vida farta, empreendedora e feliz. Porém, enquanto Claire permanece alienada - fechada numa espécie de microcosmo, isolada do mundo, de costas para todos, numa vidinha à três, tacanha e quase primitiva, Justine resolve eclodir para o mundo, resolve conceber o Grande Plano, o sentido de sua vida, e assim sendo, o sentido da vida na terra.

Uma, luta desesperadamente para salvar seu filho; aquele que dará, supostamente, continuidade a uma espécie.

A outra questiona a própria continuidade em si.

Questiona o impacto dos outros sobre si e vice-versa.

O olhar dicotômico de Lars Von Trier: Estamos todos deprimidos? Deveríamos estar? Ou este quadro maníaco que se encontram todos, inclusive Claire, é a solução..?

A salvação...?

O deprimido não vê sentido em nada.

Melancholia é quase uma ópera - De fato, o planeta caminha para um lugar obscuro.

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Assim como Tarkovsky, Lars Von Trier, é alguém que parece ter nascido para expor minuciosamente algumas experiências restritas aos homens. De fato, é visto por alguns como um sádico, alguém que faz das cenas bizarras, dos momentos dolorosos, uma via de conexão entre ficção e realidade. O cinema de Lars Von Trier tem um propósito claro – quase que desenhar o suplício, o tormento e a angústia de seus personagens, necessariamente deixando alguns pontos, nunca discutidos, muito, muito claros. Os filmes servem apenas como forma de discutir teorias de várias áreas do conhecimento através da dor destes personagens.

Dançando no Escuro, Dogville & Anticristo dispensam explicações.

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Kirsten Dunst, contemplada com o prêmio de Melhor Atriz em Cannes, construiu uma personagem profundamente deprimida com louvor. Sua falta de conexão com o mundo impressiona. A apatia, a desmotivação e a sensação do ‘Nada’ (Sartriano) deram a Justine uma coerência filosófica indescritível...

Charlotte Gainsbourg foi menos exigida em Melancholia do que em Anticristo. Contudo, sua Claire, ao desconstruir o estado de alienação total, promove cenas dramáticas de uma delicadeza ímpar. O descobrimento da vida à beira da morte - lindo.

Lars Von Trier transformou um "filme-catástrofe" num drama enxuto e contudente.

Cada plano, cada atriz e cada momento são repletos de pensamentos, dúvidas, medos e arrependimentos. O ser humano em "pure flesh n bone".

Uma câmera próxima.

Um drama psicológico intenso e invasivo.

E um texto brilhante e mais que pontual. Em cada frase uma pancada...

Não há escapatória senão pensar no que foi feito.

Simplesmente, um protesto.


Fica dica.

Nota bene - Os primeiros 35 minutos do filme são inteiramente descartáveis.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

"A Origem do Planeta dos Macacos", 2011, Rupert Wyatt


Uma série de equívocos permeiam a execução de testes que buscam uma cura para o Mal de Alzheimer, e assim, macacos usados como cobaia, passam a desenvolver uma inteligência assombrosa que os levam a querer a liberdade e a independência…

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Não existe nada mais precioso que o tempo.

É ele o responsevel em glorificar personalidades, estabelecer espiritos de uma época e, claro, eternizar grandes filmes.


Há exatos 43 anos, diante de alguns homens à beira-mar, a imponente estátua da liberdade foi descoberta enterrada até o nariz, abatida e largada para o esquecimento. Tal espetáculo, concebido por Pierre Boule (tambem autor do festejado A Ponte do Rio Kwai) faz parte de uma das maiores histórias de ficção cientifica já carregadas para o cinema. Tomado por um suspense especial e satírica inteligencia, O Planeta dos Macacos marcou uma época: não só surpreendeu a todos com seu roteiro criativo e gran-finale retumbante, como estabeleceu um novo padrão de qualidade em maquiagem, figurino e trilha musical.

O filme original conta a história de uma tripulacão de astronautas que caem num planeta estranho e peculiar num futuro bem distante. Lá encontram uma sociedade onde macacos são inteligentes, desenvolveram uma linguagem e os seres humanos ali encontrados são tratados como bestas de um zoológico.

Dada sua preciosidade, em 2001, O Planeta dos Macacos foi registrado na Livraria do Congresso Americano, no National Film Registry como um filme culturalmente, historicamente e estéticamente significativo para a história dos EUA. Um filme com 89% de aprovação entre seus espectadores e listado como um dos 500 filmes mais importantes da história do cinema.

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O tempo foi, portanto, muito duro para alguns idealizadores.

Afinal, quais outros filmes de sci-fi espantaram seus espectadores de forma tão cativante?

Poucos. Muito poucos…


E por isso, em 2011, experimentaram realizar o prólogo desta esplendida história.


Quem não tem o sonho de fazer algo grandioso?


E o resultado? Medíocre, infelizmente.

Assim como a maioria dos “sequels”, os “prequels” (tão na moda hoje em dia) pecam justamente por não terem um roteiro à altura de seus antecessores, bem como um assunto sólido e bem esclarecido. Enquanto o original é uma amarga parábola sobre a conduta do homem e a evolução da ciencia, A Origem do Planeta dos Macacos resume toda a questão de forma modesta e superficial.

Em outras palavras: esperava-se um roteiro mirabolante.

Ao contrario, se vê uma sucessão de furos e situações duras de engolir. Durante a sessão é possível enxergar, no rosto dos espectadores, uma expressão de incredulidade diante de tal festival de absurdos…

Exemplo -

Quando que num laboratório de altíssimo padrão, uma macaca tratada com um tonificante neural, que nitidamente acentua sua agressividade, pode ser realocada para uma outra jaula apenas por dois homens – sendo um deles um gordinho bunda-mole e o outro um anão…

………………….?

Como pontos positivos sobram apenas as atuaçoes de James Franco, John Lithgow (excelente como sempre) e Andy Serkis que faz o macaco César, o primeiro a desenvolver a super-inteligencia. Os três cumprem bem os papeis mesmo diante de um roteiro tacanho. Assim como os efeitos especiais – São excepcionais e rendem belas cenas de ação.

Vale a pena apenas num daqueles dias chuvoso onde uma mórbida curiosidade pode reinar.


A dica não fica.

-> Trecho de uma entrevista com Andy Sarkis segue abaixo -

The great thing about the original film is that it was an upside down world where the humans were slaves and the apes were their overloads. You play the character that’s going to usher that world in, so how do you sort of keep the sympathy of the character whose destiny is subjugate every single person sitting in this tent?

AS: That’s a really good question and I think the thing is we’re playing him…you do see his journey from being, how he responds to brutalization and witnessing brutalization and bullying and all these shocking things because he’s brought up as an innocent. He’s quite innocent and you see his journey from innocence into moments of realizing that actually it can be a cruel world out there. And he has been brought up because Will, James Franco’s character and John Lithgow’s character, they’re incredibly humanitarian. He’s been brought up in a loved family. In a way you’ve got to forget that he’s a chimp, you treat him as a child whose been brought up in a loving environment then suddenly being subjected to brutalization and seeing, when they go to the Ape Sanctuary, it could be any institution which has bullying and mistreatment and some kind of person who is dominating and subjugating other people. So you will feel sympathy because you will see how this young mind is witnessing brutalization I guess.

sábado, 10 de setembro de 2011

"Amor à toda prova", 2011, John Requa & Glenn Ficarra


A comédia romântica mais sensata, própria e atraente dos últimos tempos e, certamente, desta temporada.

Uma brilhante interpretação sobre o que é o amor.

Cal (Steve Carrell) é um típico quarentão acomodado. Casou-se com sua 1a namorada e passou os últimos 25 anos enclausurado dentro de casa e sem grandes ambições. Não tem, portanto, a menor idéia de como seria uma vida mais divertida. Emily (Julianne Moore), não só acredita que sua vida está chata, parada e sem emoção como vê Cal como um senhor bunda-mole.

Emily decide, então, pedir o divórcio.

A noticia abala radicalmente a moral de seu filho, Robbie (Jonah Bobo). Pertinentemente, Robbie passa por um desafio amoroso e espelhava-se na suposta relação funcional de seus pais. Robbie, como todo moleque safado, só quer saber de Jessica (Analeih Tipton) a babá de sua irmã caçula. Porém, Jessica só quer saber de uma coisa: está completamente apaixonada por um homem que poderia ser seu pai – justamente, o simpático e letárgico papai de Robbie, Cal.

Cal, deprimido e rancoroso, passa a alcoolizar-se todos os dias num agitado bar da cidade. Eis que, coincidentemente, frequenta este mesmo lugar um formoso rapaz, Jacob (Ryan Gosling) a própria antítese de Cal. Jacob é, como os americanos gostam de dizer, um “Womanizer” – um homem que somente procura breves e várias relações sexuais e que tem ojeriza a relacionamentos. No brasil, o velho e bom “galinha”.

Numa agradável noite, Jacob, percebe entre um flerte e outro, a presença quase mórbida de Cal, e o chama para bater um papo. Por mais surreal e inusitado que pareça, não só Cal lhe dá ouvidos, como Jacob o convence de contratá-lo como seu “personal sexual-stylist”. Jacob promete, então, uma virada inesquecível na vida de Cal – irá transformá-lo num homem ativo, interessante, charmoso e conquistador. Garante que, após esta mudança, sua mulher irá correr para os seus braços novamente.


Contudo, erotizar todas as moças da cidade, inclusive a professora de literatura de Robbie, dia e noite, até ganhar confiança e sua hombridade de volta, não é exatamente o que Cal estava esperando acontecer nesta altura de sua vida...

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O que torna a história de Dan Fogelman tão fascinante?

Em primeiro lugar pela comicidade. Não há no texto uma piada fora do lugar, um momento desagradável ou constrangedor. Pelo contrário, o drama vivido por Cal, torna-se cada vez mais crível e envolvente onde o humor vem apenas para pontuar algum absurdo ou outro que a vida nos prega.

Aliás, o aspecto quase burlesco ou de "farsa" que o deixa realmente inteligente. Rir de temas dramáticos, coisas do cotidiano, situacóes e temas convencionais, e enfim, este olhar critico sobre o comportamento atual, é o que deixa a comédia verdadeiramente rica.

O filme dirigido por John Requa & Glenn Ficarra tem como mérito principal não dar lição de moral, nem induzir sentimentos ou frases alienadas daquelas a que estamos acostumados.

Ao contrário, conduz um simpático libelo a favor do que é realmente importante no que diz respeito a esse sentimento tão complicado.

A relação.

"A magnificência de um relacionamento sagrado se despedaça nos recifes dos conflitos egocêntricos triviais."

Emily não sabe dizer a Cal o que a deixa realmente viva. Na verdade nem ela sabe. Afinal, o que ela tanto procura num homem....?

Cal, ao perceber a facilidade que é “conquistar” uma mulher e levá-la para cama, nota que deixou de conquistar, todos os dias, a mulher mais importante de sua vida. Em que momento acabam as conquistas...?

Jacob vive uma eterna negação. De tão acostumado aos fáceis prazeres da carne, acabou deixando de lado alguns outros prazeres mais saborosos. “Conhecer" - ter perfeito conhecimento de alguem, dos méritos ou caráter de uma outra pessoa, é algo que o rapaz nunca viveu, e portanto, que não tem a mais pálida idéia do que seja.

Jessica e Robbie são perfeitamente saudáveis – jovens e apaixonados – aprenderão com a rejeição que amar tem percalços a serem superados.

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Steve Carrell entregou a melhor performance de sua carreira. Não só arrasa como comediante como surpreende em outra seara - pontua o texto com primor e exibe ali qualidades de um ator dramático de primeira linha.

Julianne Moore, como visto em The kids are all right, acerta mais uma vez. Deu o apoio perfeito a Carrell, conferindo a Emily esse estado inseguro e indeciso. O equilibrio entre o drama e a comédia acontece em torno de Julianne Moore, uma atriz madura, atraente e iluminada. Afinal, um casal delicioso de se ver. E uma história fantástica para se torcer...

E Ryan Gosling: ator cada vez mais seguro e espontâneo, que exibe um Don Juan muito divertido.

Conseguir reunir atores primorosos, um texto inteligente e impagável é algo raro.

Atingir tanto êxito ao dialogar sobre algo tão batido e elementar quanto o amor, e de forma tão pura e usual, é algo extraordinário.

A responsabilidade está na mão de quem ama e quer ser amado. Tão simples e tão complicado...

Glenn Ficarra e John Requa acertaram em cheio. O amor é algo arrebatador e indescritível...

Um filme que oscila entretenimento e conteúdo com perfeição.

O sonho de qualquer cineasta. Um orgulho para o cinema americano.

FicaDica.

domingo, 4 de setembro de 2011

"Árvore da Vida", 2011, Terrence Malick


Este ano o filme vencedor do Festival de Cannes obteve um acolhimento sui generis. De um lado, ovações, gritos e uma plateia surpreendida por uma sucessão de imagens, figuras e metáforas impressionantes. Do outro, rostos pasmos com a ousadia de um diretor, que ao experimentar e transcender, criou um filme de complicada estrutura, e que não conquistou os mais conservadores. Sendo assim, uma falta de empatia latente ecoou naquela sala de projeção.

Terrence Malick, o autor da proeza, é conhecido por aparecer pouco na mídia, por fugir de eventos sociais e até em pedir para que sua imagem não seja usada em material promocional. Característica que torna portanto seus roteiros mais enigmáticos. Formado em filosofia, e mais precisamente, sob a “tutela” dos ensinamentos de Heidegger, é natural que se entenda o ponto fundamentalmente existencialista de seus filmes.

Em linhas breves, o movimento existencialista preconiza que a visão do homem e o sentido de sua vida, se dá a partir de suas próprias experiências e do subjetivo. Que o homem não foi criado para uma finalidade assim como os outros objetos, e que ele se faz em sua própria existência. A experiência, assim, precede a essência. Finalmente, que justamente esta falta de sentido e direção ‘correta’, que dá a liberdade ao homem, é o que causa ironicamente sua ansiedade, sofrimento e desespero, e que o guiará até a morte, de onde não há saída. Segundo Sartre, somos um eterno devir, de ideais e ações, e o Nada aparece como a grande sombra ou dívida da existência humana.

Terrence Malick faz uso dessa premissa em pelo menos alguns de seus filmes. Badlands, seu 1o longa-metragem, discute justamente o que o homem pode fazer com sua liberdade. Além da linha Vermelha aborda o subjetivo, o psicológico, as relações e suas consequências, e assim tem apenas como pano de fundo, o cenário da guerra.

Malick sublinha, portanto, exatamente o que caracteriza o ser humano – a capacidade que temos de nos interrogar sobre o sentido da vida. E o que é O Grande Plano? Sua tese é tentar descobrir como o homem irá fazer para saltar de sua condição cotidiana para atingir um verdadeiro “eu”.

Desta forma, fica clara a vontade de Malick em realizar um filme que explore as origens da vida na terra. Uma fábula que palpita uma resposta através da história de uma família e suas relações com o amor, a morte, reconciliações e o sofrimento. Uma história culturalmente e historicamente significante.

Divago.

A Árvore da Vida será, portanto, a única crítica deste blog a não ganhar uma resenha.

Pois não é necessária.

Terrence Malick é um homem altivo.

Constituiu tanto tecnicamente como filosoficamente uma obra única e singular.

Comprovou que fazer cinema vai além de vãs filosofias (e métodos) e que experimentar é algo sinistramente enriquecedor.

Tentar compreender a vida, é senão a maior, uma das mais interessantes questões que nos diz respeito.

Uma experiência cinematográfica inesquecível.

E nesta afirmação não há juízo de valor.

Fica a dica.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

"Capitão América", 2011, Joe Johnston


Estamos durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha ostenta uma força avassaladora liderada pelo demente Caveira Vermelha (Johan Schmidt) e os Aliados se vêem à beira de um desastre iminente. Os EUA, abalados e inquietos, procuram uma estratégia, um trunfo, mas nada parece adiantar. Até que aparece um certo cientista com uma daquelas idéias malucas… Um homem que inventou uma pocão mágica que tornará qualquer homem, qualquer soldado, imbátivel. Porém, não basta força física em si, e sim, brio e distinção, por incrivel que pareça…

Paralelamente, em meio ao caos, surge um moço, Steve Rogers (Chris Evans) - garoto franzino, mirrado e abusado – que nitidamente tem nada a oferecer, mas que aspira ardentemente a ser recrutado pelo exército Americano. Junto à ele, centenas de rapazes altos, fortes e másculos (rs) participam de uma avaliação dura, De cara, Steve é logo rejeitado, mas aos poucos sua índole passa a chamar a atenção dos generais mais atentos que logo vêem no rapaz a chave para esse complicado experimento - A aplicação do soro do “super soldado”!

O resto é sabido:

Rapaz toma o soro, a fórmula se perde, ele passa a ser o único super soldado do exército e a Guerra parece ter um fim terrível. Porém, somente até que Capitão América se lança com seu escudo feito de vibranium em busca do sanguinário Caveira Vermelha.

Capitão América assim como o Super-Homem foram criados com um propósito: Inebriar as mentes de jovens com idéias sobre o bem e o mal, justiça, coragem e um espírito nacionalista. Desta forma, tanto o franzino Rogers como o E.T mais famoso do mundo, tem hoje, como “complicômetro”, a dificuldade de terem suas histórias adaptadas às telas dos cinemas sem parecerem moralistas demais, repetitivas, óbvias, chatas e nada criativas.

Afinal, um homem praticamente invulnerável, com uma personalidade inabálavel e um sentido na vida indiscutível é mais ficcional do que, até, um Kryptoniano.

Entende-se que quando heróis se aproximam das pessoas comuns, dividem dificuldades em comum e mostram seu lado podre, estes ganham maior notoriedade e são capazes de capturar verdadeira atenção de espectadores – Vide Batman, Os X-men, Watchmen e assim por diante...

A invulnerabilidade de Kal-El cansou. Não é mais hype ser o máximo. Enfim, coisas da modernidade. Do mesmo jeito, a benevolência de Steve Rogers que faz qualquer um bufar irritado na cadeira.

Logo, o filme Capitão América, e sua história – que retrata e reforça todas esses clichés - traz uma sessão nostálgica apenas simpática; uma que passa longe de dar uma repaginada no heroi, deixando ali duas horas de mamão com açucar e muito lenga-lenga.

Se trata de um roteiro muito simples, sem grandes questões e um Capitão América ainda “engatinhante”. Um filme de ação decepcionante.

Direção de Joe Johnston (O Lobisomem, Jurassic Park III, Jumanji e Querida, encolhi as crianças) é regular, sem grandes perturbaçoes; assim como as atuações – esforçadas em trazer leveza e humor mas que morrem exaustos na praia.

Ter em mente que se trata de um super-herói, que é um filme para criança não é um argumento dos mais toleráveis.

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O problema, talvez, seja a tal da expectativa -

Existe um teoria que diz o seguinte – uma pessoa só aplica esforço se há uma chance de alcançar um determinado objetivo. Alcançar uma boa performance pode fazer com que aconteça determinado resultado. A performance deve ser alcançável pelo sujeito em questão. Objetivos inalcançáveis são desmotivadores. De acordo com a teoria da expectativa, a quantidade de esforço que uma pessoa exerce em uma tarefa específica depende da expectativa que ela tem de seu resultado.

Isso seria suficiente para “explicar” a origem do Capitão América.

Steve Rogers “deu certo” mesmo sendo aparentemente a própria antítese de um herói -deu certo por que simplesmente vislumbrou tal possibilidade e "fez por merecer" o título de herói nacional. Ou seja, quase um quadro esquizofrênico.

Pena que essa teoria não funciona para nós, reles mortais.

Afinal, a expectativa seria a de que este filme, que antecede Os Vingadores, iria emplacar seu maior herói com louvor e glória...


A dica? A dica fez a curva em Albuquerque e foi para a Alemanha ressucitar o Caveira Vermelha.